Com a popularidade em
queda, ameaçado por pedidos de impeachment e vendo o governo enfraquecido pelas
investigações da CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro recorre cada vez
mais a “velha política” — tão criticada por ele durante a
campanha ao Planalto. O mandatário abrirá outras frentes no Executivo para
domínio do Centrão, de olho no apoio do Congresso para manter a
governabilidade. A reorganização anunciada por Bolsonaro fará com que o Centrão assuma o comando das duas pastas palacianas que mais dialogam com o Parlamento (Foto: reprodução/Youtube)
O
presidente anunciou ontem (21/07) que reformulará a Esplanada dos Ministérios e
deve ampliar a quantidade de pastas. Na próxima semana, possivelmente vai
formalizar a recriação do Ministério do Trabalho, atualmente sob o guarda-chuva
do Ministério da Economia, além de fazer alterações na composição da Casa Civil
e da Secretaria-Geral da Presidência.
Um
dos mais próximos aliados de Bolsonaro no Congresso, o senador Ciro Nogueira
(PP-PI) já recebeu o convite para fazer parte do governo. O presidente nacional
do PP (principal partido do Centrão) deve assumir a Casa Civil. Luiz Eduardo
Ramos, atual ministro da pasta, será remanejado para a Secretaria-Geral, de
onde o ministro Onyx Lorenzoni sairá para chefiar o “novo” ministério.
Uma
das dúvidas pendentes é sobre qual será o nome da pasta. Há chances de o
ministério ser batizado de Emprego e Previdência, visto que o governo estuda
retirar da Economia não apenas as atribuições relativas a trabalho. Dessa
forma, o chefe da Secretaria da Previdência, Bruno Bianco, seria realocado para
algum cargo executivo no governo.
“Estamos
trabalhando uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira,
para ser mais preciso, e para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, disse Bolsonaro à
rádio Jovem Pan. “Temos uma enorme responsabilidade. Sabia que o
trabalho não ia ser fácil, mas realmente é muito difícil. Não recomendo essa
cadeira para os meus amigos.”
O
senador está em viagem, mas vai antecipar o retorno a Brasília para a próxima
segunda-feira. Ele até já comunicou ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco
(DEM-MG), a intenção de aceitar o convite.
A
reorganização a ser promovida por Bolsonaro fará com que o Centrão assuma o
comando das duas pastas palacianas que mais dialogam com o Parlamento. Em março
deste ano, o presidente já tinha escolhido a deputada federal licenciada Flávia
Arruda (PL-DF) para liderar a Secretaria de Governo, que controla a articulação
com o Congresso. A Casa Civil, por sua vez, é considerada o ministério mais
importante e o “coração” do Executivo, pois por ela
passam todas as decisões e pautas relacionadas ao Planalto.
Agora,
com Ciro Nogueira na pasta, Bolsonaro dará mais liberdade para o Centrão
indicar quais devem ser as prioridades do governo, em especial, no que diz
respeito ao Orçamento. O fato de o senador ser considerado uma pessoa conciliadora
e que mantém um bom relacionamento com os demais parlamentares agrada aos
partidos de centro que estão na base aliada do chefe do Executivo.
Ao
abrir mais espaço para o Centrão, Bolsonaro busca manter a governabilidade até
as eleições do ano que vem. Ao possibilitar que parlamentares indiquem recursos
para obras e investimentos em seus redutos eleitorais, Ciro Nogueira tentará
ampliar o grupo de sustentação do presidente no Parlamento.
Como
ele será o primeiro senador a assumir um ministério nesta gestão, quer diminuir
a resistência que existe no Senado contra o mandatário. A Casa legislativa foi
a principal responsável pela desidratação da imagem de Bolsonaro nos últimos
meses, muito por conta da CPI da Covid, que investiga, entre outros temas, casos
de corrupção dentro do Executivo em meio à pandemia.
Em
outra frente, diante dos constantes pedidos da oposição para que a Câmara
comece a analisar pedidos de impeachment contra Bolsonaro, Nogueira trabalhará
para mitigar qualquer risco de as solicitações prosperarem. Em conversas com
aliados, o senador afirmou querer ser uma “ponte” entre
o Planalto e o Congresso. Além disso, ele tem, no comando da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL).
A
chegada de o senador ao governo ainda deve colocar um fim na busca de Bolsonaro
por um partido para disputar as eleições do ano que vem. Depois da frustração
com o Patriota, ele pode fechar com o PP e voltar à legenda, em que esteve
filiado entre 2004 e 2015. Por mais que alguns integrantes do partido resistam
à ideia, a participação do presidente da sigla no governo pode amenizar o
cenário e viabilizar o retorno do chefe do Executivo.
Na
campanha de 2018, o então candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, havia
prometido não ceder a pressões políticas por cargos nem lotear a equipe. Eleito
com um discurso de enxugamento da máquina pública, o mandatário também
anunciava uma Esplanada com apenas 15 ministérios. Com a pasta do Trabalho, ele
terá 24, nove a mais do que o prometido. Trabalho e Emprego será o segundo
ministério recriado por Bolsonaro para acomodar a base aliada. No ano passado,
o presidente havia relançado o Ministério das Comunicações para nomear o
deputado Fábio Faria (PSD-RN), que está de malas prontas para o Progressistas.
Desde
o início do governo, Onyx Lorenzoni já mudou três vezes de ministério: foi
chefe da Casa Civil, comandou a pasta de Cidadania e está à frente da
Secretaria-Geral da Presidência. Dirigentes do Centrão avaliam que o ministro
só trabalha para construir a candidatura ao governo do Rio Grande do Sul, em
2022, e não ajuda na articulação.
Além
disso, a percepção desses aliados é de que a forma como ele atacou o deputado
Luis Miranda (DEM-DF) — que acusou o governo de acobertar um esquema de
corrupção na compra da vacina Covaxin — provocou efeito bumerangue e acabou
agravando a situação de Bolsonaro na crise.
Lorenzoni
tem muitos desafetos no Centrão e não são poucos os que dizem que ele tem
exposto o governo a situações vexatórias. Em março, por exemplo, disse que
lockdown não funciona para frear a covid-19 porque insetos podem transportar o
vírus.
Por
sua vez, o general Luiz Eduardo Ramos vem sendo apontado por governistas como o
ministro que deu informações erradas a Bolsonaro sobre a votação do fundo
eleitoral de R$ 5,7 bilhões, na semana passada, fazendo com que o mandatário
acusasse o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), de “atropelar
o regimento” na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
o chamasse de “insignificante”.
Depois
das críticas, Marcelo Ramos, que, publicamente, mantinha posição neutra em
relação ao Palácio do Planalto, se declarou na oposição e agora está analisando
os mais de 100 pedidos de impeachment contra o chefe do Planalto.
Com
informações portal Correio Braziliense
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