Após decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Kassio Nunes Marques de liberar a realização de cultos, missas e demais celebrações religiosas no país em meio às medidas restritivas para a Covid-19, o Santuário Nacional de Aparecida (SP) decidiu abrir ao público neste domingo (4) de Páscoa, mas a movimentação de fiéis na primeira missa do dia foi baixa.
A abertura da programação ao público foi retomada após decisão do ministro do STF Kassio Nunes.
Reprodução
A decisão foi publicada sábado (3), após a
Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos) entrar com uma ADPF (Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental) na Corte, e impede estados, Distrito
Federal e municípios de editar ou exigir o cumprimento de decretos ou atos que
proíbam completamente celebrações religiosas presenciais por motivos ligados à
prevenção da Covid-19. Porém, estabelece protocolos sanitários de prevenção
relativos à limitação de presença (no máximo, 25% da capacidade).
A decisão de dom Orlando Brandes, arcebispo
de Aparecida, foi a de que as três missas de hoje no santuário, às 8h, 12h e
18h, serão celebradas com a presença de fiéis, seguindo o que determina a fase
vermelha do Plano São Paulo.
Com capacidade para abrigar 35 mil pessoas, a
basílica receberá no máximo mil pessoas em cada uma das três missas da Páscoa.
A movimentação, porém, foi muito pequena na
primeira celebração do dia, com 154 fiéis na igreja em seu início. Quinze
minutos antes da primeira missa, celebrada pelo próprio dom Orlando, havia 20
pessoas sentadas nos bancos.
Uma data como a Páscoa, historicamente, fazia
com que Aparecida reunisse em média 100 mil pessoas.
Como a decisão do ministro do STF ocorreu
durante o feriado prolongado da Páscoa, a expectativa para o dia é reunir
basicamente fiéis da cidade nas missas, já que a decisão do arcebispo foi
permitir a celebração presencial em todas as igrejas da Arquidiocese de
Aparecida, composta também por outras quatro cidades -Guaratinguetá, Lagoinha,
Roseira e Potim, com 18 paróquias no total.
Apesar de as missas não serem realizadas com
público até este domingo, a basílica esteve aberta todos os dias para
visitação, inclusive da imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida,
mas até a decisão do ministro do STF ela era fechada para as celebrações das
missas.
A decisão de reabrir a basílica de Aparecida
ao público era esperada pela arquidiocese com uma possível saída da região da
fase emergencial do Plano São Paulo para a fase vermelha, o que permitiria
receber até mil fiéis na igreja.
A manutenção do estado na fase emergencial,
porém, impediu que o plano se concretizasse e toda a programação de missas do
Santuário Nacional foi definida para ocorrer sem a presença de público, com
transmissão pelas redes sociais, aplicativo e pela TV Aparecida.
Por conta dos riscos da pandemia, ritos que
celebram a paixão, morte e ressurreição de Cristo também foram modificados.
Na quinta-feira (1), por exemplo, o ritual do
lava-pés não foi realizado para evitar o contato físico. Já na Sexta-feira
Santa (2), o gesto do beijo na cruz, dado no crucifixo durante a cerimônia, foi
feito apenas por dom Orlando, sem ser repetido pelos demais celebrantes.
A pandemia fez com que a Aparecida deixasse
de receber R$ 1 bilhão em um ano, segundo o prefeito Luiz de Siqueira
(Podemos), que diz que o município está "totalmente quebrado".
O principal argumento é o de que 95% da
economia tem elo com o turismo religioso, que antes da pandemia atraía cerca de
12 milhões de pessoas à cidade por ano.
"Hotéis, restaurantes, lojas, demitiram
todo mundo e estão fechados. As fabriquetas de artigos religiosos estão
paradas. Uma cidade que recebia até 170 mil pessoas aos domingos, alegre, hoje
é uma cidade triste, tudo parado", disse.
A decisão de Kassio Nunes exige também
medidas de distanciamento social (com ocupação de forma espaçada entre os
assentos e modo alternado entre as fileiras de cadeiras ou bancos) e
observância de que o espaço seja arejado (com janelas e portas abertas, sempre
que possível).
Exige também o uso de máscaras,
disponibilização de álcool em gel nas entradas dos templos e aferição de
temperatura. "Reconheço que o momento é de cautela, ante o contexto
pandêmico que vivenciamos. Ainda assim, e justamente por vivermos em momentos tão
difíceis, mais se faz necessário reconhecer a essencialidade da atividade
religiosa, responsável, entre outras funções, por conferir acolhimento e
conforto espiritual", disse o ministro.
O ministro também defendeu, em sua decisão,
"o caráter filantrópico promovido por tais instituições". Ele afirmou
que muitas delas fornecem alimentação e abrigo à população mais carente
"cuja necessidade mais se destaca no atual contexto" e "é
elemento essencial para enfrentarmos os reflexos da pandemia".
Em seu pedido vitorioso, a associação de
juristas evangélicos alegou que decretos estaduais e municipais que impediram
celebrações deste caráter feriram o direito fundamental à liberdade religiosa e
o princípio da laicidade estatal.
Padre Júlio Lancelotti, da Pastoral de Rua de
São Paulo, indaga de quem partiu tal pedido ao STF. "Só pode ser de alguém
que coloca o lucro acima da vida".
Ao ser informado de que o ministro Kassio
acatou o pedido de um grupo de juristas evangélicos, afirmou: "Será que
esses advogados pediram também a liberação imediata do auxílio emergencial?
Será que eles pediram também a vacinação em massa da população?".
FOLHAPRESS
0 Comentários