A situação da pandemia de Covid-19 no Brasil “é uma tragédia” e o momento é “muito duro para os brasileiros”, disse nesta sexta (26) o diretor-executivo da OMS, Michael Ryan. O país registou na quinta número recorde de óbitos pela doença em 24 horas: 1.582 brasileiros morreram, no pior momento da pandemia.
A OMS tem repetido que é fundamental conter a transmissão do Sars-Cov-2 com políticas públicas.
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Ao responder a uma pergunta sobre se variantes mais
contagiosas do coronavírus poderiam explicar a nova piora no país, como afirmou
o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, Ryan disse que a contribuição dos novos
mutantes “ainda não é totalmente conhecida”, mas vários países já mostraram
que, com as medidas corretas, é possível contê-las.
A OMS tem repetido que é fundamental conter a
transmissão do Sars-Cov-2 com políticas públicas e atitudes individuais para
evitar colapso dos hospitais e o aumento de mortes desnecessárias.
“Aumentar o número de leitos é importante e
necessário, mas não será suficiente se os casos continuarem subindo. Já vimos
isso no passado. Se o sistema não está dando conta agora, não vai dar conta
depois se a pressão continuar subindo, sem ser contida”, afirmou. De acordo com
Ryan, “muitas partes do Brasil apresentam transmissão comunitária há muito
tempo, e está sendo muito duro para o país e para os brasileiros”.
Sem citar especificamente o governo federal, Ryan
afirmou que há vários estados brasileiros tentando controlar a pandemia com as
medidas corretas e que as tendências variam muito de uma região para outra do
país. Também elogiou o sistema público de saúde e os cientistas do Brasil.
O especialista em emergências da OMS afirmou que
não faz sentido deixar de combater o contágio do coronavírus com o argumento de
que isso prejudica a economia.
“É fácil estar aqui sentado e dizer o que deveria
fazer um país grande como o Brasil, com várias gerações convivendo numa mesma
casa, com regiões pobres e carência. Mas a Nigéria, que também é um país muito
populoso, com enormes cidades, precisou tomar decisões difíceis. E, sem deixar
de reconhecer os impactos sociais e econômicos, conseguiu o equilíbrio entre os
custos econômicos e de saúde e adotou medidas persistentes e coerentes”,
afirmou.
O país africano tem uma população quase tão grande
quanto a brasileira (196 milhões de habitantes contra 210 milhões,
respectivamente) e um PIB per capita que não chega a um terço do brasileiro.
Mas o número proporcional de novos casos de Covid-19 é um centésimo do
brasileiro: 3 novos casos por milhão por dia na Nigéria, 300 no Brasil.
As novas mortes diárias por habitante são de 7,3/1
milhão no Brasil e menos de 0,1/1 milhão na Nigéria. Desde o começo da
pandemia, houve 1.183 mortes/milhão de brasileiros. Na Nigéria, 9,2 doentes de
Covid morreram para cada 1 milhão de habitantes. “É uma tragédia para o Brasil
que ele esteja enfrentando isso de novo; é pelo menos a quarta vez nessa
pandemia”, afirmou Ryan.
De acordo com o diretor-executivo, não há
estratégia defensável que não seja impedir a transmissão: “O vírus ainda está
cheio de energia e, se não conseguirmos contê-lo, quem vai pagar o preço são as
comunidades”.
FOLHAPRESS
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