A realidade do isolamento social rígido, vivido de maio a julho durante o período de lockdown em diferentes cidades do Ceará, foi decisivo para impedir um registro ainda mais elevado de mortes provocadas pela Covid-19 no estado. É o que afirma o neurocientista Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste. Ele explica que se, por um lado, a marca de mais de 10 mil óbitos poderia ser ainda maior, por outro, há medidas que poderiam ter amenizado esse impacto.
“Primeiro, se não tivesse sido feito o lockdown em Fortaleza, o número
seria muito maior. Segundo, se nós tivéssemos tido o apoio do governo federal
para fechar os aeroportos internacionais, inclusive o de Fortaleza, no começo
de março, e se os Estados tivessem o apoio federal para instituir essas medidas
de maneira um pouco mais longa, nós possivelmente teríamos muito menos mortes
no Brasil como um todo, e menos mortes em cada um dos Estados”, declara.
Nicolelis avalia que, passada a primeira onda do coronavírus, é deixada
uma mensagem clara para gestores públicos, tanto no âmbito federal, quanto
estadual e municipal. “A ciência não pode ser usada só quando ela é conveniente
para expediência política. Tem que ser usada continuamente, mesmo quando
preconiza medidas que são, em teoria, impopulares”, pondera o neurocientista.
Ele aponta, ainda, que o lockdown foi eficaz no Brasil, citando como
exemplos Fortaleza, São Luís (MA), João Pessoa (PB) e Recife (PE). Ao lembrar
as vezes em que o Comitê recomendou o isolamento social mais rígido para o
Nordeste como forma de conter a disseminação do vírus, o coordenador ressalta
que há provas da efetividade dessa medida.
“Uma das únicas capitais que não seguiram a recomendação, que foi
Salvador, está pagando o preço até hoje, em número de casos e mortes. A
primeira coisa que nós precisaríamos era liderança política que disseminasse a
mensagem pela população de que, na falta de uma vacina e outras terapias
medicamentosas, essa é a única coisa que nós podemos fazer pra evitar o colapso
do sistema de saúde”.
Uma das prioridades no momento, segundo Nicolelis, é ajudar a população
a não apenas entender o lockdown, mas sobreviver a ele. Também seria crucial o
suporte por parte do governo federal, de forma a permitir que a população se
mantenha em casa por duas ou três semanas, pelo menos. Além disso, é necessário
um esforço comunitário e coletivo por parte da sociedade.
“O Brasil é extremamente hiperconectado, pela malha rodoviária e
aeroviária. Então o lockdown é um aliado, e não o inimigo. É um dos poucos
aliados que funciona de verdade, com comprovação mundial. E é uma coisa
temporária, não para sempre”, defende.
Foto: Divulgação
Fonte: Portal G1 CE
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