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"É como um afogamento": especialistas falam sobre falta de oxigênio para pacientes da Covid

O desabastecimento de oxigênio nos hospitais de Manaus, nesta semana, gerou um dos cenários mais desesperadores desde o início da pandemia da Covid-19 no Brasil: pacientes estão morrendo, bebês e grávidas precisarão ser transferidos para outros Estados e parentes de internados tiveram que comprar cilindros por conta própria. Segundo especialistas entrevistados pela coluna Bem-Estar, a falta de oxigênio para os pacientes da Covid é semelhante a um “afogamento”. 

Falta de oxigênio agrava situação mesmo de pacientes que não estão intubados.

Tânia Rêgo/Agência Brasi

De acordo com os especialistas ouvidos pela Bem-Estar, o oxigênio é essencial para a sobrevivência humana. Sem ele, as células do corpo não funcionam, e o organismo todo padece.  

"Poucos instantes depois da falta de oxigênio, de o oxigênio não chegar nas células, a gente perde a função delas. Na prática, o que você tem é uma falência de todos os órgãos", explica André Nathan, médico pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, entrevistado pela coluna. 

"É como um afogamento, matar um indivíduo com um travesseiro na cara, via enforcamento. A pessoa morre por falta de oxigênio", compara o médico.

IMPORT NCIA DO OXIGÊNIO NO TRATAMENTO DA COVID-19

Ainda segundo os especialistas, o coronavírus Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, gera uma inflamação no pulmão. Isso faz com que ele não consiga mais transferir de forma eficaz o oxigênio que a pessoa respira para dentro do sangue e das células.

Quando isso acontece, a saturação de oxigênio – a concentração dele no sangue – começa a cair. O percentual normal de saturação fica entre 95% e 99%. Quando a pessoa não respira direito, esse índice começa a cair. A intubação, assim como outros métodos de aporte de oxigênio, ajudam a recuperar a saturação de oxigênio no sangue – por isso são tão importantes para pacientes com Covid.

"O aparelho de ventilação mantém as funções vitais enquanto a doença vai ser eliminada pelo sistema imunológico do paciente. Quem elimina o vírus são os anticorpos do paciente. Como ele precisa de até 15 dias para fazer isso, eu preciso manter o paciente sob esse oxigênio até 15 dias", explica Carlos Carvalho, diretor da divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da USP e responsável pela UTI respiratória do hospital.

"Se falta oxigênio para a máquina, falta oxigênio para o pulmão da pessoa. Não tendo oxigênio, as células não vão produzir energia e elas vão morrer. As células de todos os órgãos vitais vão morrer e o paciente vai a óbito", continua Carvalho.

O médico anestesiologista André Saijo, que trabalhou em UTIs com pacientes de Covid em São Paulo na primeira fase da pandemia, explica que as doenças pulmonares em que a oxigenação do sangue é diminuída – por exemplo, a Covid – podem causar ou não uma queda de saturação.

"A saturação de oxigênio medida pelo oxímetro de pulso é um valor indireto da quantidade de oxigênio que o sangue está levando do pulmão para os órgãos. Por exemplo: se o valor vier 95%, quer dizer que as hemácias estão conseguindo carregar oxigênio com 95% da sua capacidade máxima de carregamento. Uma saturação baixa infere que as hemácias não estão carregando oxigênio de forma adequada, o que pode ou não gerar problemas pro corpo", esclarece Saijo.

"A primeira resposta do corpo a uma queda de saturação é aumentar a frequência respiratória. Se, mesmo assim, não houver melhora da oxigenação, as inspirações ficam mais profundas com a utilização de outros músculos do tórax, o que conseguimos visualizar como o desconforto respiratório", diz o anestesiologista.

"A longo prazo – é difícil quantificar porque depende de cada pessoa e cada doença –, isso evolui pro quadro de fadiga respiratória, que é quando a pessoa não tem mais força pra fazer as inspirações da forma necessária para manter uma oxigenação do sangue satisfatória. A maioria das intubações que acontecem pela Covid são devido a essa fadiga respiratória", explica o médico.

Em um ambiente normal, a porcentagem de oxigênio que existe no ar e entra no pulmão é de 21%. Isso significa dizer que, a cada 100 litros de ar que uma pessoa normal respira, 21 litros são de oxigênio e, o resto, de outros gases.

Quanto mais grave for a incidência respiratória, maior a concentração de oxigênio o médico tem que administrar.

"Uma forma de melhorar o desconforto respiratório de uma pessoa é oferecer uma quantidade maior que esses 21% de oxigênio que tem no ar ambiente, facilitando então o abastecimento das hemácias no pulmão e, consequentemente, aumentando a saturação. Existem diversas formas de oferecer oxigênio, que vão desde o catéter nasal até a intubação", completa André Saijo.

QUESTÃO DE VIDA OU MORTE'

O médico Valmir Crestani Filho, também do Hospital das Clínicas da USP, descreve a falta de oxigênio em Manaus como uma "catástrofe".

"Se você precisa ser intubado, a sua mortalidade é entre 30% e 40%. Se você apenas precisa do oxigênio, naquele cateter que fica no nariz, ou se você usa uma máscara, a sua mortalidade é entre 20% e 25%", explica.

"Só que o oxigênio nesses pacientes não é um tratamento a mais, como é o corticoide, e como é a anticoagulação profilática. Ele é uma coisa de vida ou morte", frisa Crestani Filho. 

Com informações da coluna Bem-Estar


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