No dia 15 deste mês, 5.570 municípios
escolherão prefeitos e vereadores.
“A maioria esmagadora dos municípios não tem
ainda previsão de volta às aulas presenciais, não sabe dizer se volta neste ano
ou no ano que vem. Muitos já declararam a volta no ano que vem”, diz o
presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime),
Luiz Miguel Garcia.
Para Corrêa, os novos gestores públicos
precisarão, inicialmente, dar muita ênfase às ações de retomada das aulas
presenciais, quando isso for permitido pelas autoridades sanitárias “em cada
local do território brasileiro, e também às de mitigação dos efeitos que
pandemia trouxe e continua trazendo, para alunos, professores e comunidade escolar”.
Creches e alfabetização
Além de ações emergenciais, os gestores têm
uma série de obrigações a cumprir durante o mandato. De acordo com a
Constituição brasileira, os municípios são prioritariamente responsáveis pelas
etapas iniciais da educação – creche, pré-escola e primeiros anos do ensino
fundamental, do 1º ao 5º ano. Cabe a eles, portanto, a tarefa de alfabetizar as
crianças.
“Investir na primeira infância, na faixa
etária até 6 anos, investir na criança é a melhor forma de nivelar, de trazer
igualdade de oportunidade para todas as crianças, sejam pobres, de renda média
ou ricas. Investir nessa fase é uma forma de garantir o pleno potencial das
pessoas. A criança que tem investimento qualitativo entra com melhores
condições de absorver conhecimento nas etapas seguintes”, diz a diretora de
Relações Institucionais da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Heloisa Oliveira.
“Poucos municípios olham para os seus PMEs.
Neste ano, com a questão da covid-19, o foco mudou totalmente. A gente ignorou.
Quando se ignora o plano, perde-se a condição de avançar no médio e no longo
prazos de forma consistente”, alerta Garcia. Ele enfatiza que é importante cada
gestor que esteja deixando o cargo avaliar o cumprimento dos dados do plano
municipal de educação e fazer uma transição informando tudo. Segundo Garcia, é
preciso dizer aos candidatos a prefeito que existem PMEs.
Financiamento
Responsáveis pela maioria das vagas nas
escolas do país, os municípios investem R$ 4 de cada R$ 10 gastos na educação
básica, que vai do ensino infantil ao ensino médio. Há, no entanto, grande
desigualdade de arrecadação entre as prefeituras, e isso, em um período de
pandemia e de crise econômica, fica ainda mais acentuado.
“Tem uma agenda da pandemia que os gestores
terão que enfrentar, que vai da distribuição de equipamentos de internet banda
larga, que agora será imprescindível, ao redimensionamento de turmas e
readequação arquitetônica das escolas [para maior ventilação das salas e
redução número de alunos por turma]”, destaca o professor Daniel Cara, da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação. O professor ressalta que isso ocorrerá no
meio de uma enorme crise arrecadatória e que vai ser “um desafio grande”.
De acordo com Cara, nesse contexto, é
importante a regulamentação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O
fundo é composto por recursos que provêm de impostos e transferências da União,
estados e municípios e é a principal fonte de recursos para a educação pública.
A vigência do Fundeb terminaria neste ano, mas o Congresso Nacional o
tornou permanente.
Agora, o Fundeb precisa ser regulamentado.
“O alento para que os secretários municipais
possam trabalhar com qualidade é uma regulamentação do Fundeb de fato robusta,
que fortaleça o amparo por parte do governo federal a estados e municípios”,
diz Daniel Cara.
“A maioria dos municípios brasileiros depende quase integralmente do Fundeb para manter o sistema educacional funcionando”, complementa Corrêa. “Os municípios mais pobres terão mais recursos que podem compensar a queda de arrecadação esperada por conta da crise econômica que a gente vive. O Fundeb é o principal mecanismo de financiamento da educação básica e precisa ser regulamentado com urgência no Congresso Nacional, para que se consiga atender com a devida qualidade especialmente os alunos mais pobres do país.”
Escolha de candidatos
Segundo Daniel Cara, a educação, que já ocupa
espaço de destaque nas campanhas eleitorais, ganhou mais destaque no contexto
da pandemia.
“A falta da escola gerou um impacto grande no
cotidiano familiar. Aquilo que era naturalizado passa a ser percebido como uma
parte importante da vida. O espaço social para a realização da infância e da
adolescência é a escola. A educação está sendo bastante debatida.”
É preciso também verificar se os candidatos
têm propostas para melhorar as condições de trabalho e carreira dos
professores, uma vez que valorizar os profissionais do setor gera impacto na
qualidade da educação ofertada.
Santos recomenda ainda que os eleitores
verifiquem se os programas de governo são baseados em dados.
“Se o candidato apresenta uma proposta, e esta
não tem dados que a sustentem , o eleitor deve correr. Se falar, por exemplo,
que vai construir 300 unidades de creche, [o eleitor pode questionar], com que
dinheiro e em que lugares da cidade, porque esses dados são importantes para
saber se a proposta faz sentido e não cair em promessas vazias dos candidatos.”
“Em geral, as pessoas até ouvem o que os
candidatos falam em debates ou propagandas eleitorais, mas não prestam atenção
e não leem os planos de governo”, diz. Ela ressalta que quem está concorrendo a
um cargo executivo tem a obrigação legal de divulgar o plano de governo no
momento que se inscreve como candidato. “Na prática, se fizer uma analogia, é
um candidato a um cargo público remunerado, e o plano é como se fosse um
currículo.”
Os documentos apresentados pelos candidatos estão disponíveis na
internet para consulta, no site do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
(*)com informação da Agência Brasil
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