Depois de meses de discussão sobre como se dará a volta às aulas presenciais, sem que se tenha ainda chegado a uma conclusão sobre a melhor maneira, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, anunciou que o Ministério da Educação (MEC) transferirá R$ 525 milhões para as escolas, a fim de preparar o retorno. E só. Não apresentou planos ou cronograma para as aulas presenciais, que continuam inéditos, na audiência na comissão mista do Congresso para medidas relacionadas ao coronavírus. Apesar de não detalhar a estratégia para uma retomada segura, afirmou que “se dependesse de mim, retornava amanhã”.
A ideia é que os recursos anunciados por Ribeiro
sejam empregados na preparação de 117.757 unidades de ensino públicas, que
atingiriam 36.858 alunos. O ministro, porém, não esmiuçou a melhor forma de
gastar essa verba –– se com equipamentos de segurança, ampliação de espaços
para a convivência em aula, exames ou outro recurso. “Considerando a questão de
segurança, não podemos colocar em risco as crianças e os adolescentes, e os
jovens da universidade”, salientou, sem apresentar um plano.
O ministro insistiu que o
cronograma de retorno às aulas deverá ser elaborado com equilíbrio, “ouvindo os
especialistas sanitários e observando as especificidades de cada região”. De
acordo com monitoramento do Conselho Nacional dos Profissionais de Educação
(Consed), atualizado no último dia 10 deste mês, 17 dos 26 estados e o Distrito
Federal seguem sem data fechada para retorno ao ensino presencial. O Rio Grande
do Norte foi o único a anunciar que o retorno será apenas em 2021.
Para o secretário de Educação
da Paraíba e Coordenador da Frente de Protocolo de Retomada das Aulas no
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Cláudio Furtado, o MEC
em nenhum momento, desde o início da pandemia, discutiu as condições de cada
rede de ensino. E estranhou o posicionamento do ministro, “como se a volta às
aulas pudesse acontecer de uma hora para outra”. Ele confirmou que, logo depois
da suspensão do ensino presencial, iniciou-se o planejamento de volta às aulas
e que sempre houve o diálogo entre as secretarias para trocar experiências e
métodos eficazes de retomar o ensino presencial.
Mas, para o médico
infectologista Cláudio Maierovitch, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é
preciso pensar em medidas de combate à pandemia antes de pensar em modelos de retorno
às aulas. “Tem que voltar, mas quais as condições têm sido criadas para que
isso seja feito de forma segura? É preciso pensar em conjunto com a população,
alunos, pais, escolas e todas as comunidades envolvidas nesse retorno”,
alertou.
Maierovitch ainda lembrou que
as condições de cada estabelecimento são diferentes. “Escolas particulares têm
uma condição melhor para enfrentar esse retorno. É preciso analisar as
públicas. Os banheiros estão funcionando? Têm uma ventilação adequada? As
turmas estão superlotadas? E é preciso analisar a condição de trabalho dos
funcionários destes espaços e dos professores”, argumentou.
Segundo Ribeiro, também haverá
mais investimentos para que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ocorra de
maneira a preservar os participantes. Ele admitiu, porém, que muitos estudantes
farão a prova em desvantagem, por conta do isolamento social e pela dificuldade
de acesso remoto para assistir às aulas.
“Para atender às normas de
biossegurança que a situação exige, teremos de alugar mais salas de aula,
contratar mais pessoas para fiscalizar, pois as classes terão menos alunos.
Estamos cuidando dessa questão para o Enem continuar sendo um sucesso de
avaliação”, anunciou, acrescentando que a próxima edição do exame custará
“alguns milhões” a mais.
Ribeiro também assegurou que
foram aplicados mais de R$ 325 milhões em hospitais-escola das universidades
federais –– entre eles o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, filiado à
Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS); o Hospital Clementino Fraga
Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e o da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp).
Com informações portal Correio Braziliense
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