O empresário Ricardo Nunes, fundador da rede Ricardo Eletro, foi solto
nesta quinta-feira (9), depois de prestar depoimento por cerca de três horas e
meia ao Ministério Público de Minas Gerais, em Contagem, região metropolitana
Belo Horizonte.Reprodução-Clique na imagem para ampliar.
Nunes foi preso na última
quarta-feira, em São Paulo, na operação Direto com o Dono, que investiga suposta
sonegação fiscal de R$ 387 milhões de ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) e lavagem de dinheiro em empresas controladas pelo
empresário. A prisão foi revogada por decisão judicial, segundo a defesa dele.
A investigação da força-tarefa
composta pela Promotoria de Minas Gerais, Polícia Civil e Secretaria da Fazenda
aponta que houve sonegação de impostos ao longo de cinco anos, entre 2014 e
2019.
Para o Ministério Público de
Minas, o empresário seguiu à frente da Máquina de Vendas até depois de sua
saída como executivo da companhia, o que a defesa de Nunes e a empresa negam. A
varejista, que está em recuperação extrajudicial desde o ano passado, possui
dívidas tributárias similares em vários estados onde opera.
A Máquina de Vendas foi a 22º
maior varejista do país segundo o ranking elaborado pelo Ibevar (Instituto
Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado) em 2019, com receita anual
estimada em R$ 5,5 bilhões. No mesmo ranking, em 2011, ela estava em 5º lugar.
Ainda segundo a investigação, que
corre em sigilo, apesar de a Máquina de Vendas estar em dificuldades
financeiras há anos, Nunes é proprietário de dezenas de imóveis, fazendas e tem
participação em shoppings da região metropolitana de Belo Horizonte.
O patrimônio registrado em nome
de familiares dele teria crescido na mesma época da prática dos crimes, o que
poderia caracterizar o crime de lavagem de dinheiro.
A Justiça de Minas Gerais determinou
também o sequestro de imóveis de Ricardo Nunes avaliados em aproximadamente R$
60 milhões, para pagamento da dívida tributária. Foram cumpridos mandados de
prisão e busca e apreensão nos municípios mineiros de Belo Horizonte, Contagem,
Nova Lima, em São Paulo e Santo André, na quarta.
Pedro Magalhães, diretor
financeiro da Máquina de Vendas, dona da Ricardo Eletro, também foi ouvido na
tarde desta quinta pela força-tarefa em Contagem. Ele também teve a prisão
decretada, mas não foi localizado na quarta-feira em sua casa em Santo André. O
juiz José Venâncio de Miranda Neto revogou a prisão do executivo com a condição
de que ele se apresentasse às autoridades.
Nunes, sua filha Laura e
Magalhães são investigados por suposta prática de apropriação de ICMS, quando o
valor do tributo é cobrado do consumidor na venda da mercadoria, mas não é
repassado ao Estado. Uma decisão no STF (Supremo Tribunal Federal), de ano
passado, reconheceu a prática como crime de apropriação indébita.
Para o advogado de Nunes, Marcelo
Leonardo, o entendimento recente do Supremo não pode ser aplicado
retroativamente. "Dever tributos lançados na contabilidade e declarados ao
fisco, sem qualquer espécie de fraude, não é crime", disse à reportagem.
A defesa também nega que Ricardo
siga à frente da empresa.
Procurada, a Máquina de Vendas
afirma que Nunes e seus familiares deixaram de ser acionistas da empresa no ano
passado, mas negou-se a responder quem são os atuais controladores da
companhia.
Hoje, a empresa é controlada pela
MV Participações, que teve Nunes como diretor até 9 de outubro de 2019. Na
mesma data, Pedro Henrique Torres Bianchi foi escolhido diretor da MV
Participações. Em janeiro, o executivo assumiu a presidência da Máquina de
Vendas.
FOLHAPRESS
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