Para Ricardo Henriques, velocidade na transferência de renda é vital e governo deveria usar Caixa e fintechs.
Superintendente do
Instituto Unibanco, o economista Ricardo Henriques,
que coordenou a equipe responsável pela criação do Bolsa
Família, diz que a velocidade é vital na
transferência de renda e que o auxílio
emergencial de R$ 600 prometido pelo governo para trabalhadores
informais enfrentarem a crise do coronavírus tem
que ser mantido por um período de até um ano.
O economista Ricardo Henriques Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo |
Ele
cobra a criação de uma coordenação central para conseguir mapear os domicílios
carentes e permitir que o dinheiro chegue rápido.
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valem, como auxílio de R$ 600 e corte de salário e jornada
Como a ajuda pode chegar mais rapidamente?
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É fundamental usar a estrutura que nós já temos, que é a base do cadastro
único. É possível identificar a composição da família, de idosos, crianças, tem
uma focalização muito consistente. E o cadastro tem várias pessoas que estão no
mundo informal. Primeiro ponto: velocidade é fundamental, transferir renda
básica emergencial para todo mundo que está no cadastro. Uma quantidade enorme
da população que poderia ter acesso rápido. É obvio que teria de colocar na
linha de frente Caixa e fintechs, produzindo cartões rápidos e fazer essa
operação em alguns dias. Outra questão é como vai cadastrar as pessoas que
estão entrando, a grande maioria informal, na situação de pobreza.
E quem está fora do cadastro?
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Essas pessoas até tinham uma renda razoável, são referência na família. Tem que
criar um sistema para se manifestarem. Pode fazer isso centralizado nas
prefeituras. Vai demorar mais tempo, mas é fundamental começar logo. Para uma
resposta adequada à situação de emergência que a gente tem, não deveria haver
qualquer hesitação em usar o cadastro e fazer transferência direta para quem já
tem os cartões. As fintechs podem fazer isso, fazer cartões rápidos para quem
está no cadastro e que não tenha cartão.
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vigor
O auxílio de R$ 600 já poderia seguir essa lógica?
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Acho que sim. É o sentido de ter uma renda básica emergencial para toda essa
população que está identificada. Em simultâneo, criar um processo de
rastreamento ativo das pessoas que não estão no cadastro.
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O governo está demorando nessa atenção?
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Tem certas mensagens desconexas. O sentido de urgência ainda não se traduziu em
uma estrutura ágil, não só de processamento de informações, mas de tomada de
decisão. Associada a isso, tem que ser mais rápida em todas as esferas e
conseguir fazer o dinheiro chegar aos pobres. A curtíssimo prazo, é importante
ter renda e garantir abastecimento e logística. Pode adicionar uma resposta
mais rápida com merendas, cestas básicas, que vão cobrindo o emergencial. Para
isso tudo, é muito importante coordenar a informação, os processos decisórios.
Velocidade é vital nesse processo, sobretudo porque há risco de vida de uma
quantidade significativa de pessoas. Isso é o que está faltando. É uma questão
incontornável.
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ultrapasse R$ 30 bilhões neste ano
As crianças e adolescentes estão sem aulas. As escolas
privadas criaram seus métodos virtuais. Como ficam os alunos da rede pública?
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Tem uma agenda de curto prazo, temporária, para viabilizar o que as escolas
privadas já fazem, educação a distância. É importante que ela seja feita pela
internet, mas também pelas TVs, para ter uma combinação de oferta de conteúdo.
Existe um grupo de fundações tentando ajudar. Obviamente, as operadoras teriam
de garantir, nessa situação de emergência, acesso a banda larga à população
mais pobre. O cruzamento entre o cadastro único e o registro administrativo das
escolas permite identificar as crianças em famílias mais pobres e focalizar a
necessidade de conectividade. Existem instrumentos para viabilizar que uma
maior quantidade de estudantes tenha acesso à internet, isso permite mitigação
nesse momento da suspensão de aulas presenciais.
A desigualdade vai aumentar?
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Haverá uma franja de estudantes que não terão acesso, então, a desigualdade
está afetada e é evidente que não podemos acreditar que esses instrumentos,
mesmo que tenham apoio de professores e interação, vão substituir de forma
perfeita as aulas presenciais. Estudos no mundo todo mostram que uma pausa
longa aumenta muito a evasão. E ela é proporcionalmente maior no ensino médio e
no nono ano. Tem que ter instrumentos para buscar esses estudantes que terão
mais probabilidade de evasão. A segunda é ter um processo de recuperação desses
estudantes. Em seguida, adotar estratégia acelerada de redução das
desigualdades produzidas no processo. Inevitavelmente, sairemos mais
vulneráveis e com mais desigualdade. O sistema de ensino terá de se adequar
para atender aos traumas derivados da passagem desse período.
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pós-quarentena
Esse auxílio tem que ser mantido por quanto tempo?
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Tem que manter por seis meses, um ano. É responsável ter uma política pública
que mantenha as pessoas com essa transferência de renda por mais algum tempo,
para populações mais vulneráveis e pequenas e médias empresas. Vai ter uma
discussão pós-isolamento sobre qual é o patamar a que pode chegar a
infraestrutura social. O cadastro único pode servir de referência para
articular as múltiplas vulnerabilidades. Há famílias que têm mais
vulnerabilidade no trabalho, na saúde, de assistência, de educação. Talvez a
crise nos dê a possibilidade de ter uma política social mais integrada para
enfrentar a desigualdade e a baixa mobilidade social que a gente tem. Ter a
chance de colocar a política social no mesmo nível da política econômica.
Quais
os riscos econômicos de suspender a quarentena e adotar o isolamento vertical?
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O conhecimento científico disponível diz que o melhor protocolo é a quarentena.
Vamos sair melhor econômica, social e humanitariamente seguindo os melhores
protocolos disponíveis pela saúde.
Fonte; O GLOBO.
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