Dos 184 municípios
cearenses, cerca de 110 estão com aulas remotas nas escolas públicas do ensino
fundamental(1º ao 9º ano). Em relação às escolas privadas, considerando todas
as etapas do ensino, sete a cada dez ofertam conteúdo desta forma. O restante
optou por antecipar as férias escolares, mas retornam em maio próximo. Os
levantamentos são da seccional cearense da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime) e do Sindicato dos Estabelecimentos
Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), respectivamente.
Conforme a Undime, órgão
de assessoramento e orientação aos dirigentes municipais de educação, a
pesquisa recebeu respostas de 144 municípios. Desses, 80 aplicam conteúdo que
deve ser aproveitado na carga horária mínima de 800 horas exigidas pelo
Ministério da Educação (MEC). Outros 30 usam atividades remotas, mas ainda há
incertezas se o material alcançará às exigências para validação. No restante,
34, não há nada sendo aplicado.
Tendo em vista esses
dois últimos conjuntos de cidades, a Undime-CE montou um grupo de trabalho, com
seis dirigentes educacionais, para orientar como se preparar e retornar às
escolas. Conforme a presidente do órgão e secretária de educação do município
de Crateús, Luiza Aurélia Costa, durante a semana de aula, os professores devem
preparar o alunado para, na sexta-feira, encaminhar atividades a serem feitas
em casa. A cada exercício serão atribuídos minutos de estudo.
"No final, o tempo
deve compor a carga horária exigida. Assim, os professores terão condições de
aferir se o estudante conseguiu apreender as competências propostas",
considera. O material deve ser disponibilizado às cidades. As orientações são
feitas aos técnicos em educação das localidades. As recomendações são para o
ensino fundamental. Uma coletânea de atividades está sendo feita para o ensino
fundamental.
No entanto, a líder
educacional confessa não conseguir mensurar a qualidade do ensino ofertado nos
municípios que adotaram a educação remota. "O que fizemos foi para saber
se há a oferta, qual o percentual atingia, como o município está realizando e
se melhorou as condições de conectividade, cada município tem o poder
discricionário de optar pela atividade."
Luiza destaca que
algumas redes de ensino do Ceará, como a de Fortaleza, São Gonçalo do Amarante
e Eusébio, começaram a investir e apresentam condições favoráveis para a oferta
dessa modalidade.
"Os municípios não
investem em softwares ou aplicativos, por conta disso não há capacitação dos
professores para isso. Há limitação desses profissionais no uso de mídias. Não
é algo universal, mas há um alto percentual assim. A baixa escolaridade dos
pais influenciam consideravelmente na orientação domiciliar das
atividades", comenta ainda sobre os fatores que dificultam aulas remotas.
Por outro lado, o
cenário se desenha de forma diferente na rede de ensino privado, mas ainda
assim é desafiador, segundo o professor Airton Oliveira, presidente do
Sinepe-CE. O representante destaca que 25% das escolas particulares optaram por
férias antecipadas no último mês para reforçar os sistemas e adaptar para o
ensino emergencial remoto. Enquanto o restante, intensificou as atividades
domiciliares e ganhou um novo ator no processo de aprendizagem: os pais. Há 4,9
mil unidades particulares no Estado.
"A escola tem de
ser ágil. Não podemos ficar de braços cruzados se essa pandemia chegar a
agosto. É um novo modelo. É um momento de resolução imediata para salvar o ano
letivo na educação básica e o semestre, no ensino superior", considera.
Oliveira frisa ainda que muitas instituições se endividam para adaptar e
receber a demanda dos estudantes em um ambiente virtual.
"É uma modalidade
que vai permanecer. Esse período tem atraído o interesse dos alunos e
despertado famílias a se envolverem mais. Talvez, apareça uma ou outra resistência
porque querem delegar a obrigação da educação apenas à escola. Mas a educação
domiciliar é uma riqueza porque os pais estão participando, convivendo e nós
estamos em permanente contato."
Para ele, há receio por
parte do Ministério Público do Ceará se o conteúdo está sendo cumprido. Ele
afirma que as escolas estão repassando de forma correta o material. "Na
volta, vamos fazer a avaliação. Nós iremos fazer reforço daquilo que pode não
ter sido compreendido, utilizar o mês de julho, dezembro e janeiro para
complementar o ano letivo", garante.
Municípios vivem
incertezas no alcance de conteúdo durante isolamento
A rede de ensino de 64
municípios, monitorados pela seccional cearense da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime), enfrenta problemas para chegar aos
alunos durante a suspensão das aulas presenciais. Em Banabuiú, distante 216,6
quilômetros de Fortaleza, foi adotada a estratégia de aulas emergências
remotas. No entanto, o formato não alcança todos os estudantes. Enquanto em
Catunda, a 266,9 km da capital cearense, o método deve ser adotado apenas após
a retomada do calendário escolar.
Dirigente educacional do
município de Banabuiú, Imaculada Silveira desenha um cenário precário quando se
trata de ambientes virtuais. Para a gestora, em tempos de situações
extraordinárias, há necessidade de se entender o novo cenário. "Para o
público maior, está interessante. As coisas estão fluindo. Mesmo eu não
conseguindo atingir percentual interessante. Nós estamos aprendendo no dia a
dia", afirma.
Segundo Silveira, a
experiência bem sucedidas de outras localidade serve como parâmetro para o
município, que tem na rede 3,2 mil estudantes. A secretária afirma que o
principal recurso utilizado é o WhatsApp. "A gente está tentando levar as
orientações pedagógicas por meio das próprias pessoas que moram na
região."
Apesar disso, Imaculada
destaca que a equipe técnica trabalha para o voltar já com calendário adaptado.
"Tudo o que tínhamos feito em outubro, novembro e dezembro, estamos
refazendo para que a criança tenha o que lhe é de direito: educação de
qualidade", projeta.
Enquanto isso, em Catunda,
o responsável pela educação do município, Rondinele de Oliveira, utiliza
do rádio para se comunicar com o alunado das 12 unidades de ensino.
"Estamos aguardando o retorno das aulas para fazer as atividades remotas
dos alunos." Ele destaca que, por enquanto, a plataforma sonora é usada
apenas para informação às comunidades. Um programa semanal é veiculado no
rádio.
"Este é o momento
para tranquilizar as famílias, para entender que não se trata de férias, mas de
isolamento social". Segundo ele, dicas em vídeos são divulgadas nas redes
sociais do município para orientar pais em como lidar com a criança em casa.
Para algumas séries, os professores deixam atividades em casa ou enviam por
WhatsApp.
"Vai chegar o
momento de montar um programa de rádio por disciplina. e vamos fazer no
mês de maio. Se isso se estender mais, vamos sentar e elaborar os
programas. O aluno vai perder muito. Quando se trata da educação infantil
e anos iniciais, a presença do professor, o espaço escolar é essencial para que
o aprendizado aconteça. Sem contar que parte das famílias não têm
instrução", considera.
Aquiraz e Jijoca de
Jericoacora recebem apoio da Fundação Lemann
Os municípios de
Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, e Jijoca de Jericoacoara,
distante 283,4 quilômetros da capital cearense, foram selecionadas pela
Fundação Lemann para receber apoio técnico para o ensino remoto. O suporte deve
durar dois meses, mas há possibilidade de renovação. A interrupção no
calendário escolar ocorreu para prevenção ao contágio do novo
coronavírus.
O apoio é personalizado
conforme o cenário e as necessidades específicas de cada uma das cidades e o
planejamento de todas as ações feito com a participação e envolvimento das
equipes de cada rede.
"Nada substitui o
trabalho do professor e a vivência em sala de aula, mas é vital que busquemos
medidas de redução de danos para os alunos, com materiais de qualidade
pedagógica e de fácil acesso", diz Denis Mizne, diretor executivo da
Fundação Lemann.
O apoio da fundação
envolve diagnóstico dos desafios e condições da rede de ensino; e planejamento
de ações de ensino remoto, com co-construção ou finalização de planejamentos já
iniciados. O item inclui a curadoria de conteúdos pedagógicos de qualidade
(analógicos e digitais) e o apontamento de estratégias para garantir a
aprendizagem remota.
Além disso, há o apoio à
implementação das ações planejadas. Por fim, acompanhamento para aprimorar as
ações em curso. Depois de tudo isso, há uma sistematização e divulgação das
ações, visando a multiplicação de práticas que se provarem efetivas.
Carga horária
A partir de consulta
feita pela Undime, 80 municípios do Ceará responderam que estão aplicando
conteúdo que deve ser aproveitado na carga horária mínima de 800 horas exigidas
pelo MEC.
Por: O Povo Online
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