Além da água caindo do
céu, outro fenômeno da meteorologia associado à chuva não passou despercebido
pelos cearenses, na última semana: as fortes rajadas de vento, que chegaram, em
algumas regiões, a ultrapassar os 60 km/h e provocaram diversos transtornos em
áreas urbanas, como quedas de árvores e destruição de portões e telhados. As
ventanias, no entanto, não são extraordinárias e podem se repetir sempre que as
precipitações forem trazidas por nuvens maiores, mais densas e mais escuras.
Esse tipo de nuvem é
chamado de "Cumulonimbus", de acordo com o meteorologista e
pesquisador da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme),
David Ferran. "Elas são de grande extensão vertical e normalmente estão
associadas com descargas atmosféricas e chuvas relativamente fortes",
descreve. As ventanias que as acompanham "são muito localizadas e de curta
duração, geralmente de alguns minutos", explica. Ele acrescenta que elas
têm velocidade em torno de 50 km/h a 80 km/h.
Na madrugada da última
terça, as rajadas em Fortaleza alcançaram 42,12 km/h, segundo a Funceme. Embora
a Escala de Beaufort - que classifica a velocidade dos ventos -, aponte o valor
como "vento fresco", com capacidade de mover galhos de árvores e
gerar ondas de até 3,5 metros, ele foi suficiente para arrancar até mesmo um
portão de um condomínio localizado na Avenida Sargento Hermínio. Uma árvore
também caiu na BR-116, próximo ao viaduto da Avenida Oliveira Paiva, e bloqueou
parte da rodovia.
Na manhã do último
domingo, parte do teto do Aeroporto Internacional de Fortaleza também foi
arrancada durante a forte chuva com rajadas de vento que atingiu a Capital e a
Região Metropolitana. Na ocasião, a Funceme aferiu 47,1 km/h. Ainda conforme a
Escala, a partir de 60 km/h, galhos de árvores podem ser partidos e, de 75km/h,
podem ocorrer pequenos danos em construções.
No mês de janeiro, do
dia 1º ao dia 27, a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (Urbfor)
recolheu 49 árvores em vias e logradouros públicos da Capital; do total, 29
foram retiradas na última semana. O órgão informou ainda que "intensifica
o monitoramento das árvores da Capital antes e durante a quadra chuvosa".
À noite, fins de semana e feriados, o contato deve ser com o Corpo de Bombeiros.
Em casos de entrelaçamento com a rede elétrica, com a Enel Distribuição.
Formação
As rajadas se formam,
explica David Ferran, a partir de um contraste de ar seco - provocado pelo
calor e pela sensação de "abafado" - com ar frio que vem junto com a
chuva. No Ceará, não há predomínio do fenômeno em áreas específicas. "Todas
as regiões são propícias a esse tipo de sistema", garante o
meteorologista. Contudo, emenda, nem sempre a velocidade máxima aferida pela
Funceme condiz com o ponto onde a rajada ocorreu com maior intensidade, já que
elas "são muito localizadas".
O modelo percebido nos
últimos dias também é diferente do fenômeno dos ventos fortes característico do
segundo semestre, quando é comum o registro de velocidades de até 60 km/h. De
acordo com David Ferran, aqueles que têm pico nos meses de agosto e setembro
"são mais constantes e não provocados por nuvens de chuva, mas pelos
ventos alísios, que têm característica de serem de longa duração".
"Já agora, os
ventos são mais fracos e, de repente, quando vem uma nuvem de chuva, as rajadas
podem ser mais fortes instantaneamente", distingue. Atualmente, o Estado
fica perto dos doldrums, regiões de calmaria - e ventos fracos - da Zona de
Convergência Intertropical. Logo, as rajadas só surgem com a formação das
cumulonimbus. Por outro lado, os bons ventos, após o mês de julho atraem praticantes
de esportes náuticos, como windsurf e kitesurf, para o Ceará.
Previsão
Conforme a Funceme, o
Ceará segue com cenário favorável a chuvas até esta quarta. Os meteorologistas
indicam expectativa de precipitações no norte da região Nordeste, principalmente
no interior do Estado. O fator para o aumento é a influência da Zona de
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um corredor de umidade que está atuando
na porção sul da região.
Além disso, a Fundação
observa que os ventos alísios tendem a convergir entre o Ceará o Rio Grande do
Norte, aumentando a instabilidade na região. Para Fortaleza, chuvas são
esperadas com maior força "nos próximos dias", especialmente no
período entre a madrugada e a manhã.
Até o próximo sábado
(1º), de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a Capital
possui tendência de tempo nublado a parcialmente nublado com pancadas de chuva
isolada. Os ventos devem ser de fracos a moderados, e a temperatura deve
oscilar dos 24 ºC aos 33 ºC.
Para Sobral, na região
Norte, o Instituto prevê tempo de "nublado a encoberto com pancadas de
chuva", com ventos nas categorias "fraco" ou "moderado com
rajadas". Em Juazeiro do Norte, no Cariri, o cenário deve ser de
"muitas nuvens", com ventos fracos ou moderados.
Fonte: Diário do
Nordeste
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