Atualmente, o valor médio destinado
às famílias no Estado é de R$ 187,variando de acordo com o município e a
demanda de cadagrupo beneficiário. FOTO: ANTONIO CARLOS ALVESOs números
importam, apesar de a realidade ir muito além deles.
Se o bloqueio de um benefício do
Bolsa Família (BF) já torna incertos o alimento e a realidade de várias
pessoas, 20.905 pagamentos cortados de um mês para o outro têm impacto certo.
Essa foi a diferença na folha de pagamento do Governo Federal aos cearenses
entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, logo após a posse da nova Presidência
– a maior redução desde abril do ano passado.
A diminuição de 1.067.409, em
dezembro, para 1.046.504 famílias recebendo o benefício nos 184 municípios do
Estado neste mês fica atrás apenas dos 21.875 pagamentos cortados pelo Governo
Temer de março para abril. Atualmente, o valor médio destinado às famílias no
Estado é de R$ 187, variando de acordo com o município e a demanda de cada
grupo beneficiário.
Os reflexos negativos dos cortes, ao
contrário da cobertura, tendem a aumentar – impactando áreas como Economia,
Saúde, Educação e até Segurança Pública. De acordo com estudo inédito realizado
em todos os municípios brasileiros pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as
taxas de homicídio e de hospitalizações por agressões tendem a diminuir em
locais onde a cobertura do programa é ampla e contínua.
No Ceará, a redução nas taxas foi de até 35% entre
os municípios com 70% ou mais da população recebendo o auxílio, entre 2004 e
2012.
Homicídios”Embora a taxa de homicídio no Ceará
tenha dobrado no período analisado, de 20,5 para 44 a cada 100 mil habitantes,
fica evidente que se não houvesse a alta cobertura do Bolsa Família, o número
de óbitos teria sido ainda maior”, sentencia a doutora em Epidemiologia e Saúde
Coletiva e pesquisadora principal do estudo, Daiane Machado.
Segundo a psicóloga, as localidades
do Estado com cobertura mais estável do programa federal reduziram as taxas de
homicídio em 4% no primeiro ano, 13% no segundo, 31% no terceiro e 35% no
quarto ano de pagamento contínuo.
O levantamento da Fiocruz monitorou
as taxas de homicídios e internações por violência durante nove anos,
considerando também “variáveis que a literatura indica como associadas à
violência como baixa escolaridade, renda, taxa de policiamento e
disponibilidade de armas”, para verificar a associação com o BF.
“Educação é uma das condicionalidades
para a família ser beneficiada. Quando a criança fica na escola, diminui a
exposição a situações de violência, deixa de estar nas ruas e, além disso,
aumenta as chances de, quando adulta, conseguir emprego e aumentar renda.
Estudos internacionais mostram que,
quanto maior a escolaridade, menor o envolvimento com o crime”, ressalta a
pesquisadora, definindo a tendência de cortes no programa social como
“lamentáveis, principalmente em se tratando de pessoas em situação de
vulnerabilidade”, afirma Daiane.
(Diário do Nordeste)
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