Parlamentares, entre
eles o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), reagiram nesta
terça-feira (24) com perplexidade e irritação ao pronunciamento em que o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o fechamento de escolas,
atacou governadores e culpou a imprensa pela crise provocada pelo coronavírus
no Brasil.
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Até o momento, o Brasil registra 46 mortes e 2.201
confirmações da doença. O pronunciamento de Bolsonaro gerou muitas reações
inflamadas. Poucos foram os congressistas que saíram em defesa do presidente.
"Neste momento grave, o país precisa de uma liderança séria, responsável e
comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a
posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de
ataque", disse Alcolumbre.
A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), se mostrou perplexa após o
pronunciamento. "Adianta comentar?", respondeu à reportagem quando
procurada. Já o líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP),
afirmou que Bolsonaro superou "todos os limites da
irresponsabilidade".
"[Ele] Ataca todo mundo, questiona o
isolamento social, vem com uma tese maluca de que a Itália tem um clima mais
frio. Vai passar para a história como a primeira vez em que um chefe de Estado
usou a cadeia de rádio e TV para espalhar mentiras, mentiras que podem levar as
pessoas à morte", criticou.
Na Câmara, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) se
disse frustrado com a reação do presidente. "Quando mais precisamos de um
líder que una o país, mais ouvimos um presidente que luta contra inimigos
imaginários. O povo preocupado em salvar as pessoas e o presidente preocupado
em acirrar disputas políticas", afirmou. "Além disso, é angustiante o
presidente contradizendo o ministro Mandetta [Saúde], o que confunde a população
num momento que precisamos de segurança".
O pronunciamento também foi tachado de
contraditório pelo deputado Fábio Trad (PSD-MS). "As medidas que o próprio
Ministério da Saúde está adotando e recomendando não são compatíveis com um
resfriadinho e uma gripezinha. Elas são compatíveis com uma patologia severa de
gravidade acentuada." Na visão de outros parlamentares, Bolsonaro foi
irresponsável e inconsequente.
"O presidente dobrou a aposta do discurso
lunático e colocou em xeque as políticas de isolamento defendidas pelo seu
próprio ministro da Saúde", afirmou o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).
"Em vez de propor soluções, preferiu atacar a imprensa, os governadores e
fazer piada em rede nacional. Tragédia anunciada." Irresponsável e
inconsequente também foram os adjetivos escolhidos pela ex-líder do governo no
Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), para descrever o presidente.
"O Brasil precisa de um LÍDER com sanidade mental. Todas as chances que o
PR teve de acertar ele mesmo jogou fora. ERRA E SE ORGULHA DO ERRO
ESTÚPIDO", escreveu em uma rede social. Na oposição, as declarações de
Bolsonaro provocaram reações igualmente enérgicas. "É uma fala irresponsável,
criminosa. Ele se contrapõe à ciência, ao trabalho do próprio pessoal do
governo, na área da saúde, minimiza a gravidade do que estamos enfrentando.
Todos os líderes, presidentes, primeiros-ministros, estão querendo salvar a
população, e aqui Bolsonaro quer expor a população a uma tragédia", disse
o senador Humberto Costa (PT-PE). Apesar disso, o petista diz acreditar que
agora não é o momento de se falar em impeachment. "Temos que conduzir este
processo com tranquilidade. O grau de insatisfação que ele está produzindo vai
terminar fazendo disso [do processo de impeachment uma questão inevitável. A
questão aí é o momento. A gente vai perdendo a crença de que ele possa se
arrumar", afirmou. Na avaliação do líder do PSB na Câmara, Alessandro
Molon (RJ), o presidente da República está desconectado da realidade. "Em
pronunciamento que atingiu o ápice da irresponsabilidade, negou a gravidade do
novo coronavírus, insistiu que se trata de uma 'gripezinha' e convocou as
pessoas a voltarem às ruas", criticou. "É um crime contra a vida do
povo brasileiro."
O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) acusou
Bolsonaro de mentir, debochar e provocar "um país que, apesar dele, luta
bravamente e se une para enfrentar uma das maiores crises da história".
"A resposta dos brasileiros foi dada."
JUDICIÁRIO
Ministros do STF e do STJ ficaram atônitos com o
pronunciamento. Avaliam que a postura do governo é "errática". Um
ministro do Supremo diz que o presidente dobra a aposta ao propor o fim de
medidas restritivas, indo na contramão do mundo. Ele aposta, porém, que os
governadores seguirão adotando as medidas restritivas, mas que o governo
expressa não ter controle sobre a condução da crise emitindo sinais contrários.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, também
criticou o pronunciamento. "Entre a ignorância e a ciência, não hesite.
Não quebre a quarentena por conta deste que será reconhecido como um dos
pronunciamentos políticos mais desonestos da história."
APOIO
O presidente, porém, encontrou algumas vozes de
apoio no Legislativo. O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO),
saiu em defesa de Bolsonaro. "[É] A fala de quem está trabalhando muito,
dormindo pouco e atento aos movimentos políticos que infelizmente alguns
setores ainda insistem em fazer num momento de calamidade como esse. As ações
responderão por si, mas todas são resultado de um comando", afirmou o
senador. Já o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), qualificou
de excelente o pronunciamento. "A sua visão de estadista e a sua coragem
em ir na contramão da histeria coletiva, construída sem critérios racionais,
vão salvar as vidas de milhões de brasileiros", afirmou.
FOLHAPRESS.
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