A popularização do uso do Pix e digitalização das finanças estão levando o crime no Brasil a intensificar os golpes nessa modalidade. É o que destaca o Estudo Golpes com Pix, da Silverguard, empresa de proteção financeira digital criada em 2023 que conecta vítimas e guardiões por meio do SOS Golpe, primeira plataforma de antifraude social do País. Entre 2022 e 2023, os golpes digitais aumentaram quase 14%, enquanto os crimes físicos decresceram. O prejuízo com golpes de Pix e boletos falsos no Brasil já somam R$ 25,5 bilhões, segundo o Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Com a popularização cada vez maior dessa forma de pagamentos, os criminosos usam diferentes táticas para atacar vítimas. Confira quais são e as melhores formas de evitar dor de cabeça na hora dos pagamentos.
Desde sua criação, o Pix se tornou o principal meio de pagamento entre os meios de transações financeiras no Brasil, por isso o sistema virou alvo fácil de criminosos. | (Divulgação)
Conforme o 18º Anuário de
Segurança Pública 2024, os estelionatos por meio virtual representaram 13,6%
dos crimes contra o patrimônio no Brasil. O fenômeno acontece porque estamos
entre os países mais conectados do mundo e já trocamos a agência bancária pelo
celular. De acordo com o Estudo Golpes com Pix, a partir de dados do Banco
Central do Brasil, no ano passado 97% das transações financeiras foram feitas
em canais digitais como mobile banking e internet banking.
As transações financeiras com Pix
no primeiro semestre de 2024 impressionam, envolvendo mais de 151 milhões de
brasileiros. Foram 29 bilhões de transações financeiras, o que representa um
número 66% maior que o mesmo período em 2023. Já em relação aos valores
transacionados, a ferramenta de pagamentos instantâneos registrou R$ 11,8
trilhões, 61% maior que no mesmo período no ano passado.
Neste segundo semestre, o Pix já
é o principal meio de pagamento entre os meios de transações financeiras no
Brasil. A ferramenta lidera com 45%, seguido do cartão de crédito (14%) e
cartão de débito (12%). Porém, a popularidade e a instantaneidade do Pix é uma
alavanca para as fraudes nas quais o próprio usuário enganado acaba
transferindo dinheiro diretamente para o fraudador. Na maioria dos casos, estes
golpes são sofisticadas armadilhas reinventadas a cada três meses.
“A tendência geral é que os
golpistas estão se tornando verdadeiras organizações criminosas profissionais.
Não é mais um indivíduo atuando sozinho, trata-se de grandes organizações, às
vezes com centenas de funcionários em um escritório, aplicando o mesmo golpe em
pessoas de diferentes países, ao mesmo tempo”, afirma Jorij Abraham,
diretor-geral da Aliança Global Anti-Fraude.
RAIO-X DO GOLPE
Foram analisadas 5 mil denúncias
de vítimas atendidas pela Central SOS Golpe de janeiro a junho de 2024, com
perfis demográficos completos. A amostra contou com 60% do gênero feminino e
40% do gênero masculino. Quanto à classe social, 4% eram da classe AB, 25% da
classe C e 71% da classe DE. Em termos de faixa etária, 4% tinham menos de 18
anos; 42% de 18 a 29; 25% de 30 a 39 anos; 17% de 40 a 49; 8% de 50 a 59 anos;
e 5% tinham mais de 60 anos.
No total, 97% das fraudes
relatadas foram do tipo fraude de pagamento por push autorizado, modalidade em
que o criminoso convence uma pessoa ou empresa a fazer uma transferência para
uma conta bancária controlada por ele. “A crescente onda de golpes do tipo
exige um ajuste urgente nos processos das instituições financeiras, que muitas
vezes ainda operam com o modelo mental dos processos de contestação de cartão
de crédito. Como resultado, ao buscar ajuda, a vítima frequentemente não
consegue acionar a devolução, sob a justificativa de que foi ela mesma quem
inseriu a senha e autorizou a transação”, comenta Marcia Netto, fundadora e CEO
da Silverguard.
Sexta-feira é o dia com maior
número de golpes e domingo o dia com menor quantidade. Os aplicativos de
mensagem são o principal ponto de partida dos golpes, representado 46,3% por
meio do Whatsapp e Telegram, seguido pelas redes sociais com a porcentagem de
41,6%, com o Instagram, Facebook e TikTok. Os aplicativos de mensagem são os
canais de golpe mais frequentes entre as pessoas com mais de 60 anos, atingindo
71,7% deste público, enquanto que nas redes sociais são os mais jovens que caem
em golpes, sendo 56% desta faixa etária atingida com menos de 18 anos.
O Distrito Federal é o local com
maior percentual de vítimas por transação Pix, seguido por Santa Catarina, Rio
de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O estado do Pará se encontra na
18ª posição no ranking nacional. Já na região norte, o Amazonas lidera o
percentual de vítimas, seguido pelo Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Entre as táticas de golpes mais
realizadas estão em compras online de produtos, serviços de loja ou perfil
falso (44,9%); multiplicação de dinheiro ou investimento falso (14,6%); e
impostor pedindo dinheiro ou ajuda (9,9%). A perda média das vítimas com golpes
é de R$ 2.100, sendo R$ 1.500 na classe DE e R$ 6.300 na classe AB. Apesar de
acontecer com pessoas de todas as idades, o prejuízo médio de um golpe com Pix
de uma pessoa 60+ é quatro vezes maior que o prejuízo de um brasileiro de 18 a
24 anos.
“O problema dos golpes,
infelizmente, está enraizado na sociedade brasileira, e a gente acaba sempre
correndo atrás, tentando apagar incêndio. A nossa ideia é ir à frente, para
tentar barrar um pouco o que está acontecendo, mas não tem bala de prata, porque
os caras são muito criativos”, diz Walter Faria, diretor adjunto de serviços da
Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
DEVOLUÇÃO
O Mecanismo Especial de Devolução
do Pix (MED) é o principal passo para vítimas de um golpe com Pix, porém ainda
é pouco conhecido pelos brasileiros e até mesmo por alguns funcionários das
instituições financeiras. O desconhecimento do MED custa caro: a taxa de
devolução total do MED é de apenas 9%. No estudo realizado pela Silverguard e
SOS Golpe 2024, 68% das vítimas nunca ouviram falar sobre o MED, 27% sabiam que
existia, mas não como funciona e 5% conheciam o MED e como acioná-lo.
Criado pelo Banco Central como
primeiro passo na tentativa de recuperação do dinheiro perdido, o MED é uma
ferramenta para quantificar golpes e fraudes com Pix. Em 2023, foram abertos
2,5 milhões de MEDs. Porém, a Silverguard estima que o número real de golpes
com Pix seja até três vezes maior, devido à subnotificação e desconhecimento do
MED.
“O MED é, sem dúvida, o melhor
mecanismo para denunciar e bloquear valores em golpes com Pix, mas o processo
ainda pode melhorar. A qualificação das denúncias é fundamental, com mais
informações e evidências, para que a instituição de destino possa avaliar e
bloquear as contas laranja sem receios de falsos positivos. Atualmente, muitos
times de antifraude atuam com base na quantidade de MEDs em vez da qualidade, o
que pode resultar em perdas significativas para todos os envolvidos”, explica
Marcia Netto, fundadora e CEO da Silverguard.
Caso você tenha sido uma vítima,
o Banco Central recomenda registrar o pedido de devolução na sua instituição
bancária em até 80 dias da data em que você fez o Pix. O caso é analisado em
até sete dias. Se concluírem que foi fraude, em até 96 horas você receberá o
dinheiro de volta integral ou parcialmente. A plataforma sosgolpe.com.br também
está disponível para auxiliar vítimas de golpe do falso Pix.
FIQUE ATENTO
A Febraban dá algumas dicas para
evitar golpes do Pix, como:
Verificar a identidade: Antes de
realizar uma transação, certifique-se de que está fazendo para a pessoa certa.
Não clicar em links suspeitos:
Não clique em links enviados por SMS ou WhatsApp que peçam para confirmar
números para realizar transferências.
Desconfiar de pressões: Não faça
transações rapidamente, pois a urgência é uma tática comum entre golpistas.
Não forneça dados pessoais: Não
forneça dados pessoais em links enviados pela internet de supostas promoções.
Desligue a ligação: Se alguém
entrar em contato e falar para você instalar um aplicativo no seu celular,
desligue imediatamente.
Entre em contato com o banco: Em
caso de atividades suspeitas e incomuns, contate seu banco imediatamente.
Use a função de devolução: Se
receber um Pix por engano, use a função “devolver” no aplicativo do banco.
Fonte: Diário do Pará
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