O general Mário Fernandes, preso nesta terça-feira (19) e que foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro, é apontado pela Polícia Federal como o responsável por elaborar o plano para matar o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, o presidente Lula (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Informações divulgadas pela PF dão conta de que o general Mário Fernandes esteve no Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro residia enquanto presidente, logo após arquitetar e imprimir o plano que visava matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
O general Mário Fernandes esteve com o ex-presidente Jair Bolsonaro pouco depois de elaborar plano para matar Lula | Divulgação/PR
Segundo as investigações,
Fernandes teria imprimido o planejamento para matar Lula e Moraes em 9 de
novembro de 2022 no Palácio do Planalto. Cerca de 40 minutos depois, ele teria
ido até o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, então ocupada
por Bolsonaro.
De acordo com o relatório da
PF, o planejamento operacional chamado de "Punhal Verde e Amarelo"
previa uso de metralhadoras e explosivos e o envenenamento de Lula e de Moraes.
A Polícia Federal cumpriu
mandados de busca e apreensão e de prisão nesta terça-feira (19) contra
suspeitos de integrarem uma organização criminosa que, segundo as
investigações, planejou um golpe de Estado em 2022 para impedir a posse do
presidente Lula (PT).
A operação foi autorizada por
Moraes e mirou um general da reserva, um policial federal e militares com
formação nas forças especiais, os chamados "kids pretos".
Lula derrotou o então
presidente Bolsonaro em 2022 após uma acirrada disputa de segundo turno.
Durante seu mandato, o hoje inelegível Bolsonaro acumulou declarações golpistas
e atualmente é alvo de investigação da PF sobre o seu papel na trama que tentou
impedir a posse do presidente eleito.
Até aqui, os elementos de prova
de atos de cunho golpista em 2022 geram controvérsia sobre qual seria o
enquadramento criminal. O debate gira em torno da questão de quais condutas
investigadas deixam de ser atos preparatórios de um crime -não puníveis- e
passam a ser uma tentativa de cometê-lo.
Sobre o general Mário
Fernandes, a PF ainda aponta haver registros de frequência nos acampamentos
golpistas em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. E que ele mantinha
relação com lideranças das manifestações que atuaram no período pós-eleição,
como nos atos golpistas do 8 de janeiro.
De acordo com a decisão de
Moraes, o general era a principal ponte do governo Bolsonaro com os
manifestantes instalados em frente aos quartéis que pediam intervenção militar.
"Mário Fernandes era o
ponto focal do governo de Bolsonaro com os manifestantes golpistas. Além de
receber informações, também servia como provedor material, financeiro e
orientador dos manifestantes antidemocráticos", diz um trecho do relatório
da PF.
Os policiais encontraram sob
posse de Mário Fernandes um outro documento do contendo um esquema mais
detalhado de "características terroristas" para o sequestro de
Moraes. O documento é denominado de "Fox_2017.docx", segundo as
investigações.
Inicialmente, o planejamento
previa o levantamento do aparato da segurança pessoal de Moraes, incluindo, os
armamentos e veículos blindados usados pelo ministro do STF.
O plano também descrevia as
principais rotas usadas por Moraes em Brasília e os principais locais que o
ministro frequentava. Apesar disso, o texto diz haver necessidade de realizar
uma análise de das áreas por 15 dias no Distrito Federal e São Paulo.
O documento também revela a
necessidade do uso de 6 celulares descartáveis da operadora Tim. Segundo a PF,
essa tática teria sido colocada em prática na operação "Copa 2022",
realizada pelos integrantes das Forças Especiais em 15 de dezembro de 2022.
Além do processo de
monitoramento de Moraes, o planejamento elaborado por Fernandes descrevia o
tipo de munição e o armamento que deveria ser usado no ataque a Moraes.
O documento previa o uso de
pistolas 9 milímetros, fuzis de calibres 5,56 ou 7,62, metralhadoras M249, e
também um lança granadas.
MINUTA DE GABINETE
Segundo os investigadores,
Mário Fernandes também elaborou uma minuta para criação do Gabinete de
Institucional de Gestão de Crise, que seria criado para cuidar da situação após
a eventual concretização do plano de matar Moraes, Lula e Alckmin.
O gabinete seria comandado pelo
então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Heleno. A
coordenação ficaria sob responsabilidade do então ministro da Casa Civil,
general Braga Netto.
Os outros cargos do alto
escalão seriam compostos pelo próprio general da reserva, Mário Fernandes, e
pelo coronel Elcio. Já a função de relações institucionais ficaria a cargo de
Filipe Martins, ex-assessor que foi preso na operação Tempus Veritatis em
fevereiro.
Entre março de 2023 e março de
2024, Fernandes foi lotado no gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello
(PL-RJ), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro.
Em nota, Pazuello informou que
o oficial foi desligado da função de assessor após ter sido "identificado
seu impedimento para exercer cargo público".
"Pazuello esclarece ainda
que só tomou conhecimento da prisão do general Mário e dos demais oficiais por
meio da imprensa na data de hoje. O deputado reafirma sua crença nas
instituições do país e na idoneidade do General Mário Fernandes, na certeza de
que logo tudo será esclarecido", diz o comunicado.
Autor:Caio
Crisóstomo/Folhapress
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