No relatório final sobre a trama golpista, a Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados deixaram o Brasil no fim de 2022 para evitar uma prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas no dia 8 de janeiro de 2023.
O ex-presidente e seus aliados deixaram o país no final de 2022 para evitar possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, conhecido também como "8/1".
Relatório da Polícia Federal diz ainda que Bolsonaro tinha conhecimento dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Segundo a PF, Bolsonaro tinha
conhecimento dos atos do 8 de janeiro e mantinha contato, através de aliados,
com os financiadores dos acampamentos em frente aos quartéis.
"O plano de fuga foi
adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa
não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos
próximos tópicos, Jair Bolsonaro, após não conseguirem o apoio das Forças
Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma
possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de
2023 ( 'festa da Selma')", diz um trecho do relatório final da PF.
Bolsonaro deixou o Brasil no
avião presidencial e passou três meses em um condomínio na Flórida. Ele costuma
citar a ausência para se desvincular dos ataques de 8 de janeiro.
Para sustentar a alegação do
conhecimento de Bolsonaro sobre os atos golpistas do início de 2023, os
investigadores da PF usam uma troca de mensagens de seu então ajudante de
ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, com o também militar Sérgio Cavaliere, que
integrava, segundo a investigação, o chamado núcleo de desinformação e ataques
ao sistema eleitoral da trama golpista.
Segundo o relatório da polícia,
em um diálogo realizado em 4 de janeiro de 2023, Cavaliere questiona Cid se há
algo ainda para acontecer. Em resposta, o então ajudante de ordens de Bolsonaro
encaminha duas mensagens que foram apagadas e complementa que é algo
"bom".
"No dia 04/01/2023,
Cavaliere pergunta se 'Ainda tem algo para acontecer?', referindo-se,
possivelmente, a uma ruptura institucional. Mauro Cid encaminha duas respostas,
que foram apagadas. Diante do conteúdo das mensagens apagadas, Cavaliere indaga:
'Coisa boa ou coisa horrível?' e em seguida diz: 'Bom'. Mauro Cid em resposta à
pergunta de Cavaliere diz: 'Depende para quem. Para o Brasil é boa'", diz
o relatório da PF sobre o diálogo.
No decorrer da conversa com Cid
encontrada pela PF, Cavaliere envia imagens de mensagens que ele teve com um
interlocutor chamado Riva -cujo relatório não apresenta mais detalhes sobre
quem seria. No diálogo, é relatado por Riva uma reunião de Bolsonaro, seu então
vice, Hamilton Mourão, e outros generais.
Nas mensagens, Riva afirma que
nesse encontro os generais "rasgaram o documento que o 01 assinou",
em referência a minuta golpista.
Em reforço a ideia de que se
tratava da minuta golpista, Riva também elogia Almir Garnier, então almirante
da Marinha, que foi o único chefe de Força que teria apoiado o golpe para
manter Bolsonaro no poder. "O Alte Garnier é patriota. Tinham tanques no
arsenal prontos", diz a mensagem.
Em seguida, Mauro Cid sugere que
Bolsonaro deveria ter rompido com a Marinha, que depois o Exército e a
Aeronáutica viriam atrás.
Por fim, Cavaliere avalia que os
militares que tinham interesses golpistas foram covardes e é endossado por
Mauro Cid. "Fomos todos [covardes]. Do PR e os Cmt F", disse o então
ajudante de ordens, em referência a Bolsonaro e aos comandantes das Forças
Armadas.
A PF afirma ainda que núcleos
próximos de Bolsonaro mantinham frequentes contatos com os financiadores dos
acampamentos em frente aos quartéis que culminaram no atos do 8 de janeiro.
Segundo as investigações,
integrantes do governo Bolsonaro mantinham uma ligação com os manifestantes
acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília. Foi de lá que saíram as
pessoas que destruíram a sede dos três Poderes no dia 8 de janeiro e também de
outro ato violento, ocorrido no fim de 2022.
No dia 12 dezembro de 2022,
quando Lula (PT) foi diplomado pela Justiça Eleitoral, bolsonaristas tentaram
invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, incendiaram carros e ônibus,
espalharam botijões de gás pela cidade e cercaram o hotel onde ele estava
hospedado.
Contas de WhatsApp vinculadas ao
general da reserva Mario Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da
Presidência no governo Bolsonaro, encaminharam mensagens para criar um
"cenário caótico" em Brasília dois dias antes da diplomação de Lula e
forçar as Forças Armadas a agir.
O comunicado identificado pela
Polícia Federal convocava os manifestantes para uma manifestação em 10 de
dezembro de 2022.
O texto compartilhado pelo
WhatsApp em 2022 dizia ser preciso fazer "a maior mobilização da história
do Brasil" em 10 de dezembro "para que o cenário caótico estabelecido
a nível nacional seja impossível de ser resolvido sem a convocação das Forças
Armadas".
O general da reserva Mário
Fernandes, preso sob suspeita de elaborar o plano para matar Lula e outras
autoridades, era um dos responsáveis pela relação com o acampamento golpista.
As provas reunidas pela investigação mostram que o general tinha contato direto
com dois dos principais envolvidos no episódio de 12 de dezembro: Klio Damião
Hirano e Rodrigo Yassuo Ikezili.
Autor:Caio Crisóstomo e Thaísa
Oliveira - Folhapress
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