Macaé falou sobre sua trajetória que a credenciou a assumir a pasta. "Eu sou professora de escola pública. Trabalhei 20 anos dentro de escolas nas comunidades mais vulneráveis de Belo Horizonte. Comecei no território de menor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] de Belo Horizonte.
Depois fui para o Aglomerado da Serra, na década de 1990, em um momento onde a comunidade tinha sua maior taxa de homicídios. Creio que temos muito trabalho a fazer. Precisamos conectar agendas, construir objetivos e metas muito claros, pra que seja possível, nesse curto espaço de tempo de dois anos, fazer diferença para cada um e cada uma nas comunidades", afirmou.
Objetivo é pedir paz e denunciar casos de intolerância e racismo.
17ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa na praia de Copacabana. | (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil) |
A Caminhada em Defesa da
Liberdade Religiosa é convocada anualmente por duas entidades. Uma delas é o
Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), que desde 1989 atua
na promoção da cultura negra como forma de combate ao racismo e à intolerância
religiosa. A outra é a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de
Janeiro (CCIR), fundada em 2008 inicialmente por umbandistas e candomblecistas,
mas que agrega atualmente representantes das mais variadas crenças.
"A intolerância cresce baseada no racismo, na homofobia, na misoginia, no antissemitismo. Temos que dar um basta nisso. E ter a ministra logo na sua primeira semana reafirma o caminho que queremos, o diálogo que queremos. No passado, ela já veio à caminhada como cidadã e militante. Veio de ônibus com o pessoal de Minas Gerais. E hoje ela está na condição de ministra. Ela recebeu o convite e confirmou antes de ser nomeada ministra", disse o babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da CCIR.
Segundo ele, desde a primeira
edição, a caminhada tem como mote a defesa da democracia, da liberdade
religiosa com equidade, da diversidade, do Estado laico e dos direitos humanos.
"A fé une. Aquilo que desune não é fé. É outra coisa. E a fé está baseada
no respeito, na liberdade e na equidade. A liberdade não pode ser só para um
grupo, a liberdade tem que ser para todos. Equidade quer dizer o quê? Quer
dizer justamente que a minha liberdade deve ser garantida e a dos outros
também. Equidade é proteger aqueles mais perseguidos, aqueles que não têm esses
direitos respeitados pela sociedade", acrescentou.
Homenagens
Os participantes começaram a se
concentrar às 10h no posto 5 de Copacabana e, por volta das 13h, iniciaram a
caminhada pela orla. Houve homenagens à professora Darci da Penha, integrante
dos Agentes de Pastoral Negros (APNs), entidade com raízes na Igreja Católica.
Ela morreu em maio deste ano. A homenagem póstuma a lideranças religiosas que
se engajaram na luta pela paz é algo que ocorre em todas as edições. No ano
passado, por exemplo, houve um tributo à líder quilombola Mãe Bernadete:
tratou-se simultaneamente de resgatar o seu legado e de cobrar justiça, já que
ela havia sido assassinada um mês antes, aos 72 anos.
Apesar da presença de
praticantes de diferentes crenças, a maioria dos participantes era vinculada a
religiões de matriz africana. No carro de som, a diversidade pautou a
programação: houve apresentações de grupos culturais umbandistas,
candomblecistas, católicos, evangélicos, entre outros.
Caravanas de outros estados
também contribuíram para engrossar o número de manifestantes. O ato contou ainda
com a presença de representantes de credos com menos expressão no país, ainda
que diversos deles tenham longa tradição no mundo como o budismo, o judaísmo, o
islamismo e a religião Wicca.
A evangélica Andressa Oliveira
afirmou que a caminhada é uma aula de harmonia, de respeito e de convivência.
Liderança do Movimento Negro Evangélico, ela explica as origens da entidade.
"Por meio do conhecimento, ampliamos nossa visão e aprendemos a combater o
racismo a partir do olhar de evangélicos. No Brasil, sabemos que a intolerância
religiosa é muito forte contra praticantes das religiões de matriz africana. E
nós temos uma conexão com eles, afinal de contas somos negros".
Ela considera que a Bíblia foi
"embranquecida" no período colonial. "A história bíblica é a
história de um povo africano oprimido e de um Deus que se levanta para
ajudá-los. Essa história sempre esteve ao nosso lado e nos foi negada pela
colonização. Então, buscamos fortalecer a negritude do cristianismo e a
atualidade dessa mensagem para quem luta contra o racismo".
Autor:Agência Brasil
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