O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a posse da nova presidente da Petrobras para tecer críticas à Operação Lava-Jato. Segundo ele, a força-tarefa foi criada apenas para o "desmonte" da estatal, e o argumento de combate à corrupção era falso. Lamentou ainda a perda de credibilidade da petroleira após os escândalos de desvios de verba e disse que quem acusou a empresa "não tem a grandeza de pedir desculpas pelo erro".
Lula participou da posse de Magda Chambriard, no Centro de Pesquisas (Cenpes) da Petrobras, no Rio de Janeiro (Foto: Ricardo Stuckert)
Lula participou da posse de
Magda Chambriard, no Centro de Pesquisas (Cenpes) da Petrobras, no Rio de
Janeiro. Foi a primeira vez em 12 anos que o chefe do Executivo compareceu à
cerimônia. Ministros, como Fernando Haddad, da Fazenda, e Alexandre Silveira,
de Minas e Energia, também marcaram presença. O presidente e Chambriard
demonstraram alinhamento sobre a gestão da petroleira, ressaltaram seu papel
social, sem ignorar os acionistas.
"Nós ainda não conseguimos
fazer as coisas com a força que a gente queria fazer porque teve um terremoto
neste país. Ou uma praga de gafanhoto, que veio para destruir aquilo que era um
sonho da sociedade brasileira", discursou Lula no fim evento. "Com o
falso argumento de combater a corrupção, a Operação Lava-Jato queria o desmonte
da Petrobras. Se fosse verdade o discurso, que se punisse os corruptos,
deixando intacto o patrimônio do povo brasileiro", acrescentou.
A Lava-Jato mirou — entre
outros — os responsáveis pelo chamado "Petrolão", um esquema
bilionário de desvio de verbas da estatal, que estourou no fim de 2014. Ao
longo dos anos, uma série de denúncias, investigações e decisões do Supremo
Tribunal Federal (STF) mostraram que os responsáveis pela força-tarefa
cometeram uma série de irregularidades e não seguiram o devido processo legal.
Lula foi acusado pelo Ministério Público de comandar o esquema. Porém, todas as
suas condenações acabaram anuladas anos depois. Por outro lado, foram
comprovados desvios na estatal, inclusive, ex-diretores da empresa confessaram os
crimes, como Renato Duque.
Sem desculpas
O chefe do Executivo
classificou a operação como uma tentativa de destruir a imagem da Petrobras e
facilitar o seu processo de privatização. Lamentou ainda que a empresa tenha
sido associada à corrupção e que engenheiros e funcionários tenham sido
pressionados a se afastarem. Para ele, a Lava-Jato tentou "mais uma vez
entregar esse extraordinário patrimônio nas mãos das petrolíferas
estrangeiras".
"Aqueles que defendiam o
fim da Petrobras são os mesmos que abriram 400 empresas de importação de
gasolina, quando o Brasil era autossuficiente na produção de gasolina",
apontou. "Quem fez toda a leviandade da denúncia contra a Petrobras,
contra muita gente neste país — pessoas, inclusive, importantes na Petrobras —,
não tem a coragem de pedir desculpas. Os acusadores não têm a grandeza de pedir
desculpas pelo erro que cometeram", disse.
Ele também citou outras
denúncias de corrupção enfrentadas pela ex-presidente Dilma Rousseff, sua
sucessora, envolvendo as obras em estádios brasileiros para a Copa do Mundo de
2014. Segundo ele, não houve provas sobre os casos de corrupção, com exceção do
Maracanã, o que teria sido corrigido antes do fim das obras. Também citou como
exemplo denúncias de corrupção contra os ex-presidentes Getúlio Vargas e
Juscelino Kubitschek, que frisou nunca terem sido provadas.
Acionistas
Lula destacou que a estatal
precisa cumprir seu papel com a sociedade, com investimentos e distribuição da
riqueza. Porém, também acenou aos investidores. "É preciso que prevaleça a
verdade para o povo brasileiro. Ninguém quer que o acionista tenha um centavo
de prejuízo. Ninguém quer que a Petrobras seja uma empresa deficitária. Eu
quero que seja lucrativa. Quanto maior o lucro, maior o investimento, mais
imposto é pago, e mais o (Fernando) Haddad vai ficar feliz com o dinheiro para
o Tesouro, para ajudar os prefeitos e os estados", afirmou.
O presidente lamentou a
privatização da Eletrobras e da Vale. Sobre a última, disse que a companhia
ainda não compensou os moradores de Brumadinho e Mariana após o rompimento das
barragens, citando que "uma empresa boa e grande tem que ter alguém
responsável por ela".
Desde o início do mandato, Lula
defende que a Petrobras foque em investimentos, e não necessariamente no lucro
dos acionistas. Isso provocou críticas do mercado, especialmente após os
ruídos, no início do ano, com o ex-presidente da estatal Jean Paul Prates sobre
a distribuição dos dividendos extraordinários. Prates voltou a favor da
destruição, contrariando a orientação de Lula. Junto a outros episódios, esse
foi o estopim para sua demissão.
Com informações Correio
Braziliense
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