Sabe-se que neste século 21 aumentaram - e significativamente - os transtornos mentais na sociedade. Depressão, transtorno bipolar, demência, esquizofrenia, ansiedade, esgotamento/burnout, este último consequência do trabalho e das quebras de expectativas em relação à vida e às demandas estabelecidas como padrões, em tese, alcançáveis.
Exploração detalhada dos desafios de saúde mental enfrentados por indivíduos encarcerados e as medidas de apoio disponíveis.
Sabe-se ainda que, por conta de
todos esses sintomas, a procura por psiquiatras, psicoterapeutas e médicos em
geral quintuplicou, o que, sob uma ótica é positivo, pois revela que muitos
buscam o equilíbrio, mas, por outro lado, é preocupante, pois não são somente
dez ou cem pessoas. Milhares de nós mundo afora estão se deixando abater por um
à primeira vista aceleramento irreversível nas relações sociais e
profissionais. Como equalizar esse quadro?
Há uma série de respostas,
naturalmente. E, acredite, há um vasto campo de possibilidades para a busca do
equilíbrio emocional. Com ou sem remédios, com a medicina tradicional ou
alternativa. O ponto de partida é o reconhecimento do sintoma, a busca por um
diagnóstico e o enfrentamento da maneira mais serena e efetiva possível. Eduardo Brim Fialho é pesidente do SEMPRE |( Divulgação)
Veja que o quadro é mundial. O
que se imagina até aqui é a pessoa em sua casa, indo ao médico, procurando por ajuda
psicológica, indo à farmácia, ligando para amigas e amigos e sendo aconselhada
e amparada. Mas, e pessoas privada de liberdade? Como lidar com isso?
Para começar, é fundamental que
se esclareça que, em 2024, a quantidade de vagas no sistema prisional é menos
que população carcerária. A pessoa, quando vai presa, em geral, não é ouvida e
nem colocada sob cuidados especiais. Ao chegar em uma unidade prisional, passa
por uma triagem, é indagada a respeito de alguns dados seus, e logo em seguida
colocada no convívio com outros internos, em uma cela com mais pessoas, de
todas as culturas, religiões, comportamentos, crimes e, a partir deste momento,
sob regras, procedimentos e limites que lhe são impostos. Um novo mundo se abre
a esta pessoa, que, a começar, perde a sua identidade e se torna um número.
Como você se sentiria se, de um dia para o outro, sua identidade se esvaísse e
no lugar aparecesse um número, integrante das estatísticas do encarceramento?
Como o seu cérebro reagiria?
Há de se pontuar, antes de
seguirmos com a resposta que, para que a pessoa esteja presa, algo falhou em
sua vida. Não importa o delito que tenha cometido. Em momento algum se deseja o
encarceramento. E o caminho até que se chegue a um sistema de prisão é complexo:
ausência dos pais, falha do Estado, vulnerabilidades de todas as ordens,
consequentemente, desequilíbrios emocionais, que se relacionam, portanto, com a
saúde mental.
Pois bem, retira-se da pessoa,
além da liberdade, sua identidade e no lugar chega o sistema, o Estado
repressor punitivo, para que se cumpra a Lei e as regras. Mas há algo da ordem
do que diz a cartilha dos Direitos Humanos e da Lei de Execução Penal, que em
resumo é o direito à vida, não à tortura, seja ela psicológica ou física, o
respeito à dignidade da pessoa humana, que sacramenta o que é o mínimo que os
protagonistas judiciários e profissionais do sistema penal precisam fazer: o
amparo psicológico às pessoas em privação de suas liberdades. No plural, pois
são muitas as liberdades. Não apenas a física.
Nas unidades plenas, que são as
geridas pelo próprio Estado, faz-se o que se pode, com a estrutura que se tem,
tamanha é a população carcerária em todo o território nacional. E faltam
estruturas físicas também, pois nem todas possuem salas para quaisquer
atendimentos.
Nas unidades em cogestão, que
são as unidades gerenciadas por uma empresa especializada, cuja direção é
sempre do Estado, consegue-se minorar os danos emocionais, através de equipes
capacitadas em todos os setores. Psicologia. Medicina. Pedagogia. Odontologia.
Terapia Ocupacional. Assistência Social.
Já na entrada da pessoa no
sistema há uma mais atenta observação de todos os setores, sobretudo, na área da
saúde emocional, pois se sabe, e não de agora, das consequências emocionais
causadas à pessoa privada de liberdade. Da não aceitação, da culpa, da
possibilidade de suicídio, da vergonha, em suma, nas unidades cogeridas, embora
ainda com visíveis janelas para aprimoramentos, já existe esse cuidado com a
saúde mental de cada pessoa que ali chega com vistas à restabelecer a saúde
mental a partir dos acolhimentos. E não apenas pelos profissionais da saúde,
mas por uma equipe multidisciplinar. A educação, as atividades laborais, as
ações lúdicas, os diálogos, as escutas. As pessoas querem ser escutadas,
olhadas, reconhecidas como são: humanas.
E é sob essa perspectiva e com
essa ciência que o Sindicato vem estudando maneiras eficientes para que,
através das suas empresas e de suas proximidades com pessoas privadas de
liberdade, possa minimizar as dores, as inadequações e, juntos, equipe,
gerências, Estado, direções, dar a cada uma delas uma esperança de um futuro
melhor do que o passado e menos doloroso do que a situação presente, o cárcere.
Autor:Eduardo Brim Fialho -
Presidente do SEMPRE (Especial para o DOL)
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