A confiança dos cearenses na liderança política de Camilo Sobreira de Santana pode ser compreendida em alguns números. Quando concluiu o segundo mandato de governador do Ceará, em 2022, a gestão de Camilo foi aprovada por 80% da população. Em outubro do mesmo ano, foi eleito Senador da República com 69,76% dos votos válidos. Licenciou-se do Senado Federal para assumir, a convite do presidente Lula, a missão de comandar o Ministério da Educação (MEC), e gerir políticas públicas de educação em um país com 47,3 milhões de estudantes.
Comenda será entregue ao ministro da Educação nesta sexta-feira (3), no Palácio da Abolição |
Em reconhecimento a essa
trajetória, o ministro Camilo Santana é um dos seis agraciados com a Medalha da
Abolição de 2024. A comenda será entregue nesta sexta-feira (3), no Palácio da
Abolição, em Fortaleza.
Sobre a homenagem, o ministro
destaca: “Agradeço de forma muito especial ao povo cearense que sempre foi
muito generoso comigo, me dando as oportunidades que tive. Tenho muita honra de
servir ao meu país em algo que eu considero fundamental para uma nação, que é a
educação do nosso povo”, afirma.
A Medalha, acrescenta Santana, é símbolo da luta em busca por liberdade e justiça social no Ceará, que foi a primeira província brasileira a libertar os escravizados, em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Para ele, recebê-la reforça a responsabilidade que tem enquanto gestor público. “Quero reiterar meu compromisso de vida, por opção de servir a política e as pessoas na vida pública, para ajudar as pessoas que mais precisam”, assegura.
Onde nasce o propósito
Camilo Santana nasceu em 3 de junho
de 1968, no Crato, cidade da Região do Cariri. É filho da assistente social
Ermengarda Maria de Amorim Sobreira e do engenheiro civil e político cearense
Eudoro Walter de Santana. Seus irmãos são Tiago, Andréa e Isabel. Camilo também
é casado com a caririense, doutora em Saúde Pública e secretária da Proteção
Social do Ceará, Onélia Leite de Santana, com quem tem três filhos: Pedro,
Luísa e José.
Ao revisitar as lembranças do
nascimento do filho, Ermengarda, 83, destaca: “Eu tive que ir para o hospital
correndo porque ele nasceu antes da hora, uns quinze dias antes. Acho que ele
estava querendo assumir o mundo logo”, relata.
No Cariri, Camilo testemunhou o
modo de viver persistente e inventivo dos sertanejos. Pessoas que, fortalecidas
na fé e na riqueza cultural, superam adversidades e prevalecem na esperança.
Eudoro Santana, 87, explica que ele e a esposa desenvolveram nos filhos a
consciência sobre o papel social que cada um tinha. Defender a democracia e a
igualdade de direitos era algo aprendido em casa.
“Todos os meus filhos têm uma
visão de mundo compatível com a nossa história de vida. Todos têm uma
compreensão que nós temos responsabilidade para melhorar o mundo e trabalhar no
sentido de construir um mundo melhor. Uns foram para a área da arte e cultura,
que também é uma área importante para a construção de uma nova sociedade, e o
Camilo foi o único a ir para a área política”, frisa Eudoro.
A família Santana descreve que
os momentos juntos são compostos por melodias, brincadeiras e boas memórias. Para
Luísa, 12, a música é um elo que une as gerações: “Meu pai gosta da música ʽAndar com fé eu vou, a fé não costuma faiáʼ, do Gil”, cita.
Pedro, 13, revela que se
diverte com o pai desenvolvendo o raciocínio lógico-matemático. “Muitas vezes a
gente brinca de bola, mas também de [jogos] de tabuleiro, é o que eu gosto
mesmo de brincar com ele”, enfatiza. José, 2, ensina a todos sobre como enxergar
o mundo com a imaginação da primeira infância.
Observando os netos, Ermengarda
recorda: “[Camilo] chorava quando tirava 9,5 na escola, porque só queria tirar
10. Além de ser perfeccionista, Camilo sempre foi ligado à matemática, jogava
xadrez, e isso é muito importante para o bom estrategista que ele é na
política”, avalia.
Onélia Santana, 42, considera
que o comprometimento com a causa pública é o que guia o marido em cada
escolha. “Ele se dedica muito, mergulha. Eu digo que às vezes esquece até da gente
para mergulhar, transformar, para fazer um mundo melhor para as pessoas,
principalmente do sertão e do interior. Ele tem essa trajetória política no
Ceará e, agora, no Brasil. Acreditamos que onde ele está pode transformar a
vida de muita gente”, reforça.
O ministro reconhece que
dedicação ao propósito de vida só é possível por conta do suporte familiar.
“Agradeço à minha esposa Onélia, meus filhos, meus pais, por ter sempre me dado
apoio para continuar nessa luta, trabalhando pelo meu estado do Ceará”,
agradece.
Compromisso
Na juventude, Camilo Santana se
formou em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Ceará (UFC),
instituição na qual também fez mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Além disso, foi aprovado como servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onde atuou como analista ambiental
e, entre 2003 e 2004, ocupou a superintendência-adjunta do órgão no Ceará.
Também foi professor da Faculdade de Tecnologia do Instituto Centro de Ensino
Tecnológico (Centec).
Durante a conclusão do
mestrado, Camilo disputou sua primeira campanha política, em 2000, pleiteando o
cargo de prefeito de Barbalha pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Na
ocasião, ele foi chamado pela banca examinadora da UFC para defender a
dissertação. “Ele foi lá, apresentou a dissertação, tirou uma nota ótima e foi
embora, em plena campanha”, narra Ermengarda.
Esse episódio, segundo ela,
demonstra como a trajetória do filho tem sido fundamentada no compromisso e na justiça
social. “Ele foi presidente do Diretório Central dos Estudantes [da UFC].
Participava de todas as lutas de movimentos estudantis, na frente, segurando
bandeiras e faixas. Muita gente pensa que o Camilo caiu do céu para ser
governador. Não foi. Ele tem uma trajetória política desde a universidade,
passando por todos os cargos públicos, chegando a ser governador e hoje
ministro. Não foi por acaso”, defende.
Em 2004, Santana, dessa vez
filiado ao Partido dos Trabalhadores, candidatou-se novamente a prefeito de
Barbalha, mas não venceu. Todavia, com determinação e espírito público, ele se
tornou uma das mais importantes lideranças do Ceará.
A liderança do diálogo
No Executivo Estadual, a
caminhada de Camilo começa quando ele é convidado por Cid Gomes, eleito
governador do Ceará em 2006, para comandar a Secretaria do Desenvolvimento
Agrário (SDA). Na oportunidade, implementou projetos que melhoraram as
condições de vida dos agricultores, proporcionando linhas de crédito,
equipamentos, assistência técnica e seguro safra para milhares de produtores
rurais.
Em 2010, Camilo foi eleito o
deputado estadual mais votado do Ceará, com mais de 131 mil votos. Porém,
retornou ao Governo do Estado, dessa vez assumindo a Secretaria das Cidades
(SCidades). Nisso, fortaleceu o programa “Minha Casa, Minha Vida” e grandes
projetos urbanos e ambientais, como dos rios Maranguapinho e Cocó.
Conhecedor das realidades dos
cearenses, Santana foi escolhido em uma convenção partidária para ser candidato
ao Governo do Estado, sucedendo Cid, que concluiu o segundo mandato à frente do
Executivo Estadual. Na chapa, Camilo teve como vice-governadora a ex-secretária
da Educação do Ceará, Izolda Cela. Os dois foram eleitos para o primeiro
mandato em 2014, sendo reeleitos em 2018, superando com folga os outros
candidatos.
Durante os dois mandatos, a
liderança e a coerência de Camilo foram evidenciadas na condução das políticas
em diversas áreas, incluindo a consolidação dos bons resultados da educação
pública cearense. Essas características, aponta Eudoro Santana, sempre fizeram
parte de quem o filho é. “Ele é uma pessoa muito franca, muito tranquila. Ele
sempre teve uma característica de líder. E isso foi aos poucos sendo comprovado
na participação dele na vida pública”, define.
A liderança, inclusive, foi
fundamental para a condução de crises como o motim de policiais militares e o
enfrentamento à pandemia da covid-19, em 2020. Nesse período, Camilo
demonstrava, além da firmeza nas ações, na defesa da ciência e da saúde
pública, o valor do diálogo. Uma importante ferramenta não só na articulação
política, mas também na aproximação com quem, segundo o ministro, mais importa:
a população.
Na pandemia, por exemplo,
Camilo Santana intensificou as transmissões ao vivo em seu perfil nas redes
sociais, para comunicar a população sobre decretos, medidas e outras ações do
Executivo Estadual. Entretanto, as lives começaram bem antes, em 2017, quando
ele deu início ao que pode ser considerado uma inovação em comunicação pública.
Semanalmente, sempre às terças-feiras,
o então governador conversava com a população por meio das redes sociais – e
assim permaneceu até o fim do segundo mandato. Essa iniciativa se consolidou,
portanto, como um canal de diálogo aberto e transparente entre gestor público e
cidadão. Hoje, o perfil de Camilo no instagram reúne 1,2 milhões de seguidores
no Instagram – até a publicação desta reportagem –, despontando como o ministro
com mais engajamento nas redes sociais.
Pela educação brasileira
Em maio de 2023, quando visitou
o Crato – sua terra natal – pela primeira vez como ministro da Educação, Camilo
Santana disse em tom emocionado: “Eu sou de uma geração que acredita que o
único caminho para transformar um país é a educação”, a declaração foi dada no
lançamento do Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação Básica.
O primeiro ano à frente do MEC
foi marcado, sobretudo, pela reconstrução das políticas públicas que vão desde
educação básica até o ensino superior, uma vez que diversos programas foram
enfraquecidos ou descontinuados no governo anterior. Para mudar esse quadro, o
ministro tem percorrido o Brasil buscando diálogo e parceria com os gestores
públicos, para conhecer as realidades e pactuar compromissos pela educação.
Nesse sentido, o MEC lançou
novas estratégias para melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem nos estados
brasileiros, além de ampliar o acesso à educação e permanência na escola.
Dentre as iniciativas, destacam-se: Pacto Nacional pela Retomada de Obras da
Educação Básica; Compromisso Nacional Criança Alfabetizada; Escola em Tempo
Integral; 100 novos Institutos Federais; e o Pé-de-Meia, uma poupança paga pelo
Governo Federal para apoiar a permanência dos estudantes no Ensino Médio. O
fortalecimento de políticas transversais, integrando outros Ministérios, também
tem sido estratégico.
Algumas dessas iniciativas têm
como inspiração experiências iniciadas no Ceará, como é o caso da Alfabetização
de Crianças na Idade Certa e da universalização do ensino em tempo integral na
rede pública do Estado e Municípios – ambas pautadas no regime de colaboração
entre Estado e Municípios.
Medalha da Abolição
A comenda, instituída em 1963,
é concedida pelo Governo do Ceará em reconhecimento a personalidades que
desenvolvem trabalho relevante para o Ceará e o Brasil.
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