A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou nesta quarta-feira (13) a PEC (proposta de emenda à Constituição) que criminaliza o porte e a posse de drogas em reação à retomada do julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que pode descriminalizar a maconha para uso pessoal.
Proposta coloca no texto da Constituição que é crime o porte e a posse de entorpecentes em qualquer quantidade.
PEC apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), coloca no texto da Constituição que é crime possuir ou carregar qualquer tipo de droga | crédito: Maurenilson Freire.
Vista como um contra-ataque do Congresso, a PEC apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), coloca no texto da Constituição que é crime possuir ou carregar qualquer tipo de droga, mesmo que seja para consumo próprio.
A PEC foi aprovada na CCJ de forma simbólica, sem a contagem de votos. Os senadores Humberto Costa (PT-PE), Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo, e Fabiano Contarato (PT-ES) registraram voto contra.
O texto ainda será levado ao plenário do Senado, onde precisa do voto de ao menos 49 dos 81 senadores em dois turnos. Se for aprovada, a proposta será enviada à Câmara dos Deputados.
O principal argumento de Pacheco e do grupo favorável à PEC é o de que a decisão do Supremo pode liberar o que chamam de "tráfico em pequenas quantidades".
No caso da maconha, parte dos ministros defende um limite em gramas para diferenciar o usuário do traficante como 10 gramas, 25 gramas ou 60 gramas. A PEC, por outro lado, não define critérios objetivos para a distinção e mantém a Lei Antidrogas, de 2006.
O texto original de Pacheco também não fazia nenhuma diferenciação sobre a punição para quem usa drogas e quem trafica. O relator, senador Efraim Filho (União Brasil-PB), sugeriu, por fim, que o usuário tenha pena alternativa à prisão, além de tratamento contra a dependência.
Com as mudanças, a PEC propõe a inclusão no artigo 5º da Constituição o seguinte trecho: "a lei considerará crime a posse e o porte, independentemente da quantidade, de entorpecentes e drogas afins sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, observada a distinção entre o traficante e o usuário por todas as circunstâncias fáticas do caso concreto, aplicáveis ao usuário penas alternativas à prisão e tratamento contra dependência".
Durante a votação, boa parte dos senadores, incluindo o relator, apontou que o STF tem invadido as competências do Congresso. "O fórum adequado para que se trate questões dessa natureza, que poderá ou não levar a descriminalização da droga no Brasil, é o Parlamento", disse Efraim.
Um dos poucos a se manifestar contra a PEC foi Contarato. Contarato afirmou a PEC não traz nenhuma inovação e que o Congresso está sendo omisso ao deixar de definir critérios claros para distinguir o usuário do traficante.
"Sabe o que vai definir,
com essa emenda que foi apresentada pelas 'circunstâncias fáticas'? Que o pobre
e preto em um local de bolsão de pobreza, se ele for flagrado com um cigarro de
maconha, as circunstâncias fáticas vão ser a cor da pele e o local do crime. A
ele vai ser atribuído tráfico de entorpecentes."
Críticos à Lei Antidrogas
apontam que a falta de critérios objetivos tem feito com que pessoas flagradas
nas mesmas circunstâncias tenham tratamento diferente de acordo com a cor da
pele e a condição social.
Durante seu voto, o ministro
Alexandre de Moraes citou um levantamento feito pela Associação Brasileira de
Jurimetria. "O branco precisa estar com 80% a mais de maconha do que o
preto e pardo para ser considerado traficante", disse o ministro.
O placar no STF está em cinco votos a três pela descriminalização do porte de maconha. Na semana passada, André Mendonça e Nunes Marques se juntaram a Cristiano Zanin e votaram contra a descriminalização.
Já o presidente da corte, Luís
Roberto Barroso, e os ministros Edson Fachin, Rosa Weber (já aposentada),
Moraes e Gilmar Mendes votaram, em sessões anteriores, a favor da
descriminalização da maconha para uso pessoal.
O julgamento no STF foi
novamente suspenso na corte depois que o ministro Dias Toffoli pediu vista
(mais tempo para analisar o processo). Logo após a interrupção, Pacheco disse
que uma eventual decisão mantendo a criminalização seria bem vista pelo Congresso.
Pacheco sinalizou aos colegas
que a PEC só será votada no plenário após as cinco sessões de debates exigidas
pelo regimento.
O presidente da CCJ, senador
Davi Alcolumbre (União-AP), defendeu agilidade. "Depois que sai da CCJ não
me cabe mais opinar se ela [PEC] vai andar rápido ou lentamente. Minha opinião
é que ande rápido", disse à reportagem.
O líder do governo no Senado,
Jaques Wagner (PT-BA), afirmou na semana passada que não sabe se o governo vai
se posicionar sobre o tema: "A gente não tem uma posição firmada de
governo. E os partidos, evidentemente, cada um terá uma posição".
Já o líder do PT, Beto Faro
(PA), disse à Folha de S.Paulo que a bancada ainda não decidiu como vai se
manifestar durante a votação no plenário. O senador afirmou, entretanto, que
acha problemático alterar a Constituição para isso.
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