A quebra de sigilo de assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostra uma troca de mensagens em que é citado um encontro sigiloso no Palácio da Alvorada entre o então mandatário e o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Carlos Horbach.
A informação se deu após a quebra de sigilo de assessores do ex-presidente.
O diálogo teria ocorrido no dia 16 de outubro de 2021 | Reprodução/ Roberto Jayme - TSE e Instagram
De acordo com
o diálogo, esse encontro teria ocorrido na manhã do dia 16 de outubro de 2021, um
sábado. Não há registro dessa reunião na agenda oficial de Bolsonaro.
"Precisamos
operacionalizar buscar o ministro do TSE onde ele estiver e trazer sem
aparecer", escreve, na véspera do encontro, Célio Faria, então chefe do
gabinete pessoal de Bolsonaro e que se tornaria ministro da Secretaria de
Governo em 2022.
A mensagem é
enviada para Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, que teve os
sigilos bancário, fiscal e telemático quebrado por ordem de Alexandre de
Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Mais cedo
naquele dia, Célio Faria havia escrito a Cid para falar do encontro. "O
chefe precisa falar com uma pessoa neste final de semana. Preciso saber o
horário e a pessoa pediu para um carro ir buscá-lo."
Nas duas
mensagens subsequentes, Faria diz que a reunião ocorreria no Alvorada e escreve
o nome do ministro Carlos Horbach.
Às 9h12 do
dia seguinte, sábado, Mauro Cid manda uma mensagem a Célio com os dizeres:
"Min TSE com o Pr". Pr é a sigla para "presidente da
República", usada pelos dois.
Procurados
por meio da assessoria, Horbach e Bolsonaro não se manifestaram. A defesa e
Mauro Cid disse que vai se manifestar nos autos do processo. A reportagem não
conseguiu falar com Célio Faria.
O mandato de
Horbach no TSE termina nesta quinta-feira (18), e recentemente ele informou ter
aberto mão da recondução.
Como Horbach
havia se posicionado a favor de Bolsonaro e seus aliados em julgamentos
importantes, a sua permanência –que em última instância depende de indicação do
Planalto– já era dada como improvável antes de sua desistência formal.
Um dos
julgamentos que o ministro se posicionou a favor do ex-presidente ocorreu em 28
de outubro de 2021, 12 dias após o suposto encontro no Alvorada.
Naquele dia o
TSE decidiu rejeitar a cassação de Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão, por
participação em esquema de disparo em massa de fake news nas eleições de 2018.
A maioria da
corte eleitoral concluiu que foi comprovada a existência de um esquema ilícito
de propagação de notícias falsas via WhatsApp em 2018 para beneficiar
Bolsonaro, mas avaliou que não se demonstrou gravidade suficiente para cassar a
chapa vencedora.
Diferentemente
da maioria, Horbach e Sérgio Banhos entenderam que não foram apresentados elementos
que permitiam chegar à conclusão de que houve algum tipo de disseminação de
fake news em benefício do ex-presidente.
Nesse
julgamento, o TSE também fixou uma tese para orientar a Justiça Eleitoral em
julgamentos sobre esquemas de disseminação de fake news via aplicativos de
mensagens.
A orientação
estabelece que é possível enquadrar esse tipo de esquema como abuso de poder
político e também como uso indevido dos meios de comunicação passíveis de levar
à cassação de mandato.
Nesse ponto,
apenas Horbach divergiu. Ele afirmou que não concorda com a ideia de considerar
o abuso em aplicativos de mensagens como uso indevido dos meios de comunicação.
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