Envelhecer é um privilégio, afinal, significa que você está vivo nesse mundo cheio de desafios. E se estiver com saúde e disposição para traçar novos planos e se manter ativo, melhor ainda! Mas, nem todo mundo pensa assim, para alguns, ter a idade mais avançada significa limitação, restringir o que se pode ou não fazer, e aí se entra na discussão do “etarismo”, discriminação ou preconceito relacionado à idade e que pode, inclusive, resultar em violência verbal, física e psicológica.
Investir em um curso superior ou em um novo trabalho após os 40 anos pode até parecer estranho para a turma mais jovem, mas é uma escolha positiva que traz realização pessoal e profissional.
Paulo Martins em sala de aula | Alberto Bitar/Diário do Pará
O
debate sobre o tema foi reaceso na semana passada, quando um vídeo em que três
jovens universitárias de Bauru (SP) viralizou e causou indignação pelo fato
delas debocharem de uma colega de turma que tem mais de 40 anos. Com frases
como “gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade”, “como desmatricula um
colega de sala?” e “não sabe o que é Google”, o trio fez a colega Patrícia
Linhares, 45 anos, chorar, mas ao mesmo tempo receber solidariedade dos demais
estudantes e ter forças para assegurar que não vai desistir do sonho da
graduação em biomedicina.
Para
quem já passou dos 40 anos e pretende fazer uma nova graduação, ou até mesmo a
primeira, com o objetivo da satisfação pessoal ou mesmo da realização
profissional, lidar com piadinhas, exclusão e preconceito pelo fato de estar em
um ambiente com predominância de jovens pode ser assustador e criar receio, mas
não deve ser motivo para desistir. Melhor sorte até aqui tem a universitária
Maria Raimunda Reis, 51 anos, que está no primeiro semestre do curso de
Farmácia, em uma universidade particular da Grande Belém. A estudante está
radiante com o novo desafio.
“Sempre
me identifiquei com essa área. Cheguei aqui em 1994, vim do interior do
Maranhão e a minha primeira oportunidade foi em uma farmácia, mesmo sem
experiência”, conta. “Trabalhei oito anos e com menos de um mês eu já tomava
conta da farmácia. Nessa época eu tinha 21 anos. De lá pra cá, trabalhei em
várias farmácias, constituí família, tive meus filhos e só tinha o Ensino
Médio”, pontua.
A
virada para o ingresso no ensino superior veio quando o filho mais velho de
“Rai” decidiu cursar Farmácia. “Eu disse que quando ele terminasse eu também
faria. Em janeiro foi a formatura dele e eu ingressei. É uma experiência nova,
formei-o e prometi que iria fazer a graduação”, explica.
A
universitária está cheia de expectativa com o futuro diploma. “Quando terminar
o curso, com 56 anos, se eu tiver oportunidade de entrar no mercado de trabalho
eu vou, caso contrário eu pretendo montar a minha própria farmácia, porque eu
gosto desse ramo”, avisa Maria Raimunda, que hoje tem uma loja de cosméticos e
produtos naturais.
O
receio é que haja preconceito na hora de disputar uma vaga de farmacêutica. “Eu
acho que sim, pela idade, os jovens têm mais oportunidades, mas também depende
da minha competência e desenvolvimento. Eu não penso nisso, tenho que
aproveitar ao máximo o tempo perdido”, avalia.
Sobre
a rotina na faculdade, ela conta que no começo ficou nervosa pelo fato de ser
mais velha que os demais. “No primeiro dia eu sentei na cadeira da frente, para
nem olhar para trás, porque achei que eles iam se assustar. Minha preocupação
era ser a mais velha da turma”, admite. “Mas depois apareceu uma colega de 44
anos, outra de 31 anos. Eles não me olharam com cara de preconceito, não senti
isso em momento algum”, assegura. “Fiz amizade com meninas de 18 anos, elas
dizem que se eu precisar de alguma coisa posso contar com elas. Eu estava
parada nos estudos há 30 anos, mas hoje me sinto parte da turma”.
Para
quem duvida, saiba que Maria Raimunda já tem até o seu “grupinho”, com colegas
de 18 a 22 anos e está muito feliz com o dia a dia de universitária. “Na minha
família todos ficaram surpresos quando souberam que eu estava na faculdade, me
deram parabéns, ficaram muito felizes”, afirma.
Já
sobre a justificativa por ter ingressado na vida acadêmica só agora, Maria
Raimunda é sincera. “Antes eu me dedicava só para a família e trabalho. Tinha
que criar meus filhos, não tinha marido, trabalhava e não tinha como estudar,
por isso tive que adiar”.
MOTIVAÇÃO
Outro
que vive o desafio de fazer a primeira faculdade aos 60 anos é Paulo Martins.
Dono de uma loja de plantas, a decisão foi por ingressar no curso tecnológico
de Design de Interiores, em uma faculdade particular de Belém. A motivação,
segundo ele, foi “a necessidade de manter a mente e corpo ativos e ocupados em
atividades prazerosas e integradas à sociedade, além da busca de novos caminhos
e possibilidades de realização”, comenta.
Segundo
Paulo, a relação com os colegas é a melhor possível. “É uma relação de
aceitação e cooperação mútua, uma boa aceitação”, conta. O novo universitário
conta que tem mesmo outros desafios para a caminhada até a formatura. “O maior
domínio das versões atuais dos programas computacionais: Word, Excel e Power
Point; e também os específicos: Autocad, Sketch-up e outros”, lista.
Assim
que conquistar o canudo, os planos de Paulo já estão traçados. “Quero exercer
atividades relacionadas ao Design de Interiores e participar de eventos, como
feiras, congressos e exposições”, se anima.
Para
finalizar, Paulo deixa um recado aos “etaristas”, do alto de sua experiência.
“É muito importante o ser humano ser produtivo na execução de atividades
relevantes para a humanidade, assim como estar integrado com pessoas saudáveis
e felizes”.
Autor:Luiz Octávio Lucas/ Diário do Pará
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