Dois dos quatro presos no último domingo (22) por suspeita de tentarem fraudar a prova do concurso da Polícia Militar do Ceará disseram em depoimento que pagariam R$ 20 mil a uma pessoa em caso de aprovação.
Os dois pernambucanos capturados na cidade de Iguatu, no interior do
Ceará, tiveram a liberdade provisória concedida em uma audiência de custódia
nesta segunda-feira (23).
A soltura do trio foi autorizada mediante pagamento de fiança de R$ 20
mil para cada, além do cumprimento de medidas cautelares, como comparecimento
trimestral para justificar suas atividades, proibição de acesso às escolas ou
quaisquer outros estabelecimentos que estejam sediando certames públicos e
proibição de contato com os demais custodiados.
Celular no banheiro e ponto
eletrônico
De acordo com o auto de prisão em flagrante, os policiais militares que
vistoriavam o concurso foram alertados por uma fiscal que um aparelho celular
havia sido encontrado no banheiro da escola onde estava sendo aplicada a prova.
No local informado, os agentes viram o celular coberto de cola,
acondicionado embaixo do cesto de lixo do banheiro. O aparelho estava
desbloqueado; ao acessar o celular, os militares encontraram a foto de um
crachá da escola Pedro Leão, em São José de Belmonte, em Pernambuco.
Diante disso, realizaram um levantamento de quais alunos advindos de
Pernambuco estavam no referido colégio de aplicação das provas e constataram
que, embora o levantamento indicasse mais alunos, somente um deles compareceu
ao certame.
O candidato foi vistoriado e os policiais verificaram que por baixo da
camisa dele estava cheio da substância cola, a mesma que estava no aparelho
celular.
Ainda conforme ao auto de prisão, ao ser indagado, o homem afirmou ter
visto o aparelho celular no banheiro, mas não lhe pertencia. Ele relatou ainda
aos policiais que veio de van e, durante seu trajeto à Iguatu, foi ameaçado por
uma pessoa, cujo nome não indicou, que lhe orientou a deixar o aparelho celular
no banheiro.
Na ocasião, ele admitiu aos policiais militares está utilizando ponto
eletrônico de comunicação em seu ouvido. Devido ao tamanho e por estar muito
profundo no ouvido, o homem precisou ser levado para ser periciado pela perícia
Forense, para remover o equipamento.
No veículo dele os policiais encontraram uma camisa com mais cola,
aparelho celular, equipamento parecido com um roteador Wi-Fi de pequeno porte,
baterias para transmissor, máscara, outros equipamentos, além das chaves de
dois quartos em um hotel em Iguatu.
Após a captura, os policiais militares fizeram campana no hotel e, por volta das 17h50, flagraram o momento que dois homens chegaram aos quartos. Ao serem abordados, os dois homens também confessaram que estavam utilizando ponto eletrônico.
Pagamento de R$ 20 mil.
Os três homens foram levados a delegacia. Em depoimento, um deles disse
aos policiais que chegou a ir fazer a prova, no entanto, quando estava dentro
do colégio, desistiu e retornou ao hotel onde estava hospedado, deixou o ponto
e saiu novamente. Ao retornar, já encontrou os militares no local.
Ainda conforme o relato de deste, há cerca de 15 dias uma pessoa entrou
em contato com ele para vender o gabarito da prova, pela quantia de R$ 20 mil.
O valor seria pago apenas quando o candidato conseguisse a aprovação no
certame. Ele aceitou a oferta, mas não chegou a fazer a prova, pois "ficou
com medo".
O terceiro homem do hotel fez um relato parecido com o de com o
anterior, que uma pessoa entrou em contato oferecendo o serviço de ponto
eletrônico de escuta para receber informações do gabarito. O homem alegou que
no dia da prova um homem lhe entregou um ponto eletrônico e uma máscara azul
tipo N95, onde havia um microfone. O combinado era que ele também pagasse R$ 20
mil quando aprovado.
O suspeito chegou a fazer a prova e quando retornou ao hotel onde estava
hospedado foi abordado pelos policiais.
Já o homem, flagrado no local de prova, admitiu usar um ponto
eletrônico, mas não confirmou participar do esquema de pagamento. O trio foi
autuado por fraude e associação criminosa.
Preso em Fortaleza.
Além dos três presos em Iguatu, outro foi preso em Fortaleza, ao tentar
entrar na sala da aplicação da prova portando um celular.
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e
Assistencial Nacional (Idecan), que atuou em parceria com a inteligência da PM,
ao perceber haver detectores de metais, o candidato pediu para ir ao banheiro e
descartou o aparelho na lixeira. Ao perceberem a manobra, os fiscais acionaram
a polícia.
O concurso de soldado da PM teve mais de 75 mil inscritos que disputam
mil vagas de contratação imediata e 500 de cadastro reserva. São 850
oportunidades para homens e 150 para mulheres. As provas do certame ocorreram
na capital e outros cinco municípios.
Por g1 CE
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