Murilo abriu os olhos, após 10 horas de cirurgia para a retirada de um
tumor no cérebro, e enxergou o amor da tia-mãe Nanda, mais uma vez, em julho.
Logo iluminou a sala com o sorriso largo pela presença de quem o acompanha há
13 anos. Presente. Neste dezembro, o menino acordou bem cedo para outro dia
inesquecível.
Ainda nem tinha a luz do Sol quando saiu de casa para receber a última
sessão de radioterapia. Tocou o sino no Hospital Albert Sabin, em Fortaleza,
para dar som ao presente difícil de descrever em palavras. O que ainda poderia
esperar naquela quinta-feira (22)?
Neste Natal, o Diário do Nordeste, que conta inúmeras histórias todos os
dias, resolveu embrulhar algumas das mais bonitas e entregá-las a você no
especial “Histórias de Presente”. Por isso, pode tirar o laço e conhecer o
Murilo Costa que aparece para inspirar nesta terceira matéria.
O menino viu o Papai Noel chegar em casa para entregar o pedido feito
numa das quase 6 mil cartinhas enviadas à campanha natalina dos Correios. Um
celular, um tênis e a certeza de voltar para Juazeiro do Norte, onde quer
agradecer ao Padre Cícero pela saúde, foram atendidos.
Esse gesto partiu da sensibilidade de um ou de uma cearense que preferiu
não ter seu nome divulgado. Ainda assim, o presente chegou com um recado
especial:
“Murilo Costa. Jovem e Sonhador. Lembre que você está vivo. O que isto
significa? Você já é um vencedor. Em tudo há um propósito. Acredite: ‘Viver é
recomeçar sempre, a cada instante. Se é pra viver, viva loucamente! Apressa-te
a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida. Viver hoje como se não
houvesse amanhã’”
“Cada dia é, por si só, uma vida”. E Murilo coleciona momentos de dor,
intensos demais para a maioria de quem tem a sua idade, marcados em cicatrizes
na cabeça. Também tem as pernas, os braços e a fala enfraquecidos pelo
tratamento.
Isso não impediu, como é importante pontuar, o paciente de se tornar
conhecido por abraços calorosos durante a internação. Ação que gostaria de
alcançar mais uma pessoa.
“Eu ia dar um abraço, dar um muito obrigado e dizer que Deus mandou esse anjo
para entregar esses presentes”, responde sobre a possibilidade de encontrar
quem realizou o seu sonho.
Eu sei que o tratamento é cansativo e tem muito sofrimento, mas desejo
que as crianças fiquem boas, que não fiquem com medo, tenham Deus no coração e
que o Papai Noel entregue presentes para elas ficarem felizes
MURILO COSTA
Paciente
As palavras saem com dificuldade devido à timidez, mas evidenciam a fé do
menino que rezou durante o tratamento para conseguir se acalmar. Essa talvez
tenha sido a lição, ainda meio borrada na memória, da avó.
Murilo foi de ônibus junto dela e do avô para a cidade onde se manifesta
a religião de forma particular aos 4 anos. “Se Deus quiser, vou poder ir para o
Juazeiro do Norte encontrar o Padre Cícero e dizer muito obrigado por estar em
pé e vivo”, projeta.
AMOR DESDE O NASCIMENTO
Nesta data, quem compartilha da mesma fé, celebra o nascimento de Jesus, que
nasceu de forma humilde. Murilo também chegou nesse mundo assim, em Massapê, na
região Norte do Estado. A avó e a tia-mãe Nanda fizeram de tudo para o menino
ser bem criado.
“Quem criou ele foi minha mãe e eu sempre estive por perto, desde que
ele chegou, eu até banhei. Ela dizia que ele era a vida dela e me passou essa
missão de vida. Nanda cuida do Murilo pra mim”, conta com os olhos marejados,
ao lembrar da morte da mãe em 2015.
Esse compromisso de amor foi requerido de uma forma especial, neste ano, quando
Murilo caiu durante uma brincadeira e começou a sentir dores na perna que não
passavam. “Eu me ajoelhei chorando e pedi para o Senhor me mostrar um bom
médico”, conta Nanda.
Murilo foi acompanhado, além da equipe médica do Hospital Albert Sabin,
pelos profissionais do Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio) e da
Associação Peter Pan. O menino ganhou o carinho da equipe médica, que o levou
até para um jantar na praia de Fortaleza.
“No dia da cirurgia eu ficava pensando ‘meu Deus, o que vai acontecer?’.
Os médicos e psicólogos me ajudaram e quando eu estava na UTI, abri os olhos e
vi a cara da minha madrinha e da minha mãe”, lembra.
Uma das pessoas mobilizadas para o atendimento foi Sandra Albuquerque,
coordenadora clínica de neurocirurgia do Hospital, que mantém o paciente no
coração. “Ele pode estar onde estiver, levanta, corre e vem me abraçar com uma
gratidão imensa pelo que ele passou e por ter realizado tudo que precisava para
ter saúde”, conta.
A médica dá uma dimensão do diagnóstico do menino: um glioblastoma grau
4. Esse é o tipo mais grave da doença que afeta o sistema nervoso central
“Ele fez a cirurgia e foi encaminhado para a oncologia para fazer o tratamento
complementar com quimio e radioterapia. Se não opera, a criança não tem chance
de sobrevida”, frisa a especialista.
CURA DE PRESENTE
Murilo concluiu as sessões de radioterapia previstas no tratamento, mas ainda
não há uma data definida para a viagem devido à imunidade dele, que ainda
precisa ser acompanhada. Os médicos do menino devem o observar de perto por 5
anos até oficializar a cura.
Ter essa surpresa, no entanto, faz parte do processo para alcançar a
saúde plena. “A gente precisa trazer um pouco de conforto do lado espiritual e
humano”, detalha Sandra sobre o tratamento contra o câncer.
Por isso, surpresas como a que o paciente teve ao ser contemplado pela
campanha natalina são parte de um cuidado afetuoso. E esse remédio tem muita
eficácia, como comprova a médica nos 15 anos de atuação no Hospital.
“O que eu observo na minha enfermaria, depois de uma confraternização,
são as crianças com melhora no estado geral e as mães ficam agradecidas porque
os filhos passam muito tempo internados. É um momento de muita dor e de muito
sofrimento pelo diagnóstico”, conclui.
Foto: Fabiane de Paula / Fonte: Diário do Nordeste
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