O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende alardear à população o que aliados consideram um cenário caótico no país como forma de evitar ser cobrado por eventuais erros da gestão de Jair Bolsonaro (PL) e dar a dimensão do que pode ser feito no início do governo.
A estratégia servirá para ele não ser cobrado pelo desgoverno de Jair Bolsonaro.
Lula não quer ser cobrado por coisas que Bolsonaro não fez | Reprodução |
Os dados a serem apresentados pelo petista constarão em relatório
produzido pela equipe de transição. O documento vai mostrar, por meio de dados
e informações, a situação econômica herdada de Bolsonaro em diversas áreas e
seus impactos para a próxima gestão.
Segundo um aliado, o presidente eleito pediu que o
relatório seja um consolidado didático, para ser amplamente divulgado à
sociedade.
A equipe da transição irá redigir um documento específico a ser entregue
a cada ministro nomeado e uma síntese ao petista. Um resumo inicial será
apresentado no domingo (11) ao presidente eleito, mas deve ser focado na
estrutura da Esplanada.
Os dados servirão para Lula decidir o tamanho de
cada ministério e quais órgãos eles devem abrigar.
Entre as indefinições está, por exemplo, o destino
do que será a Secretaria de Clima ou Autoridade Climática. Parte de aliados do
presidente eleito entende que ela deva ficar sob o guarda-chuva do Ministério
do Meio Ambiente. Outra parte quer que seja subordinada à Presidência da
República.
Uma vez que definir esse organograma, Lula deve
fazer novas escolhas de ministros.
Depois dessa primeira parte, a equipe de transição
continuará debruçada sobre as informações para ampliar a síntese e incluir
emergências orçamentárias, alertas do TCU (Tribunal de Contas da União) e
sugestões de revogações, por exemplo.
Aliados de Lula dizem que a ideia é dar o máximo de publicidade ao tema.
A intenção é fazer uma espécie de "vacina", para preparar a sociedade
sobre o que será possível ou não ser feito a partir de 2023.A situação deve,
inclusive, ser explorada no pronunciamento da posse do presidente eleito,
marcada para 1º de janeiro, ainda que sem citar nominalmente o presidente
Bolsonaro.
O próprio petista tratou do assunto em declaração
que fez à imprensa ao anunciar os primeiros nomes de seu ministério na manhã
desta sexta-feira (9). E indicou que deverá dar publicidade a essa síntese
entre os dias 22 e 23.
Lula disse que irá apresentar, "sem fazer um show de
pirotecnia", a situação encontrada em áreas como educação, saúde e ciência
e tecnologia. "Para que a sociedade saiba. Porque se não apresentarmos
agora, seis meses depois estará nas nossas costas os desmandos feitos pelo
atual governo", disse.
O presidente eleito afirmou ainda que a atual
gestão é "um governo com o corpo muito grande e a cabeça muito
pequena" e que não "preparou a administração desse país".
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), também
na sexta, afirmou que o texto terá diagnóstico, sugestões de revogações e
propostas de estrutura para cada área, assim como "alertas para os
primeiros meses do governo, emergências orçamentárias e ações
prioritárias".
O tema foi tratado pela presidente do PT, Gleisi
Hoffmann (PR), em reunião com o conselho político da transição, grupo formado
por representantes de 13 partidos aliados, e em reunião do diretório nacional
do PT, ambas na quinta-feira (8).
Segundo o relato de
um participante do conselho político, a ideia é ressaltar a situação até mesmo
como forma de garantir um crédito junto à sociedade dos limites que a nova
gestão irá enfrentar, assim como para gerar margem de compreensão do cenário.
Dessa forma, esse tema irá permear as declarações
da equipe de transição e do futuro governo. Segundo integrantes da equipe, o
objetivo é dar a dimensão do que o governo eleito vai enfrentar.
Os relatórios preliminares de cada grupo, de acordo
com quem tem acesso ao processo, mostram sérios problemas de gestão, que
apontam para risco de descontinuidade de programas, por exemplo.
Os piores cenários estão nos programas de combate à
fome, saúde, educação, segurança e previdência.
Em coletiva de imprensa para anunciar os resultados
do grupo de trabalho do Planejamento, o ex-ministro Aloizio Mercadante, que
coordena as equipes técnicas, afirmou que Bolsonaro "quebrou o país".
No dia anterior, integrantes do grupo técnico da Educação da transição
disseram que o ministério "está sem limite financeiro" e que essa é uma
"preocupação imediata". A afirmação foi feita depois de encontro com
o comando atual da pasta na segunda (5).
Em outra área, como mostrou a Folha, a transição
constatou que há problemas de dados na área da saúde.
A equipe de Lula recebeu a informação de conselhos
estaduais e municipais de saúde mostrando que o ministério comandado por
Marcelo Queiroga avisou, no fim de outubro, que não havia registros de ao menos
30 milhões de dados de doses aplicadas no SUS.
Integrantes da transição dizem que há ainda falta
de recursos para produção de medicamentos estratégicos. Foi identificado também
uma demanda reprimida de processos a serem analisados no setor da Previdência.
O governo de transição tem 32 grupos temáticos e, e
tem mais de 900 integrantes –nem todos são remunerados, a maioria atua de forma
voluntária.
Autor: JULIA CHAIB E VICTORIA AZEVEDO
/FOLHAPRESS
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