A defesa da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, 61, afirmou que irá pedir a nulidade do júri que a condenou neste domingo (13), devido a uma prova utilizada pela Promotoria que não estaria nos autos do processo.
A argumentação é de que a Promotoria usou provas que não estavam no processo. A ex-deputada federal foi condenada pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo.
![]() |
Ex-deputada alegou, até o último instante, ser inocente | Reprodução |
O pedido de anulação também será baseado em um
comentário que o assistente de acusação, Ângelo Máximo, fez em relação ao
direito constitucional dos réus permanecerem em silêncio.
O crime ocorreu em junho de 2019, quando o pastor foi atingido por
disparos na garagem de sua casa que lhe causaram 33 ferimentos. Ela também foi
considerada culpada por uma tentativa de homicídio do pastor com uso de veneno,
falsificação de documento e associação criminosa armada.
O último dia de julgamento durou 23 horas, com
pequenos intervalos. Advogados de defesa afirmam que não tiveram acesso a um
depoimento dado por Raquel dos Passos Silva e Rebeca Vitória Rangel Silva,
netas de Flordelis, ao Conselho Tutelar e que fora apresentado aos jurados por
volta das 22h de sábado (12). Por causa disso, querem a dissolução do conselho
de sentença.
O documento foi exibido pela Promotoria ao final da
fala da acusação, enquanto argumentavam que a ex-deputada pode ter usado Paula
Barros, a Paula do Vôlei, ex-jogadora da seleção brasileira e psicóloga, para
manipular os depoimentos durante a investigação do crime.
À Folha de S.Paulo, Paula Barros disse que foi abordada por um assessor
de Flordelis para ajudar no caso, após os familiares darem depoimentos na
delegacia.
"Nunca preparei ninguém para depoimento
algum", afirmou.
Paula acompanhou quase todos os dias de julgamento
e cantava louvores no corredor do fórum de Niterói, região metropolitana do
Rio, de mãos dadas com filhos de Flordelis.
Promotores e advogados de defesa entraram em embate
por causa do relato da suposta manipulação, e os defensores ameaçaram deixar o
julgamento, mas decidiram por recorrer em instâncias superiores.
"[A Promotoria] utilizou um documento que não estava no processo e
que a defesa não teve acesso. Eles utilizaram de forma argumentativa. E o
segundo [motivo] foi que o assistente de acusação fez menção ao silêncio dos
acusados em prejuízo deles, o que tecnicamente é uma nulidade que está prevista
no processo penal, que ele não poderia ter feito aquilo", declarou Rodrigo
Faucz, advogado de Flordelis.
Faucz referiu-se ao fato do assistente de acusação,
contratado pela família da vítima, afirmar aos jurados que "em 18 anos de
carreira nunca viu um inocente não responder perguntas do juízo". A
afirmação foi rechaçada pela Promotoria ainda em julgamento, mas a defesa afirmou
que a declaração violava os direitos constitucionais dos seus clientes.
Promotoria diz que também vai recorrer Além da pastora, Faucz e Janira
Rocha representavam Rayane dos Santos de Oliveira, neta de Flordelis, André
Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira, filhos afetivos da ex-deputada. Os três
foram inocentados pelos jurados. A romotoria disse que irá
recorrer."Flordelis é manipuladora, vingativa e assassina. Vamos
apresentar os recursos contra a absolvição dos demais réus no prazo
processual", disse o promotor Décio Viegas.
Os três foram absolvidos das acusações de homicídio
triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.
Eles choraram ao escutar a absolvição e se abraçaram. Flordelis e a filha
Simone Rodrigues não quiseram ficar presentes na leitura da sentença, feita
pela juíza Nearis Acre, da 3ª Vara Criminal de Niterói, região metropolitana do
Rio.
Simone foi condenada a 31 anos, 4 meses e 20 dias
de reclusão, em regime fechado, por homicídio triplamente qualificado,
tentativa de homicídio e associação criminosa armada.Ela chegou a afirmar em
depoimento anteriores ter sido a mandante do crime ao revelar os abusos sexuais
que sofrera ao irmão Flávio Rodrigues, mas mudou a versão no julgamento. Agora,
diz que o irmão fez por vontade própria após tomar conhecimento dos supostos
abusos.
Sobre os abusos relatados, a investigação não constatou
indícios a respeito. A promotora Mariah Paixão disse que essa era uma
"tese conveniente e que colocava Anderson do Carmo no banco dos réus".
FOLHAPRESS
0 Comentários