Só tem uma coisa mais
rara do que a oposição vencer eleição estadual no Ceará: uma candidatura sair
vitoriosa sem uma base sólida de prefeitos. Pode até não ser majoritária, mas
precisa ser competitiva. Em 2006, Cid Gomes rachou a base do governo Lúcio
Alcântara. Em 2002, José Airton Cirilo conseguiu adesões importantes no segundo
turno, articuladas por nomes como Eunício Oliveira e Sergio Machado — não
ganhou, mas passou perto. O mesmo se deu quando Eunício enfrentou Camilo
Santana em 2014, com forte base de apoios. Prefeitos e deputados são os alicerces
da política no Ceará. Eles se retroalimentam mutuamente nas eleições de dois em
dois anos. Precisam uns dos outros, e dão sustentação ao poder estadual. Por
isso a guerra de bastidores para tentar atrair prefeitos para algum dos lados.
O
ex-governador Camilo Santana (PT) tem jogado pesado e tem conseguido abrir
defecções dentro do grupo Ferreira Gomes. Para isso conta com dois
articuladores fortes no Interior: Eunício Oliveira (MDB) e Zezinho Albuquerque
(Progressistas), este último que foi importante na montagem das bases dos
próprios Ferreira Gomes. O trio, mais o deputado federal José Guimarães (PT) e
ainda o respaldo do Governo do Estado estruturam um respeitável suporte para
Elmano Freitas (PT). Até a noite de ontem, seis prefeitos do PDT declararam apoio
ao petista, e quatro disseram que iriam se desfiliar, a exemplo de Izolda Cela.
Do
lado de Roberto Cláudio (PDT), a articulação nos municípios sofre sem a
presença de Cid Gomes (PDT). Há sinais de certa perplexidade na base política
do grupo. Um trunfo no Interior, que ontem já entrou em campo, é o candidato a
vice-governador, Domingos Filho, com a força do PSD. Quando ainda havia dúvidas
sobre se o partido teria a vaga de vice do PDT, integrantes de outros partidos
consideravam certa e apontavam o motivo: os pedetistas precisavam do apoio de
Domingos. E isso quando o rompimento com o PT ainda não estava evidente. Ontem,
ele demonstrou nível considerável de coesão do partido, embora durante a noite,
o prefeito de Icapuí, Lacerda Filho, tenha anunciado a saída para apoiar
Elmano.
Apesar
de tudo, Roberto Cláudio ainda tem a maioria das prefeituras ao seu lado.
Sofreu perdas significativas, mas não a ponto de virar o jogo. As articulações
seguem em curso e há contra-ataques. O prefeito petista de Quixelô, Adil
Júnior, declarou apoio a Roberto Cláudio. Já próximo a RC de algum tempo, o
prefeito de Milhã, Alan Macêdo (PL), foi outra adesão. O partido dele está com
Capitão Wagner (União Brasil).
A
articulação comandada por Camilo não quer criar um cerco apenas político contra
Roberto Cláudio. O objetivo é construir também uma asfixia financeira. Coisas
de grupo que ficou junto muito tempo, eles conhecem mutuamente as fontes de
doações. Essa guerra de estrutura é outra das trincheiras em que o
enfrentamento ocorre nos bastidores.
Nessa
disputa por prefeitos, Wagner está em desvantagem. Tem partidos, tem apoios
significativos, terá tempo e tem apoio do Governo Federal. Porém, na disputa
pelos gestores municipais a desvantagem é considerável. Ele já contabiliza um
punhado de apoios, mas longe das grandes máquinas. É, hoje, uma das duas
grandes desvantagens de uma candidatura que tem cenários bastante favoráveis.
Outra dificuldade é a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que o apoia.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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