Assombra Bolsonaro o que aconteceu com a ex-presidente da Bolívia, Jeanine Añez, condenada à prisão por tramar um golpe de Estado, em 2019.
Foi o que ele mesmo admitiu em entrevista a jornalistas brasileiros à
saída de uma churrascaria, ontem à tarde, em Orlando, nos Estados Unidos:
“A turma dela perdeu [as eleições], voltou a turma
do Evo Morales [ex-presidente, deposto por um golpe militar]. O que aconteceu
um ano atrás? Ela foi presa preventivamente. E agora foram confirmados 10 anos
de cadeia para ela. Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma
correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos por atos antidemocráticos?
Ou seja, é uma ameaça para mim quando deixar o governo?”
Alexandre de Moraes, ministro do
Supremo Tribunal Federal, chefia, ali, um inquérito que investiga a rede
bolsonarista de distribuição de notícias falsas e de financiamento de atos
hostis à democracia. Bolsonaro, que uma vez o chamou de “canalha”, agora
sugeriu que Alexandre é “um psicopata”:
“Isso
nunca ocorreu no Brasil. Uma pessoa apenas decide. Ele faz um inquérito, que
não tem a participação do Ministério Público, e investiga por fake news. O que
esse cara tem na cabeça? O que é que ele está ganhando com isso? Quais são seus
interesses? Ele está ligado a quem? Ou é um psicopata? Ele tem um problema.”
Bolsonaro voltou também a atacar o ministro Luís
Roberto Barroso, chamando-o de “mau caráter” e “mentiroso”. Desta vez deixou em
paz o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a quem
acusa de ser “marxista e leninista”, mas não a Lula, que acusou de ser
corrupto.
Sobre urnas eletrônicas? Voltou a
falar em risco de fraudes caso os militares não possam participar de modo mais
ativo da apuração dos votos. Lamentou que o tribunal tenha rejeitado ofício que
lhe enviou o Ministério da Defesa pondo em dúvida o sistema eleitoral. Para
variar, Bolsonaro mentiu. O tribunal não rejeitou o ofício.
Das 15 propostas feitas pelas
Forças Armadas, 10 foram acolhidas, quatro estão em análise para as eleições de
2024, e apenas uma de fato foi rejeitada. Bolsonaro não se emenda. Seus
auxiliares da área política comemoravam os efeitos positivos de sua viagem aos
Estados Unidos quando souberam o que ele disse em Orlando.
Se dependesse deles, Bolsonaro
pararia de atacar ministros do Supremo e de pôr em dúvida a segurança das
urnas. Ele está 21 pontos atrás de Lula em recente pesquisa Datafolha. Seu
principal objetivo deveria ser atrair votos do centro, e isso só será possível
se ele moderar o discurso. Do jeito que vai, acabará derrotado.
Do Blog do Noblat
0 Comentários