Em dezembro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou a vacinação contra a covid em crianças. Inicialmente, só tinha sido autorizada a utilização do imunizante da Pfizer para a população entre 5 e 11 anos.
Técnicos do órgão foram bombardeados de ataques após a autorização da vacina para crianças de 5 a 11 anos. As ameaças pioraram após o presidente Jair Bolsonaro declarar que revelaria o nome dos responsáveis pela autorização.
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Nesta semana, por unanimidade, a Anvisa autorizou o uso
emergencial da vacina Coronavac em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos. O
voto dos diretores segue a recomendação da área técnica.
O pedido do Instituto Butantan era para utilizar as
doses em crianças a partir de 3 anos. No entanto, a agência reguladora entendeu
que não existem dados suficientes para reduzir a vacinação contra a Covid-19
até essa idade. A avaliação também veta o uso do imunizante em crianças e
adolescentes imunocomprometidos.
Após as aprovações, os diretores e técnicos da
Agência de Vigilância Sanitária receberam mais de 300 ameaças desde que entrou
em pauta a discussão sobre a vacinação de crianças para a Covid-19. Os ataques
mais recentes chegaram após a agência dar aval a aplicação da Coronavac no
grupo de 6 a 17 anos.
A agência tem informado a Polícia Federal e o STF
(Supremo Tribunal Federal) sobre as ameaças.
As ameaças se
tornaram mais frequentes após o presidente Jair Bolsonaro (PL), que é vetor de
desinformação sobre a imunização, afirmar que iria expor nome de técnicos do
órgão que aprovaram o uso de doses da Pfizer na faixa de 5 a 11 anos.
O chefe do órgão regulador, Antonio Barra Torres,
disse à Folha no fim de dezembro que Bolsonaro (PL) estimula crimes de ameaça
contra integrantes do órgão.
Bolsonaro ainda sugeriu que havia
"interesses" da Anvisa na aprovação das vacinas. Barra Torres, antes
aliado de Bolsonaro, reagiu e cobrou retratação.
Na quinta (20), durante a votação que liberou a
Coronavac aos mais jovens, técnicos da agência receberam ameaça afirmando que
"o preço que vc vai pagar será altíssimo (sic)".
"É uma vergonha ver vcs que não poupam nem os
pequeninos da ganância louca e o interesse mercenários, como brasileira sinto
vergonha de vc!! (sic)", afirmava o mesmo ataque, recebido por e-mail.
Na mesma data, outra pessoa também citou um
"preço a ser pago" pela aprovação das vacinas em email com ameaça.
"E o preço a ser pago será terrível não quero
estar na sua pele e oro a Deus em desfavor de todos que tem causado dor e
sofrimentos ao seu próximo, lembre se o próximo pode ser dentro de sua
família", afirmava a mensagem.
Os ataques mais recentes foram revelados pelo
jornal O Globo e confirmados pela Folha.
A agência liberou o
uso da vacina da Pfizer e da Coronavac a menores de idade. A primeira pode ser
aplicada no público acima de 5 anos, enquanto a vacina distribuída pelo
Butantan tem aval para o grupo de 6 anos ou mais.
"Seu lugar em Guantánamo está reservado para
aqueles que cometem crime contra a humanidade. Aguarde (sic)", afirmou
ainda outra ameaça, enviada à agência no último dia 18.
Neste sábado, o presidente Bolsonaro voltou a
minimizar o número de mortes de crianças por coronavírus.
"Se você analisar, 2020, 2021, mesmo na crise
da coronavírus, ninguém ouviu dizer que estava precisando de UTI infantil. Não
teve. Não tivemos. Eu desconheço criança baixar no hospital. Algumas morreram?
Sim, morreram. Lamento, profundamente, tá. Mas é um número insignificante e tem
que se levar em conta se ela tinha outras comorbidades também", disse.
De acordo com dados do Sistema de Vigilância
Epidemiológica da Gripe, desde o começo da pandemia até 6 de dezembro de 2021,
foram registradas 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19 no
país.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem
estimulado o discurso de ala bolsonarista contrária à vacinação das crianças.
Gestores do SUS cobram que Queiroga, além de atuar na compra das doses, faça
campanha de estímulo a imunização das crianças.
Em dezembro, o ministro afirmou
não ver problema na divulgação de nomes de técnicos da Anvisa, na mesma linha
do que fez Bolsonaro.
FOLHAPRESS
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