A ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez é fator de risco para o desenvolvimento da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que pode levar a deficiências físicas e distúrbios de neurodesenvolvimento, alerta a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
A médica Conceição Segre, coordenadora da Campanha de Prevenção à
SAF da SBP, afirma que atualmente não há tratamento que leve à cura da
síndrome, que pode levar a danos irreversíveis, como retardo mental e anomalias
congênitas. Por isso, é importante que se reforce as ações de conscientização
para a prevenção. Nesta quinta-feira (9), é lembrado o Dia Mundial de Prevenção
da SAF.
“O que se recomenda é que, durante a gestação, a gestante não
ingira nenhuma, zero, quantidade de álcool, porque a gente não sabe, até hoje a
ciência ainda não descobriu, se tem alguma quantidade segura [de ingestão]. O
que se sabe é que qualquer quantidade de álcool em qualquer momento da gestação
pode atingir o feto e causar a Síndrome Alcoólica Fetal, completa ou parcial”,
disse.
Conceição explica que o álcool passa facilmente pela placenta e
atinge o feto, podendo causar várias lesões, principalmente, no sistema nervoso
central. “A síndrome pode ser completa ou parcial. Quando é completa, ela se
manifesta em defeitos na face, então o bebê tem uma característica facial
bastante peculiar, ele tem lábios finos, pálpebras pequenas, a face dele pode
ser reconhecida já no nascimento.”
Se o bebê não apresenta essas características já ao nascer, ele
pode mais tarde manifestar sintomas que aparecem, em geral, na idade escolar.
Ou seja, a criança não vai bem na escola, tem problema no aprendizado ou ainda
apresenta distúrbios de comportamento.
“A doença não tem cura, não tem nenhum tratamento curativo. O que
existe é tratamento de apoio, com psicólogos, equipe multiprofissional,
terapeutas ocupacionais, psiquiatras, enfim, é um tratamento complicado e
caro”, disse a especialista.
Segundo a médica, em países como o Canadá, Alemanha e França, há
investimento em campanhas de prevenção que conscientizam a população. “Aqui, no
Brasil, se faz muito pouco a respeito. A gente, aliás, não sabe nem qual é a
frequência oficial, dados do Ministério da Saúde, sobre a Síndrome Alcoólica
Fetal.”
“O que se aceita, o que se admite, são os dados da literatura, de seis
a nove pessoas afetadas por mil nascimentos. Mas isso é dado de literatura, não
é dado brasileiro específico”, disse.
A Sociedade Brasileira de Pediatria tem uma plataforma com o
objetivo de ampliar a conscientização das mães e profissionais da saúde sobre
os danos da ingestão de álcool durante a gravidez para os bebês.
O Ministério da Saúde (MS) informou que as equipes da Atenção
Primaria à Saúde (APS) são orientadas a investigar o consumo de álcool das
gestantes durante o pré-natal e, se necessário, recomendar o tratamento ou a
interrupção do consumo de álcool durante a gestação. No período de 2017 a 2021,
foram registradas 39 internações de bebês diagnosticados com a SAF, segundo
dados da pasta.
“A equipe que atende gestantes deve reconhecer o quadro e sua
complexidade, encorajando a gestante a entender os efeitos deletérios do álcool
durante a gravidez e assim participar de programas de tratamento se for o caso
ou atender à recomendação de não beber durante a gestação”, diz o ministério,
em nota.
A pasta afirmou ainda que, segundo o Manual Técnico sobre Gestação
de Alto Risco do Ministério da Saúde, além de provocar a Síndrome Alcoólica
Fetal, o alcoolismo pode ser uma das causas de descolamento prematuro de
placenta.
De acordo com o ministério, a síndrome pode estar relacionada ainda
ao baixo peso para a idade gestacional, malformações na estrutura facial,
defeitos no septo ventricular cardíaco, malformações das mãos e pés, além de
retardo mental que varia de leve a moderado. Problemas no comportamento e no
aprendizado também podem persistir pelo menos durante a infância.
Repórter Ceará –
Agência Brasil
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