Entrar em um supermercado para fazer as compras do mês tem sido uma verdadeira missão para quem vive com um salário mínimo. E, ao que tudo indica, a vida do trabalhador brasileiro continuará se resumindo em contar as moedas para garantir o pão de cada dia na mesa.
A equipe econômica que definiu o novo valor do salário mínimo usou uma estimativa de inflação defasada.
O governo prevê que o salário mínimo subirá para R$
1.169 a partir de janeiro de 2022. Hoje, o piso salarial é de R$ 1.100 por mês.
O valor, porém, tende a ser elevado nos próximos
meses, pois, para calcular o aumento, a equipe econômica usou uma estimativa de
inflação defasada.
A conta do reajuste considera que a inflação
(medida pelo INPC) será de 6,2% até dezembro. No entanto, as projeções do
mercado já apontam para uma inflação acima de 7%.
A nova estimativa para o salário mínimo foi
incluída na proposta de Orçamento de 2022, enviada ao Congresso nesta
terça-feira (31).
O projeto orçamentário foi elaborado num cenário
que é considerado por economistas como irreal.
Para a elaboração das contas do ano que vem, a
equipe econômica optou por manter as projeções econômicas divulgadas em julho.
No entanto, diante das oscilações do mercado nas últimas semanas, as previsões
para os indicadores tiveram mudanças significativas.
No caso do INPC (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor), que baliza o reajuste do salário mínimo -também é usado em acordos
e negociações coletivas de trabalho-, a previsão do Ministério da Economia
apresentada em julho considera uma alta de 6,2% no ano, enquanto o mercado e
também integrantes do governo esperam um crescimento mais forte.
Em agosto, o
secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno
Funchal, apresentou um cenário de inflação mais forte e disse que as
estimativas do mercado já apontam para um patamar de 7,2% para o INPC no ano.
O Ibre FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da
Fundação Getulio Vargas) estima que o índice encerrará o ano em 8%.
A Constituição determina que o salário mínimo deve
garantir a manutenção do poder de compra do trabalhador. Por isso, o valor tem
que ser corrigido pela inflação.
Para 2021, o governo anunciou o aumento para R$
1.100, considerando uma projeção do comportamento dos preços no fim do ano
passado. Só que a inflação, medida pelo INPC (e divulgado pelo IBGE), foi mais
acelerada.
Por isso, o governo precisa ainda conceder um
aumento adicional de aproximadamente R$ 2 no piso salarial.
O governo ainda não contabilizou esse reajuste
retroativo de R$ 2 no salário mínimo ao construir o projeto de Orçamento do
próximo ano. No entanto, essa mudança no valor também deverá ser feita até
dezembro.
Isso deve causar uma pressão ainda maior no
Orçamento de 2022. Em abril, quando o governo apresentou a LDO (lei que dá as
bases para que o Orçamento seja elaborado), a projeção era que o salário mínimo
iria para R$ 1.147, mas o valor precisou ser corrigido por causa da aceleração
da inflação.
Segundo dados do governo, a cada aumento de 0,1
ponto percentual no INPC, há uma expansão de R$ 771,9 milhões nas despesas
públicas.
Gastos do
governo, como aposentadorias, pensões e seguro desemprego, são atrelados ao
valor do salário mínimo. Se o valor do piso sobe, os recursos necessários para
bancar essas despesas também precisam subir.
FOLHAPRESS
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