Há mais de dois meses, o montador de móveis Carlos José de Souza, de 39 anos, aguarda ser transferido para Fortaleza para passar pelo procedimento de reconstrução multiligamentar. Vítima de uma colisão de moto, em Juazeiro do Norte, chegou a ficar internado no Hospital Regional do Cariri (HRC) por cinco dias, onde passou por cirurgia. Seu caso contabiliza a infeliz estatística de acidentes de trânsito que cresceram nos seis primeiros meses deste ano, em comparação a 2020, nas principais cidades do interior do Estado e, também, nas rodovias estaduais.
À espera da nova operação na capital cearense, Carlos José não tem conseguido trabalhar e deve permanecer assim, segundo os médicos, por aproximadamente um ano e meio. “Não disseram nem o dia, nem o mês da cirurgia”, lamenta.
O impacto da batida, além de fraturar a perna direita, causou uma luxação e
instabilidade nos ligamentos do joelho. Sem poder andar, acaba dependendo
de cesta básicas de amigos para sobreviver. “Não vai ser fácil (esse
período)”, completa.
IGUATU EM ALERTA
Dos cinco municípios com população acima de 100 mil habitantes no
interior, a cidade de Iguatu apresenta os números mais preocupantes. Até junho
deste ano, já foram registrados 104 acidentes de trânsito, igualando o total
ocorrido em todo o ano de 2020 com as mesmas 104 ocorrências. Além disso, se
aproxima da quantidade ocorrida em 2019 (138), ano anterior à chegada
da pandemia da Covid-19, quando a circulação de veículos era maior.
Com o alerta causado pelo último semestre, Jackson conta que foi feito
um mapeamento, tanto da zona rural como da urbana, dos locais onde houve o
maior número de acidentes. “Daí, intensificamos o trabalho de fiscalização
juntamente com o Detran e a Polícia Militar com a finalidade de diminuir estes
números. Recentemente, fizemos blitz educativa e já estamos programando outra
para este mês de julho”, antecipa.
CRESCIMENTO TAMBÉM EM ITAPIPOCA
Para conter esse avanço, a AMTI tem apostado na educação através das
redes sociais e das rádios locais. No maio amarelo, mês dedicado à segurança no
trânsito, foram realizadas blitz educativas e repressivas.
Sobre o uso de capacete, David acredita que 98% dos condutores tem
aderido. “Ainda têm aqueles que desobedecem. É tanto que ainda é a maior
quantidade de autuações lançadas”, pontua.
CRATO SEGUE TENDÊNCIA DAS OUTRAS CIDADES
No Cariri cearense, a cidade de Crato, que possui cerca de 133 mil
habitantes e 56.996 veículos registrados, também aparece com um aumento de
acidentes, em 2021. Os dados de junho ainda não foram contabilizados, mas nos
cinco primeiros meses já soma 96 registros. No mesmo período do ano passado,
foram 69, um acréscimo de quase 40%. Por mudança no sistema, o Departamento
Municipal de Trânsito (Demutran) ainda não recuperou as informações de
2019.
JUAZEIRO DO NORTE É A ÚNICA CIDADE QUE REGISTRA QUEDA
Maior cidade do interior do Estado, com cerca de 276 mil habitantes,
Juazeiro do Norte possui a segunda maior frota de veículos do Estado, com
131.104 veículos registrados. Apesar do grande número, a terra do Padre Cícero
tem apresentado uma tendência de queda nos últimos dois anos. Porém, assim como
o Crato, os dados de junho ainda não foram contabilizados.
De janeiro a maio de 2019, antes da chegada da Covid-19, foram 220
acidentes registrados pelo Departamento Municipal de Trânsito de Juazeiro do
Norte (Demutran). No ano seguinte, caiu para 138 ocorrências,
representando uma queda de 37%. Já neste ano, outra queda mais sútil, com 136
acidentes apurados pelo órgão municipal.
SOBRAL TEVE ALTA DE 8,5%
Na maior cidade da região Norte, Sobral, também registrou um aumento no
número de acidentes no primeiro semestre. Foram 229 ocorrências este ano contra
2011, um crescimento de 8,5% neste período. Ainda assim, está abaixo de 2019,
ano anterior a pandemia da Covid-19, onde ocorreram 288 acidentes.
O coordenador da Coordenadoria Municipal de Trânsito de Sobral
(CMT), Julif Guedes, informou que o tipo de sinistros mais comuns são
as colisões transversais. “A intensificação de fiscalização nos bairros e
no Centro tem diminuído bastante o índice de desobediência ao não uso de
capacetes”, acredita.
CONTEXTO DA PANDEMIA
UNIDADES DE SAÚDE PREOCUPAM
As consequências deste aumento têm sido sentidas especialmente nas
unidades de saúde referência em traumatologia. Na Santa Casa de
Misericórdia de Sobral, que possui, ao todo, 355 leitos para todas as
especialidades, já registrou, apenas em 2021, 1483 pacientes vítimas de
acidentes de trânsito. Por problemas de filtragem de dados, que está em mudança
de sistema, os números de 2020 e 2019 estão incompletos.
A situação voltou a preocupar o Hospital Santo Antônio, em
Barbalha, que também é referência em traumatologia para a região do Cariri e
Centro-Sul do Estado. De acordo com o neurologista da unidade, o médico João
Ananias, antes da pandemia, cerca de 60% a 70% dos atendimentos neurológicos
eram de vítimas de pacientes de trânsito, principalmente de moto.
Com a pandemia, caiu o número de pacientes, mas neste semestre voltou a
subir e se aproximar deste cenário alarmante de 2019. “O politraumatismo
por queda de motocicleta tem sido o mais comum. Tem havido traumas graves,
envolvimento não só a cabeça como extremidades. Tem havido muitas amputações,
traumas graves cranianos e até com óbitos”, descreve.
IMPACTO
O efeito disso para o sistema de saúde tem sido grave, na avaliação do
neurologista. “Os acidentes passam a ocupar leitos, tanto de UTI como de
enfermaria que poderia ser destinado para doenças não evitáveis, como um tumor
cerebral. O trauma, na maioria das vezes é evitável. O sistema fica
sobrecarregado e o custo direto é altíssimo. Tem uso do Samu, equipes de saúde,
médico, leito”, reforça o médico.
Além disso, João Ananias reforça que, mesmo sobrevivendo, muitos
pacientes acabam tendo sequelas graves. “Um braço ou pena amputados, quando não
ficam incapacitados. Os que sofrem traumas cranianos podem ficar com alterações
de comportamento e de memória, sofrer problemas na medula e não poder andar”,
completa. Por isso, faz um apelo: “Usem o trânsito com responsabilidade,
não pilotem sem capacete, respeitem as leis de trânsito e não dirigem sob
efeitos de bebida alcoólica. Não pense só em si, mas no outro”,
finaliza.
CENÁRIO MELHOR NO SERTÃO CENTRAL
Foto: Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste
0 Comentários