O Ministério da Saúde irá suspender o contrato com a Precisa Medicamento para obter 20 milhões de doses da Covaxin.
A CPI suspeita do contrato para a aquisição da imunização, por ter sido fechado em tempo recorde e prever o maior valor por dose da vacina, em torno de R$ 80.
A informação foi dada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à CNN
Brasil, e confirmada à reportagem da Folha de S. Paulo. A decisão ocorre em um
momento em que indícios de irregularidades no contrato têm sido o novo alvo da
CPI da Covid no Senado.
Segundo membros da pasta, a decisão atual é pela suspensão. A pasta,
porém, também avalia a possibilidade de cancelar o contrato.
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou na última semana, o tema tem sido
alvo de discussão na consultoria jurídica, diretoria de integridade e áreas
técnicas da pasta. O processo também é avaliado por órgãos de controle.
A existência de denúncias de irregularidades em torno da compra da
vacina indiana Covaxin foi revelada pela Folha de S.Paulo no último dia 18, com
a divulgação do depoimento sigiloso de Luis Ricardo ao Ministério Público
Federal, que relatou pressão "atípica" para liberar a importação da
Covaxin.
Desde então, o caso virou prioridade da CPI no Senado. A CPI suspeita do
contrato para a aquisição da imunização, por ter sido fechado em tempo recorde
e prever o maior valor por dose da vacina, em torno de R$ 80. Além disso, é o
único feito por um intermediário, a Precisa Medicamentos.
O QUE ACONTECEU APÓS A REVELAÇÃO DO CASO
Reportagem aponta pressão atípica (18.jun)
Em depoimento mantido em sigilo pelo MPF (Ministério Público Federal) e
obtido pela Folha de S.Paulo, Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão
de importação do Ministério da Saúde, afirmou ter sofrido pressão de forma
atípica para tentar garantir a importação da vacina indiana Covaxin
'É bem mais grave' (22.jun)
Irmão do servidor do Ministério da Saúde, o deputado federal Luís Miranda
(DEM-DF) disse que o caso é "bem mais grave" do que a pressão para
fechar o contrato
Menção a Bolsonaro (23.jun)
Luis Miranda afirmou ter alertado o presidente sobre os indícios de
irregularidade. "No dia 20 de março fui pessoalmente, com o servidor da
Saúde que é meu irmão, e levamos toda a documentação para ele"
CPI aprova depoimentos (23.jun)
Os senadores da comissão aprovaram requerimento de convite para que o
servidor Luís Ricardo Miranda preste depoimento. A oitiva será nesta
sexta-feira (25) e o deputado Luis Miranda também será ouvido.
Os parlamentares também aprovaram requerimento de convocação (modelo no
qual a presença é obrigatória) do tenente-coronel Alex Lial Marinho, que seria
um dos autores da pressão em benefício da Covaxin. A CPI também decidiu pela
quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático de Lial Marinho
Denúncia grave (23.jun)
Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que as denúncias
de pressão e a possibilidade de que o presidente Jair Bolsonaro tenha tido
conhecimento da situação talvez seja a denúncia mais grave recebida até aqui
pela comissão
Bolsonaro manda PF investigar servidor e deputado (23.jun)
O presidente mandou a Polícia Federal investigar o deputado Luis Miranda
e o irmão dele, Luis Ricardo Fernandes Miranda. O ministro da Secretaria-Geral,
Onyx Lorenzoni, e Elcio Franco, assessor especial da Casa Civil e
ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, foram escalados para fazer a
defesa do presidente. Elcio é um dos 14 investigados pela CPI
Empresa diz que preço para Brasil segue tabela (23.jun)
A Precisa Medicamentos, representante no Brasil do laboratório indiano
Bharat Biotech, afirmou que o preço de US$ 15 por dose da vacina oferecido ao
governo segue tabela mundial e é o mesmo praticado com outros 13 países
Governistas dizem que Bolsonaro repassou suspeitas a Pazuello (24.jun)
Senadores governistas da CPI afirmaram que o presidente pediu que
Pazuello verificasse as denúncias envolvendo a compra da Covaxin assim que teve
contato com os indícios
'Acusação é arma que sobra' (24.jun)
Bolsonaro fustigou integrantes da CPI, repetiu que não há suspeitas de
corrupção em seu governo e afirmou que a acusação sobre a vacina é a arma que
sobra aos seus opositores. "Me acusam de quase tudo, até de comprar uma
vacina que não chegou no Brasil. A acusação é a arma que sobra", disse o
presidente na cidade de Pau de Ferros, no Rio Grande do Norte
'Foi o Ricardo Barros que o presidente falou' (25.jun)
Em depoimento à CPI da Covid, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF),
que é irmão do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, afirmou
ter alertado Bolsonaro. "A senhora também sabe que foi o Ricardo Barros
que o presidente falou", disse o parlamentar à senadora Simone Tebet
(MDB-MS). Segundo ele, Bolsonaro afirmou: "Vocês sabem quem é, né? Sabem
que ali é foda. Se eu mexo nisso aí, você já viu a merda que vai dar, né? Isso
é fulano. Vocês sabem que é fulano"
FOLHAPRESS
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