Em mais um episódio de desgaste, o presidente Jair Bolsonaro promoveu nesta terça-feira (9) uma reunião ministerial no Palácio do Planalto sem a presença do vice-presidente, o general Hamilton Mourão.
Presidente avisou do encontro de maneira individual para não convocar uma reunião do conselho de governo e não precisar convidar Mourão.
O encontro, que não foi incluído inicialmente na
agenda oficial da Presidência, reuniu 22 dos 23 ministros do governo. O único
ausente foi o titular das Comunicações, Fábio Faria, que está em agenda no
exterior.
Segundo assessores palacianos, Bolsonaro avisou do
encontro de maneira individual a cada uma das pastas, evitando assim convocar
uma reunião do conselho de governo, justamente para não precisar convidar
Mourão.
O vice-presidente faz parte do colegiado consultivo
e costuma participar dos encontros. Recentemente, ele ficou ausente quando
estava em recuperação após ter sido contaminado pelo coronavírus.
Além da desconfiança que Bolsonaro tem de Mourão, o
presidente já disse acreditar a integrantes da equipe ministerial que o militar
vaza para a imprensa informações discutidas durante esses encontros.
Procurado, o vice-presidente confirmou que não foi
convidado para a reunião e disse que Bolsonaro deve ter julgado "desnecessária"
a presença dele.
"Não fui convidado, não foi chamado. Então,
acredito que o presidente julgou que era desnecessária a minha presença. Só
isso. Não estou incomodado, não", disse.
Um dia antes, em entrevista à TV Bandeirantes,
Bolsonaro foi questionado sobre a relação com o vice-presidente. De maneira
lacônica, ele disse que "está tudo bem" com Mourão e comparou o seu
relacionamento com o general ao de um genro com sua sogra.
"Tá tudo bem. Teve um evento aqui embaixo,
trocamos sorrisos. E tá tudo bem, tá tudo bem com Mourão aí. Afinal de contas,
o vice é igual sogra. É para a vida toda", disse o presidente.
Desde o ano passado, Bolsonaro tem tratado Mourão
como um adversário de seu governo. O presidente evita consultar o militar sobre
questões estratégicas, raramente o recebe para um audiência particular e
desautoriza de forma indireta declarações públicas.
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou em outubro,
Bolsonaro não pretende disputar a reeleição em 2022 com o general da reserva
como o seu candidato a vice-presidente. A intenção foi verbalizada pelo
presidente a três aliados, que relataram à reportagem o conteúdo das conversas
reservadas com Bolsonaro.
Segundo eles, o presidente disse que deseja
escolher outro nome para a sua chapa eleitoral e ressaltou que não conseguiu
estabelecer uma relação de completa confiança com o militar.
Nas palavras de um dos aliados, Bolsonaro afirmou
que é preciso encontrar uma solução para o posto de vice-presidente e
acrescentou que Mourão de novo "não dá", segundo os relatos.
Nas três conversas, Bolsonaro lembrou que o general
da reserva foi escolhido em 2018 devido a uma dificuldade, na época, em
encontrar um nome para sua chapa eleitoral.
A intenção do presidente de escolher outro nome
para a chapa eleitoral de 2022 já foi informada a integrantes das Forças
Armadas, que passaram a avaliar uma espécie de saída honrosa para o general.
Eles defendem que o militar, que acumulou capital
político no cargo, siga na vida pública e dispute, em 2022, um mandato de
senador no Rio Grande do Sul, onde o general chefiou o Comando Militar do Sul.
Para militares do governo, uma candidatura de
Mourão no Rio Grande do Sul poderia até mesmo, se bem articulada, ter o apoio
de Bolsonaro, que contaria com um palanque forte em um importante colégio
eleitoral do país.
Na reunião ministerial desta terça-feira, segundo
relatos de presentes, Bolsonaro buscou tranquilizar os auxiliares presidenciais
e disse que não pretende realizar uma ampla reforma ministerial.
Ele informou que o ministro Onyx Lorenzoni será
transferido da Cidadania para a Secretaria-Geral. E disse que o plano é manter
os ministros Tereza Cristina (Agricultura), Ernesto Araújo (Relações
Exteriores) e Eduardo Pazuello (Saúde) em suas respectivas pastas.
O presidente também manifestou otimismo após as
eleições de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-RJ) para os comandos da
Câmara e do Senado, respectivamente. E afirmou que o bloco do dos partidos do
chamado centrão não tem exigido cargos de primeiro e segundo escalões.
Apesar da negativa do presidente, o Palácio do
Planalto tem discutido abrir mais espaço no governo para o grupo partidário, o
que inclui o comando da Cidadania. A pasta deve ser comandada por um deputado
federal do Republicanos. O nome indicado pela sigla foi o de João Roma (BA).
FOLHAPRESS
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