O governo Jair Bolsonaro (sem partido) elaborou questão do Enem 2020 que apontava como correta alternativa que dizia que mulher negra não quer alisar os cabelos porque teria "postura de imaturidade".
A alteração foi feita nesta quinta-feira (28).
Outra questão apontava que discriminação racial em
sistemas de inteligência artificial, como buscas do Google, estaria relacionado
à linguagem e não ao preconceito.
O gabarito oficial foi alterado nesta quinta-feira
(28), para mudar a resposta dessas duas questões. Isso ocorreu somente após
questionamentos sobre racismo nas redes sociais.
Uma das pergunta (disciplina de inglês da prova de
Linguagens) trouxe um texto da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. No
excerto, uma cabeleireira e uma cliente conversam sobre alisar o cabelo,
proposta que a cliente refuta por argumentar que gosta do seu cabelo natural,
"como Deus o fez".
O enunciado da questão pedia que o candidato
indicasse quais argumentos sustentavam o posicionamento da cliente. Na primeira
versão do gabarito oficial, a alternativa correta era a D: "demonstram uma
postura de imaturidade".
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), que organiza o Enem, divulgou a correção no fim da manhã desta
quinta. A alternativa correta passou a ser a C: "revelam uma atitude de
resistência".
Na outra questão, também na prova de Linguagens, o
texto de apoio cita exemplo de software de entrevistas que excluía candidatos
negros e buscas do Google que mostram anúncios de checagem de antecedentes
criminais quando são digitados nomes comuns entre negros.
O primeiro gabarito indicava que o cenário tinha
relação com a "linguagem", na alternativa C. Com a correção do Inep,
a resposta correta passou a D: "preconceito".
As questões são a 5 e 43, respectivamente, na prova
azul.
Questionado pela reportagem, o Inep não respondeu
até a publicação deste texto. O órgão argumentou ao portal G1 que houve um
erro: "a autarquia verificou que uma modificação feita no gabarito após o
retorno das provas para o Inep não foi salva no banco de dados".
"Como se o #EnemdaExclusão não tivesse
problemas o suficiente, agora os gabaritos oficiais das provas apresentam
erros, contradições e vejam só...racismo. Já bradava Chico César:
"Respeitem meus cabelos, brancos!"", publicou nas redes sociais
a vereadora de Belo Horizonte Macaé Evaristo (PT), ex-secretária de Diversidade
e Inclusão do MEC, subpasta extinta pelo atual governo.
Em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, o
Inep criou uma comissão para censura ideológica de temas no banco de itens, que
agrupa as questões usadas nos exames federais. O Inep nunca divulgou quais
temas e questões foram barrados.
A criação da comissão veio a pedido de Bolsonaro,
que antes acumula críticas, de teor ideológico, sobre questões do Enem. As duas
edições do exame a cargo deste governo deixaram de contar, de forma inédita,
com perguntas sobre a ditadura militar no Brasil (1964-1985), período marcado
por restrições civis e tortura, mas elogiado e defendido por Bolsonaro e
apoiadores.
Bolsonaro tem um discurso de minimização do
racismo, problema que ele já disse que não existe no país.
O presidente também havia criticado uma questão
desta última edição do Enem. O item comparava os salários dos jogadores Marta e
Neymar. A falta foi dita a apoiadores em meio à pressão por causa do fracasso
federal no enfrentamento da pandemia.
O responsável pela diretoria que elaborou o Enem
era até o início de janeiro um militar. O general Carlos Roberto Pinto de Souza
era o titular da Diretoria de Avaliação de Educação Básica desde 2019 mas
faleceu no último dia 11 por complicações da Covid.
FOLHAPRESS
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