Com o fim do ano, chegam também as últimas levas de pagamento do auxílio emergencial, o benefício mensal de R$ 600 e, depois, de R$ 300 pago a cerca de 50 milhões de brasileiros ao longo dos últimos nove meses.
Destinado a amparar famílias e trabalhadores informais de baixa renda
durante a freada sem precedentes da economia causada pela pandemia, o
programa social chegou a ser prorrogado duas vezes pelo governo.
Começou em abril previsto em três parcelas mensais de R$ 600, ganhou
depois mais duas de R$ 600 e, por fim, foi estendido pelos últimos quatro meses
do ano, mas em valor menor, de R$ 300.
Os pagamentos de dezembro, até segunda ordem, serão de fato os últimos.
Sem de onde mais tirar recursos, tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto seu
ministro da Economia, Paulo Guedes, têm reafirmado repetidamente que o
programa extraordinário acaba junto com 2020. “Nossa capacidade de
endividamento está no limite”, disse Bolsonaro ontem quando perguntado sobre o
assunto.
É virtualmente impossível encontrar um economista, político ou eleitor
que discorde da importância que a injeção bilionária de recursos do auxílio
teve para evitar o debacle da economia neste ano e, em última
instância, impedir que milhões de brasileiros despencassem na pobreza.
“Muitos trabalhadores informais que estavam impedidos de trabalhar em
2020, por causa da pandemia, já vão conseguir trabalhar em 2021, mas não vão
ter a mesma renda que tiveram em 2020”, explicou o economista Cosme Donato,
analista da LCA Consultores Cosme Donato.
Renda vai cair
Uma estimativa feita pela LCA projeta que a renda total do país deve
cair 2% no ano que vem, já desconsiderado o efeito da inflação. Neste ano, à
despeito de uma das piores recessões da história, a renda total cresceu em
cerca de 3%, nas estimativas da consultoria, justamente por causa do
auxílio.
A conta considera a massa de rendimentos total, isto é, tudo o que todas
as pessoas ganham somado, incluindo a renda do trabalho e a renda de outras
fontes, como aposentadorias e Bolsa Família.
Uma redução nessa grande massa de renda significa menos dinheiro
circulando no país, o que puxa o consumo e o crescimento da economia para
baixo.
O desemprego, por sua vez, medido pela quantidade de pessoas que estão
procurando trabalho, também deve continuar crescendo e renovando os
recordes que já conquistou neste ano, conforme mais pessoas perdem o auxílio
sem terem antes conseguido retomar suas outras fontes de renda.
“Eles tiveram impulso de um motor que é temporário, acontecendo à base
de endividamento público, mas não é esse o fundamento da economia. É uma
situação irreal, e será no ano que vem que veremos qual é essa realidade”, diz
Oreng.
Desemprego “real” e recorde
Nas estimativas do Santander, o desemprego deve passar dos 16% até o fim
do primeiro semestre, podendo depois melhorar um pouco e fechar o ano perto dos
15%.
Qualquer dos dois números, porém, será a pior taxa já registrada no país
desde pelo menos 2012, ano em que começa a série feita pelo Instituo Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Isto porque, entre as várias distorções econômicas e sociais criadas
pela pandemia, um número enorme de brasileiros deixou de procurar emprego,
mesmo não tendo trabalho – seja porque não tinham como sair à rua para exercer
sua atividade, seja porque estavam recebendo o complemento do auxílio e adiaram
a busca.
Conforme a economia volta a se movimentar, muitos desses conseguem se
recolocar ou retomar suas atividades, mesmo que parcialmente, mas milhares
de outros não. São estes que devem engrossar as estatísticas dos desempregados
no ano que vem.
“Há um cenário de recuperação, mas ela não vem de imediato”, disse
Oreng, do Santander. “Então o mercado de trabalho ainda vai piorar antes de
melhorar.”
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: CNN Brasil
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