Mais de 5 mil candidatos não receberam nem um voto sequer nas eleições municipais de 2020, segundo levantamento do G1 com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Ceará, 209 candidatos estão nessa situação. Alguns deles, inclusive, receberam recursos públicos para financiar a campanha eleitoral.
Alguns dos candidatos que não tiveram nem o próprio voto relataram que
desistiram da campanha e preferiram dar o voto a quem teria uma chance de
ocupar uma vaga na Câmara do seu município.
O candidato João Félix (PV), que concorreu a uma vaga no Legislativo
Municipal de Aracati, disse que efetivou o pedido de registro de candidatura,
mas desistiu do pleito por dificuldades financeiras.
“O momento não era propício, a situação financeira não estava das
melhores. Votei em outra pessoa e não em mim porque eu desisti”, justificou.
No TSE, consta a informação de que ele teria recebido R$ 1 mil do
diretório municipal do PV. No entanto, o candidato nega ter usufruído do valor.
“Não recebi nada. Inclusive, ainda vou fazer a prestação de conta e, se tiver
na conta (registrada na Justiça Eleitoral), vou devolver”, ressaltou.
A candidata Hisabele Bruno, que disputou uma vaga de vereadora em
Itapipoca, disse que a agremiação não informou sobre o depósito de nenhum
recurso. Nos dados do TSE, há registro da transferência de R$ 2,2 mil do PSD
para a candidatura.
"Quando eu ia começar a fazer a campanha, não pude levar à frente
por conta da minha gravidez que é de risco. E eu não informei [a desistência à
Justiça Eleitoral] porque não sabia se teria problema, já que eu não fiz
campanha, não pedi voto e não recebemos dinheiro do partido", salientou.
O postulante a vereador em Paracuru André Paiva (Podemos) afirmou que
não recebeu recursos e que comunicou à legenda que iria desistir da campanha.
Ele acrescentou, ainda, que se o partido tiver depositado algum valor na conta
da sua candidatura, irá devolver. Na Justiça Eleitoral, consta transferência de
R$ 580 da sigla para o candidato.
“Não votei em mim e não comuniquei a desistência, porque eles [do
partido] me orientaram a não pedir voto e não fazer campanha. Comuniquei ao
partido que ia desistir, porque a quantidade de votos que a gente ia receber ia
ser insignificante. Vou fazer a prestação de contas. Se tiver entrado algum
dinheiro deles, vou devolver, mas não recebi.”
Suspeitas
Especialistas afirmam que não ter nem o próprio voto é um indício de
'candidatura laranja', aquela feita apenas para cumprir o mínimo obrigatório
por lei. Os candidatos ouvidos afirmam que desistiram da campanha e negam
qualquer irregularidade.
Caso seja comprovada, a fraude na cota de gênero pode levar à cassação
de toda a chapa, segundo o TSE.
Segundo o jurista e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Henrique Neves, o fato de não ter recebido voto não configura irregularidade,
mas a grande proporção de mulheres é um indício. "O normal seria seguir a
mesma proporção do registro de candidaturas. Se 1% teve problema, é normal que
70% sejam homens e 30%, mulheres. Se é o inverso, isso é um indício (de que há
algo errado)."
Os partidos começaram a aumentar o número de candidaturas de mulheres
após a minirreforma eleitoral de 2009. A emenda tornou obrigatória a cota de,
no mínimo, 30% para candidaturas de mulheres em eleições proporcionais (como a
de vereador). Antes disso, uma lei previa a reserva de 30% das vagas para as
mulheres, mas os partidos deixavam essas vagas vazias.
Por G1 CE
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