Após ameaçar sonegar dados, o
governo federal promoveu na noite deste domingo (7) uma grande confusão em
relação aos números do impacto da Covid 19. Dois dados divergentes foram
divulgados de casos confirmados e de mortes da doença foram divulgados em um
intervalo de poucas horas.
Por volta de 20h30, o Ministério da Saúde
divulgou o primeiro balanço, no qual informava que 1.382 mortes haviam sido
registradas nas últimas 24 horas. O número configuraria um recorde para
domingo, dia da semana normalmente com menos confirmações de casos, uma vez que
as equipes de saúde nos estados trabalham em regime de plantão.
Uma hora e meia depois, o portal do
Ministério com informações referentes ao Covid, que havia ficado fora do ar por
quase 24h, informou que o número de óbitos confirmados era de 525. Ou seja,
havia uma diferença de 857 vítimas.
Também houve divergências em relação ao
número de casos confirmados nas últimas 24 horas. O primeiro número divulgado
apontava 12.581 casos. O segundo balanço, por sua vez, indicava 18.912 casos do
novo coronavírus.
Os dados do primeiro boletim do ministério
eram pouco maiores do que os divulgados pelo Conass (Conselho Nacional dos
Secretários de Saúde), que decidiu lançar um painel com números de contaminados
e óbitos paralelo ao do governo, logo após a ameaça de sonegação de dados. O
órgão mostrava, até as 18h, 1.113 mortos.
O Ministério da Saúde não apresentou
explicações para a divergência entre os números.
Os números de mortes e casos confirmados
viraram motivo de polêmica desde a noite de sexta-feira, quando a pasta deixou
de excluir o total de mortes e de casos confirmados desde o início da pandemia.
Apenas os dados das últimas 24h estiveram presentes nos boletins de sexta-feira
(5), formato que se repetiu no dia seguinte.
Sucedeu-se uma série de ameaças de sonegação
de dados e recuos, por meio meio de notas do Ministério da Saúde. As anunciadas
mudanças na metodologia de compilação e divulgação dos dados da Covid provocou
reação de parlamentares, de especialistas e da justiça. O Ministério Público
Federal instaurou um procedimento para averiguar o caso e deu um prazo de 72
horas para que o ministro interino, Eduardo Pazuello, apresentasse explicações.
A primeira do Ministério, postada na manhã de
sábado pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais, indicava que seria
permanente a ausência do acumulado de mortes e de casos confirmados nos
boletins. O argumento era de que os números das últimas 24 h retratariam melhor
o momento do país, no contexto da pandemia
No fim da tarde deste domingo, a pasta
divulgou uma nova nota informando que estava criando uma nova plataforma, na
qual voltaria a oferecer informações mais detalhadas sobre a pandemia.
Poucas horas depois, em uma nova e extensa
nota, a pasta confirmou que promoveria uma grande mudança na divulgação dos
dados da Covid 19, além de confirmar a criação da nova plataforma. O foco
central passaria a ser no número de mortes por coronavírus que aconteceram e
tiveram a doença confirmada nas últimas 24 horas.
Desde o início da pandemia, os boletins com
os números das 24 últimas horas consideravam a data da notificação para a
Covid. Em outras palavras, os números incluíam as mortes cuja confirmação da
doença havia ocorrido nas últimas 24 horas - poderia abranger, portanto, as
mortes ocorridas naquele dia e também casos de óbitos antigos, cuja confirmação
de infecção do novo coronavírus apenas se deu naquela data.
Esse é também o padrão adotado pela maioria
dos países, na divulgação de seus dados de mortos e infectados.
O Ministério, no entanto, sinalizou que
deixaria disponível todos os demais dados referentes à Covid.
O número de 525 mortes divulgados neste
domingo, portanto, sinaliza que a nova metodologia pode ter começado a ser
usada. Ou seja, ele pode considerar apenas as mortes ocorridas nas últimas 24h
e que tiveram confirmação da infecção pelo coronavírus.
O Ministério da Saúde, no entanto, não
confirma a informação e nem apresentou mais explicações para a divergência.
FOLHAPRESS
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