Preparar a chegada de um bebê
durante a pandemia do coronavírus traz uma carga extra de preocupação para as
mulheres gestantes, visto o medo da contaminação e de possíveis complicações
para as mães e os filhos. Em todo o Ceará, 239 pacientes gestantes e puérperas
foram confirmadas com Covid-19 durante a pandemia, de acordo com a Secretaria
Estadual da Saúde (Sesa).
Segundo o último boletim
epidemiológico detalhado da Pasta, até 9 de junho, 9 mulheres gestantes e 8
puérperas morreram por Covid-19 no Ceará. Até maio, a Sesa incluía
"gestantes e puérperas" na lista de comorbidades, mas o campo não
está mais disponível na plataforma IntegraSUS. A Pasta não informou o porquê da
mudança.
Na última terça-feira (9), 17
pacientes, suspeitas e confirmadas, entre gestantes e puérperas, estavam
internadas em hospitais da rede estadual, incluindo Hospital Geral César Cals
(HGCC) e Hospital Geral de Fortaleza (HGF), ambos na Capital; no Hospital
Regional Norte (HRN), em Sobral; e no Hospital Regional do Sertão Central
(HRSC), em Quixeramobim.
As unidades são "referências
em atendimento a gestantes", segundo a Pasta, que não detalhou quantas
mulheres eram gestantes e quantas estavam no puerpério, período que abrange
cerca de 45 dias após o nascimento. Conforme a última atualização da plataforma
IntegraSUS, na tarde desta quinta (11), 66,3% dos leitos de enfermaria para
gestantes estavam preenchidos. Por outro lado, não havia nenhuma grávida
alocada em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
Foi numa dessas Unidades que
Maryane da Rocha Santos, 31, deu à luz a José Bernardo no dia 8 de maio. O
menino nasceu prematuro, aos seis meses, com a mãe sedada pelo agravamento de
infecção por Covid-19. Dias antes, ela havia sido internada no Hospital César
Cals, com dificuldade para respirar; 50% dos pulmões estavam comprometidos.
"Meu filho tá na UTI, mas todo santo dia eu recebo notícias, fotinhas
dele", contou a mãe Maryane.
Fisiologia
Sem diagnóstico da doença, a
profissional de Educação Física Kalyne Carneiro, 29, gestante de 33 semanas do
menino Ravi, conta que tem passado a quarentena totalmente isolada em casa. De
saída mesmo, só para as consultas do pré-natal, que foram reduzidas. "Só
agora, nos meses mais próximos ao parto, vou ficar indo direto. Quando vou, é
de máscara, e assim que volto já tomo banho", lembra. Por querer parto
natural, ela também busca estar em dias com a saúde porque sabe que "a
grávida fica com imunidade baixa".
Ainda em abril, o Ministério da
Saúde incluiu gestantes e puérperas no grupo de risco da Covid-19. A
ginecologista e obstetra Liduína Rocha, presidente da Associação Cearense de
Ginecologia e Obstetrícia (Socego) e coordenadora do programa Nascer no Ceará,
explica que complicações e desfechos ruins têm risco aumentado especialmente no
primeiro e terceiro trimestre da gravidez, bem como nas puérperas, "em
função provavelmente das próprias mudanças fisiológicas".
"A recomendação é que aquelas
que adoecem sejam encaminhadas a maternidades ou a hospitais gerais com
maternidades, não para leitos da população geral. As unidades se organizaram
para ter dois fluxos, um com a triagem para suspeita de síndrome gripal e outro
para as assintomáticas", diferencia a médica obstetra.
Liduína lembra que, por algum
tempo, se afirmou que a transmissão direta do coronavírus da mãe para bebê
(conhecida como transmissão vertical) não era factível, "mas agora alguns
estudos mostram essa possibilidade. Não parece ser muito comum, mas se pesquisa
já com algum alerta", diz. Ela afirma que a maioria dos bebês infectados
se contaminou depois do parto - no Ceará, foram 479 com menos de um ano de
idade até 8 de junho -, por isso é preciso ter ainda mais cuidado no contato
íntimo, com a mulher de máscara e mantendo a higiene das mamas e das mãos.
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