Com pouco mais de 14 mil
habitantes, o município de Nova Olinda, no Cariri cearense, chamou atenção pelo
grande número de casos confirmados da Covid-19 proporcionalmente à sua
população: sete pessoas estão doentes e outras duas com suspeita. Para se ter
ideia, Barbalha, na mesma região, com população quatro vezes maior, 60 mil
habitantes, tem o mesmo número de casos confirmados do novo coronavírus. E
Crato, com população quase dez vezes maior, 130 mil habitantes, registrou 13
casos confirmados. A desproporção preocupa os órgãos de saúde e o Ministério
Público do Estado (MPCE), que tem adotado medidas mais rígidas de fiscalização.
Na última terça-feira
(28), por exemplo, entrou em vigor um decreto municipal que estabelece multa
para os moradores que saírem de casa sem máscara de proteção facial. Aqueles
que realizarem atividades coletivas também serão multados. A medida orienta
ainda sobre a higienização dos estabelecimentos que estão funcionando, além da
obrigação da utilização de máscaras pelos funcionários e a organização das
filas. O valor da infração é entre R$ 100 e R$ 2 mil para pessoa física e R$ 2
mil a R$ 10 mil para pessoa jurídica.
Também estão sujeitos à
advertência os habitantes que descumprirem notificação de isolamento ou
quarentena definida pela equipe da Vigilância Sanitária ou pela Comissão
Gestora do Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde do Coronavírus,
instituída por Decreto Municipal. Além disso, poderão ser multadas as pessoas
oriundas de outros municípios com registro de casos confirmados de Covid-19 que
não se submeterem ao isolamento social domiciliar por, no mínimo, sete dias e,
no caso de apresentar sintomas da doença, pelo menos 14 dias.
Transmissão
E foi justamente por
pessoas oriundas de outros municípios que a doença chegou à Nova Olinda,
segundo o coordenador da Vigilância Sanitária, Roberto Salviano. Um casal que
viajou para Fortaleza, incluindo um empresário dono de uma pedreira, retornou
ao município e, sem saber que estava infectado, continuou exercendo suas
atividades profissionais - a mineração é permitida durante o isolamento social.
Dos sete casos, seis são da cadeia de transmissão do empresário.
"No contato com os
trabalhadores, houve a disseminação, assim como no convívio com as pessoas da
família", conta Salviano. O outro morador infectado retornou do Rio de
Janeiro e mora na zona rural. Os demais estão espalhados por diferentes
localidades, mas trabalham na pedreira. "Todos são acompanhados e estão em
isolamento domiciliar", garantiu o coordenador da Vigilância Sanitária do
Município.
O caso do empresário
está sendo investigado pela Promotoria de Justiça de Nova Olinda, pois, mesmo
com suspeita de Covid-19, ele teria realizado uma festa de aniversário para a
filha de cinco anos. Em nota, o MPCE disse que está aguardando diligencias
iniciais, como a identificação das pessoas que estiveram na festa, e oitiva
delas. Foi instaurado um Procedimento Investigatório Criminal.
O nome do empresário e
da empresa permanece em sigilo. "Não posso adiantar muito porque estão
sendo identificadas e notificadas eventuais pessoas presentes", enfatizou
o promotor Daniel Lira.
Daniel reforçou que a
continuação das atividades profissionais do empresário, amparado pelo Decreto
Estadual, art.1°, VIII, causou a contaminação de seus familiares e encarregados
imediatos. Por isso, o MPCE expediu recomendação à Vigilância Sanitária para o
embargo da pedreira por 15 dias e a busca de funcionários que tiveram contato
com o dono da mineradora. "Para evitar a disseminação na pedreira pelo uso
compartilhado de equipamentos, ferramentas e veículos", justifica o
promotor .
A secretária de Saúde de
Nova Olinda, Kaline Cavalcante, informou que, após receber a recomendação, os
agentes da vigilância foram até a pedreira, nessa quinta-feira (30), informar
ao empresário. "Como se trata de uma recomendação, a gente informou, mas
nosso intuito é deixar todos os funcionários em isolamento por 15 dias. Cabe a
ele decidir ou recorrer", pontuou.
Transporte clandestino
Outra preocupação seria
o suposto transporte ilegal de passageiros, vindos principalmente de São Paulo.
Um morador, que não quis se identificar, conta que presenciou a chegada de um
ônibus clandestino desembarcando de madrugada, o que também estaria acontecendo
na zona rural. Além disso, um motorista do próprio Município teria trazido em
uma van pessoas que estavam na capital paulista.
A Polícia Militar
confirmou que houve a primeira denúncia mas, após realizar diligências, não
encontrou o ônibus clandestino. Já o segundo caso está sob investigação do
próprio Ministério Público.
"Este transporte
ilegal interestadual de passageiros teria acontecido na última semana com
pessoas egressas de São Paulo. O condutor foi identificado, devidamente
notificado e testado para Covi-19, o qual ainda aguardamos o resultado. O
Ministério continua acompanhando e eventualmente promoverá medidas de caráter
criminal se isso se afigurar necessárias", enfatizou Daniel.
A Secretaria de Saúde de
Nova Olinda tem adotado medidas de prevenção, como as barreiras sanitárias que
foram instaladas desde o último dia 17 nas entradas da cidade. "Todos os
carros são parados. O intuito é evitar mais contaminações e orientar as pessoas
como devem usar máscara, lavar as mãos. Além disso, é feito um questionário,
perguntando 'de onde vem?', 'para onde vai?', 'qual o motivo da viagem?', entre
outros", explica Roberto Salviano.
Aglomerações
No Centro da cidade, a
casa lotérica é o principal ponto de aglomeração, já que é o único local onde
se pode sacar dinheiro. Desde julho de 2017, após ser alvo de explosão, a única
agência do Banco do Brasil do Município não funciona para saques e depósitos.
A Secretaria Municipal
de Assistência Social instalou tendas e cadeiras, na frente da lotérica, com
distanciamento mínimo de 1,5m entre os usuários. "Estamos fazendo
controle, higienização e distribuição de senhas para evitar a contaminação,
além de disponibilizar banheiros", explica a assistente social Ereni Gomes.
Preocupação
Os crescentes casos em
Nova Olinda também preocuparam os gestores de municípios vizinhos, como Santana
do Cariri, que fica a apenas 13 quilômetros, e ainda não teve nenhum caso
confirmado da Covid-19. Em decreto municipal, restringiu o acesso à cidade, assim
como a circulação de veículos nas ruas. Quem for flagrado trafegando sem
necessidade está sujeito a pagar multa de R$ 200 por cada passageiro que
estiver sendo transportado.
Pelo Decreto, a barreira
sanitária, instalada na entrada da cidade, funciona das 7h às 18h, e proíbe a
entrada de pessoas que não residem no Município. Só é permitido o acesso aos
residentes, às pessoas que trabalham nas instituições ou estabelecimentos cujas
atividades sejam essenciais ao Município, ao transporte de mercadorias e aos
casos de urgência e emergência médica.
A saída dos moradores da
cidade fica restrita a assistência médica/hospitalar bem como para outros fins
de extrema necessidade a serem avaliados pela equipe da barreira sanitária. A
medida surgiu a partir da preocupação com o fluxo de pessoas para cidades
vizinhas que já têm casos confirmados, como Crato, Nova Olinda e Campos Sales.
"Entendemos que deveria limitar", justifica.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do
Nordeste
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