A demissão de Luiz Henrique Mandetta do
Ministério da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro, em meio à crise da pandemia
do novo coronavírus, foi reprovada por 64% dos brasileiros, mostra pesquisa do
Datafolha feita na sexta-feira (17).
O Datafolha ouviu 1.606 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e sua margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos. | Marcelo Camargo/Agência Brasil |
O levantamento aponta um empate técnico entre aqueles que
acreditam que a condução da emergência sanitária pelo Ministério da Saúde sem
Mandetta irá piorar (36%) ou melhorar (32%). O ex-ministro foi demitido na
quinta (16), e passou o cargo para o médico Nelson Teich.
O Datafolha ouviu 1.606 pessoas por telefone, para evitar
contato pessoal, e sua margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou
menos.
A pesquisa mostrou um estancamento na erosão da imagem do
presidente como gestor da maior crise de saúde pública deste século. Sua
aprovação oscilou positivamente, dentro da margem de erro, de 33% no
levantamento feito de 1º a 3 de abril para 36% agora.
Assim, os satisfeitos empatam tecnicamente com os
descontentes, que eram 39% e agora são 38%. O patamar de quem acha o desempenho
presidencial ruim ou péssimo estabilizou-se em patamar acima do registrado na
primeira pesquisa sobre a crise, feita de 18 a 20 de março: 33%.
Para 23%, o trabalho do presidente é regular, o mesmo
nível (25%) da rodada anterior. Os parâmetros de desaprovação e aprovação do
presidente seguem semelhantes. Ele é mais reprovado por mulheres (41%), mais
ricos (acima de dez salários mínimos, 48%) e instruídos (com curso superior,
46%).
Perguntados se Bolsonaro tem capacidade para continuar
liderando o país, 52% acham que sim e 44%, que não. Novamente, homens são mais
favoráveis ao mandatário, com 58% de "sim", número igual ao
registrado entre moradores da região Sul, seu reduto eleitoral.
Embora não seja comparável metodologicamente com
levantamentos presenciais anteriores, o índice de apoio a Bolsonaro se
assemelha ao verificado na população em geral, o que tem determinado a atitude
intransigente do presidente em relação às suas visões acerca da crise,
contrárias à prática internacional no combate ao novo coronavírus.
Mandetta foi demitido na quinta (16), após um processo de
fritura que demorou cerca de um mês devido ao fato de ele não concordar com as
diretrizes defendidas por Bolsonaro.
O ex-ministro sempre foi claro acerca da defesa do
isolamento social como instrumento de contenção de propagação do patógeno e se
mostrou cauteloso, quando não cético, ao uso indiscriminado de cloroquina e
hidroxicloroquina para tratar doentes.
Com efeito, o trabalho do Ministério da Saúde era
aprovado por 76% no levantamento anterior, ante 33% do presidente. Ex-ministro,
Mandetta registra na nova pesquisa uma avaliação positiva de seu trabalho de
70% dos ouvidos, ante 18% dos que o acharam regular e 7%, que o reprovaram.
Já Bolsonaro encampou uma disputa figadal com
governadores de estado, o presidenciável João Doria (PSDB-SP) à frente, na qual
a crítica às quarentenas e fechamento de comércio tomou lugar central. Para
ele, que antes negava a gravidade da crise, o foco principal tem sido em tentar
manter a economia funcionando.
Após dispensar Mandetta, ele voltou a subir o tom nesse
sentido na posse de Teich. Além disso, o presidente vem propagandeando os
medicamentos, que são alvo de estudos não conclusivos e apresentam
contraindicações importantes, como uma provável panaceia para a Covid-19.
No campo da imagem, os governadores seguem à frente de
Bolsonaro em aprovação, com 54% de ótimo ou bom. O índice, contudo, oscilou
negativamente dentro da margem em relação à pesquisa anterior (58%). Rejeitam o
trabalho dos estados 20% e 24%, o consideram regular.
Estão mais satisfeitos com seus governadores os moradores
da região Sul (60%), Nordeste (60%) e Norte/Centro-Oeste (57%). Habitantes do
Sudeste aprovam menos: 49% consideram os chefes locais bons ou ótimos no manejo
da pandemia.
O corte estadual, quando aplicado a Bolsonaro, reflete a
divisão política que marca o país desde a campanha eleitoral de 2018 -que, por
sua vez, atravessou os anos do PT no poder, só que com o PSDB como antípoda do
partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, o Sul é o principal ponto de apoio ao trabalho do
presidente, com 44% de aprovação, enquanto o Nordeste se mantém como castelo
oposicionista: 46% acham que ele ruim ou péssimo. Igualmente, enquanto 58% dos
sulistas veem Bolsonaro em plena capacidade de liderança, 53% dos nordestinos
acham o contrário.
A troca do ministro é uma inflexão ainda incerta na
crise. Por um lado, Teich representa uma escolha mais ponderada, ante as opções
mais radicalmente bolsonaristas, quando não negacionistas abertos do vírus como
o ex-ministro Osmar Terra, que estavam colocadas.
Introduziu a necessidade de olhar para aspectos
econômicos da pandemia no discurso, alinhando-se a Bolsonaro, mas evitou
declarações polêmicas.
Ao defender a reabertura do comércio, ainda que admita o
risco para as pessoas, Bolsonaro tem concentrado sua ação no ataque aos
governadores. Mas não repetiu a minimização da crise, que teve seu auge num
discurso em 24 de março e que levou a um maior isolamento político do
presidente.
PESQUISA FOI FEITA POR TELEFONE PARA EVITAR CONTATO
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, procura
representar o total da população adulta do país, mas não se compara à eficácia
das pesquisas presenciais feitas nas ruas ou nos domicílios.
Por isso, apesar de aproximadamente 90% dos brasileiros
possuírem acesso pelo menos à telefonia celular, o Datafolha não adota o método
em pesquisas eleitorais, por exemplo.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem
utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos. Além
disso, torna mais difícil o contato com os que não podem atender ligações
durante determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de baixa
classificação econômica.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas
de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos
resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma
cautela.
Na pesquisa divulgada nesta sexta-feira, feita dessa
forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o
Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados
se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.
Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa,
incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários de suas casas
através de central telefônica remota.
Os limites impostos pela técnica telefônica não
prejudicam as conclusões pela amplitude dos resultados apurados e pelos
cuidados adotados.
Foram entrevistados 1.606 brasileiros adultos que possuem
telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de
três pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu nesta sexta (17).
FOLHAPRESS
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