currículo do ex-capitão Adriano da Nóbrega, encontrado e morto na madrugada deste domingo (9),
é extenso. Inclui três prisões e solturas, uma expulsão da Polícia Militar e
duas homenagens do agora senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do
presidente Jair Bolsonaro.
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A primeira prisão preventiva ocorreu em janeiro de
2004, pelo homicídio do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, 24. O
então policial chegou a ser condenado no Tribunal do Júri em outubro de 2005,
mas conseguiu recurso para ter um novo julgamento, foi solto em 2006 e
absolvido no ano seguinte.
Leandro era morador de Parada de Lucas, na zona
norte carioca, e havia denunciado policiais no dia anterior pela prática de
extorsão e ameaça. Segundo a acusação, os agentes mataram o jovem e alteraram a
cena do crime para tentar forjar um auto de resistência -quando o agente mata
em confronto. Testemunhas, contudo, apontaram que o rapaz fora morto sem
ameaçar os policiais.
Enquanto ele ainda estava preso, em junho de 2005,
Flávio Bolsonaro o considerou merecedor da a Medalha Tiradentes, mais alta
honraria da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Uma das razões foi o êxito
ao prender 12 "marginais" no morro da Coroa, no centro, além de
apreender diversos armamentos e 90 trouxinhas de maconha.
O então deputado estadual também já havia
homenageado o policial dois anos antes, quando apresentou moção de louvor em
seu favor. Segundo o senador eleito, Adriano desenvolvia sua função com
"dedicação, brilhantismo e galhardia". Jair Bolsonaro foi outro que o
defendeu em discurso na Câmara dos Deputados em 2005.
Oito meses depois da absolvição de Adriano, em
2007, sua mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, foi nomeada assessora
do gabinete de Flávio na Alerj, onde ficou empregada até o fim de 2018.
Ao longo desse período, Adriano seguiu acumulando
uma série de acusações em sua ficha criminal. A segunda prisão veio em 2008, um
ano depois da absolvição.
Desta vez a acusação era pela tentativa de
assassinato do pecuarista Rogério Mesquita. Ele foi novamente solto um mês
depois, após o fim do prazo da prisão temporária. O atentado ocorreu devido a
uma disputa pelo espólio do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o Maninho.
A terceira prisão o ocorreu em 2011, de novo
terminando em sua soltura. A captura aconteceu na Operação Tempestade do
Deserto, resultado das investigações da mesma tentativa de assassinato que
resultou numa denúncia contra os envolvidos.
No ano seguinte, ao alegar ausência de provas, o
juiz Márcio Gava negou o seguimento do processo contra Adriano e a maioria dos
acusados. As testemunhas ouvidas pela polícia que serviram como base para a
denúncia não confirmaram os depoimentos à Justiça.
A relação com bicheiros, contudo, levou Adriano a
ser exonerado da Polícia Militar em janeiro de 2014. Em um processo
administrativo disciplinar iniciado em 2009, ele foi considerado culpado da
acusação de atuar como segurança de José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal,
contraventor da máfia dos caça-níqueis.
Em abril de 2016, mais de dois anos após a expulsão
da PM, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, se tornou a segunda da
família a ser nomeada assessora do gabinete de Flávio na Assembleia. Raimunda e
a mulher do ex-policial militar foram exoneradas no mesmo dia, em 13 de
novembro de 2018, a pedido.
O senador afirmou que o responsável pela
contratação delas foi Fabrício Queiroz, que assumiu o fato. Queiroz é o ex-assessor
do senador investigado por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio e foi
companheiro de Adriano no 18º Batalhão da PM.
Ele se tornou alvo do MP-RJ após o Coaf (Conselho
de Controle das Atividades Financeiras) identificar uma movimentação suspeita
de R$ 1,2 milhão em sua conta bancária entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Entre as pessoas identificadas como depositantes
estão Raimunda Veras Magalhães e Danielle da Nóbrega, mãe e mulher do
ex-capitão, respectivamente.
Adriano voltou ao noticiário no início de 2019,
quando foi um dos 13 alvos de uma operação deflagrada pelo Ministério Público
do Rio para prender milicianos das comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na
zona oeste carioca. Foi lá que dois imóveis desabaram em abril daquele ano, matando
24 pessoas.
Em um telefonema gravado com autorização da
Justiça, Manoel Batista, espécie de administrador da milícia, apontou a
ascendência do ex-policial no setor. "Eu tenho oito apartamentos naquele
prédio. O resto é tudo do Adriano e do Maurício, entendeu", afirmou Manoel
a um interlocutor. Em outro diálogo, o ex-capitão é chamado de
"patrãozão".
Adriano ficou foragido desde então, até ser
encontrado na madrugada deste domingo no município de Esplanada (BA). Segundo o
governo baiano, quando os policiais chegaram ele efetuou disparos e, na troca
de tiros, foi baleado. Ele teria sido levado a um hospital da região antes de
morrer.
Fonte: FOLHAPRESS
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