O agravamento da crise
na Segurança Pública no Ceará, com o episódio em que o senador licenciado Cid
Gomes (PDT) foi baleado ao tentar intervir em motim dentro de um quartel em
Sobral, alterou os ânimos na Assembleia Legislativa do Ceará, onde Cid tem
maioria de aliados. Ontem, deputados defenderam não votar a proposta de
reajuste no salário de policiais e bombeiros militares, em tramitação na Casa,
até que a situação seja normalizada.
O líder no PDT na
Assembleia, Guilherme Landim, defendeu que o governador Camilo Santana (PT)
recolha a proposta e só reenvie o texto ao Legislativo quando a corporação
cessar o motim, dizendo que se recusa a votar a “proposta debaixo de bala”.
“Eu não voto nada nessa
Casa enquanto a segurança da população não estiver assegurada. Não votaremos
nem esse nem outro projeto pressionados por ninguém”, disse também o deputado
Marcos Sobreira (PDT).
A proposta de reajuste
começou a tramitar na última terça-feira (18) e o líder do Governo na
Assembleia, Júlio César Filho (Cidadania), já havia exposto a previsão de que
ela seja votada em plenário até o início de março.
Entre os discursos,
foram recorrentes as críticas ao não cumprimento, por parte de policiais e
bombeiros, do acordo entre líderes da categoria e o Governo do Estado; e o
questionamento: “vamos dialogar com quem?”.
"A proposta
protocolada na Assembleia não é a proposta inicial, ela foi negociada e
acordada por esses representantes. O Governo vai dialogar com quem se esses
foram desautorizados pela própria tropa? Primeiro têm que se organizar e acabar
com esses atos terroristas para que algum diálogo possa ser aberto”, disse
Júlio César Filho.
O deputado Tin Gomes
(PDT) propôs que Soldado Noelio (Pros) e Delegado Cavalcante (PSL), ambos
ligados ao movimento dos policiais, identificassem nomes que possam dialogar
com a Polícia Militar para abrir negociação. Além disso, disse para eles
aconselharem a corporação a “dar um passo atrás” e desistir da paralisação.
O deputado Renato Roseno
(Psol) tenta articular uma mediação junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
no Ceará, à Defensoria Pública e a representantes da Igreja. “O diálogo está
bloqueado. É preciso um gesto concreto agora para desbloquear”, disse.
O deputado Salmito Filho
(PDT) defendeu um acordo suprapartidário, liderado pelo Poder Legislativo, para
retomar a paz no Estado. “Peço a união suprapartidária dos 46 deputados desta
Casa para pedir oficialmente que todos os militares voltem às suas funções,
garantindo a segurança do povo, para que as negociações sejam reabertas”,
frisou o parlamentar.
O deputado Delegado
Cavalcante, por sua vez, criticou o que chamou de tentativa de “marginalizar a
Polícia”. “Se não querem mais diálogo com as associações (representantes da
categoria), se elas perderam a credibilidade da tropa, vão para a Igreja, tem
que ter um diálogo pra consertar isso, eles (a tropa) querem diálogo, eles não
está lá confortáveis”, afirmou.
O deputado Soldado
Noélio (Pros), um dos representantes da categoria, negou ter perdido a
representatividade junto à tropa e pontuou que as paralisações no Ceará
começaram como um movimento natural dos policiais.
“Houve sim negociação,
porém a categoria não aceitou os termos de acordo. O que está difícil de o
Governo entender? (...) Não se encontra solução fazendo quebra de braço, que é
o que o Governo está fazendo com a categoria”, afirmou. Ele pediu que o Poder
Executivo encaminhe um representante “para ir lá e perguntar à categoria o que
ela quer”.
Cid Gomes
O presidente da
Assembleia Legislativa, José Sarto (PDT), abriu a sessão plenária repercutindo
o agravamento da crise. Para o presidente, o senador Cid Gomes “foi vítima de
um ato covarde”. Ele criticou ainda a paralisação dos policiais: “a população
está observando quem está colocando seus interesses acima dos da população
cearense”.
Histórico opositor do
Governo Cid Gomes, Heitor Férrer pontuou que “em hipótese nenhuma defende greve
de Polícia” e condenou os disparos, mas afirmou que “o tiro está suavizando o
crime de Cid”. “O que o senador fez foi um ato tresloucado e criminoso”,
considerou.
CPI
A presidência da
Assembleia anunciou ontem que já protocolou na Procuradoria da Casa o pedido de
criação de uma CPI para investigar a arrecadação milionária das associações de
policiais e bombeiros. Até o momento, 31 deputados assinaram o pedido. Não há
prazo para ser anunciada a análise da Procuradoria.
Ontem, o vice-presidente
da Associação dos Praças do Estado do Ceará (Aspra-CE), sargento Wenderson
Borges, esteve na Assembleia para dialogar com alguns deputados. Ele foi também
oficializar a entrega da prestação de contas da associação e ressaltou o
trabalho de “bem-estar social” voltado à categoria.
“Nós não temos
preocupação nenhuma em relação a isso. O problema é que as associações estão
sendo atacadas por todos, por parte da imprensa, da Assembleia, do Ministério
Público, do Governo, do Judiciário e da tropa”, argumentou. Borges pontuou que
as associações têm sido criticadas pela ausência nos movimentos da categoria.
“Nenhum líder da categoria legitimado pelas associações ou mesmo com mandato
eletivo impulsionou o movimento. Não temos culpa”, disse.
Crise na segurança
domina discussões na Câmara
A sessão de ontem da
Câmara Municipal de Fortaleza também foi dominada pela crise na Segurança
Pública. Vereadores subiram à tribuna em sequência para comentar a paralisação
de alguns grupos de policiais militares e o episódio ocorrido em Sobral, na
quarta-feira (19), que terminou com o senador licenciado Cid Gomes (PDT)
baleado.
O vereador Sargento
Reginauro (Sem Partido), que é ex-presidente da Associação dos Profissionais da
Segurança (APS), cobrou punição a Cid por utilizar uma retroescavadeira para,
segundo ele, tentar entrar no Batalhão de Sobral, criticando o que chamou de “fazer
justiça com as próprias mãos”. Contudo, o vereador ressaltou que o responsável
pelos disparos deve ser punido pelo ato.
Outros parlamentares
tiveram falas contrárias à de Reginauro. Dr. Porto (PRTB) criticou a postura
“corporativista” do
parlamentar, além de defender Cid Gomes. “O ex-governador estava ali para
mostrar que está a favor da população”, disse.
“Há uma triste tentativa
de justificar o injustificável por parte do Sargento Reginauro”, contrapôs o
líder do Governo na Casa, Ésio Feitosa (PDT). Vereadores apontaram intenções
eleitoreiras por trás da movimentação de alguns grupos de policiais.
“Os homens que deveriam
estar proporcionando segurança, estão ameaçando. (...) E eu não vejo outro
motivo a não ser motivo eleitoreiro”, afirmou o presidente da Câmara, Antônio
Henrique (PDT).
A vereadora Larissa
Gaspar (PT) criticou intenções “eleitoreiras” na mobilização e disse ser
“inadmissível esse processo de ‘milicianização’ da Polícia, essa
instrumentalização de um poder que é delegado pelo Estado, para que esses
profissionais façam a defesa da vida, e, ao contrário disso, eles estejam
literalmente tocando o terror”.
Vereadores querem
acompanhar CPI
O vereador Renan Colares
(PDT) sugeriu ainda que a Câmara Municipal de Fortaleza acompanhe a tramitação
de uma proposta de CPI que quer investigar a arrecadação milionária das
associações de policiais e bombeiros na Assembleia Legislativa. O parlamentar
pediu que, caso a CPI seja instalada, um vereador da Mesa Diretora do
Legislativo Municipal acompanhe os trabalhos.
Deputados questionam
interesses em atos
Alguns deputados
questionaram se a mobilização de policiais militares, que fere a Constituição
Federal, não estaria sendo movida por “interesses eleitoreiros”. A ideia foi
defendida por Guilherme Landim, que acredita que as mobilizações foram
“arquitetadas” para as vésperas do Carnaval com a intenção de “criar o caos”.
Soldado Noélio defendeu os atos da categoria: “esse movimento começou
naturalmente pela própria categoria”.
Fonte: Diário do Nordeste
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