“Um
menino, desde cedo, sabe que ele é um ser de responsabilidade quando tem de
poupar. Os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo”, disse
o ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo
publicada na edição de domingo (3). Guedes é ministro em um país onde 16
milhões de famílias ganham em média R$ 1.232,17 (R$ 411 por pessoa) e 13
milhões, R$ 2.332,98 (R$ 778), segundo dados do IBGE. Para metade da população
brasileira, é preciso sobreviver com o equivalente a menos da metade de um
salário mínimo.
Guedes reclama que o trabalhador pobre gasta tudo o que ganha, enquanto
rico poupa. (FOTO/Valter Campanato/Agência Brasil).
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A repórter
que entrevistava Guedes até tentou argumentar, perguntando se uma pessoa pobre
consegue guardar dinheiro. “Ele já guarda e não sabe. O FGTS é um dinheiro
que tiram dele e fica depositado”, respondeu o ministro, para então ser
lembrado que a maioria dessas pessoas não tem emprego formal. Nem assim ele se
deu por vencido: “Mas terão com mudanças que teremos pela frente. O que
precisa ficar claro é que as coisas estão andando”.
Segundo a
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, em 2018 o rendimento total
das famílias foi, em média, de R$ 5.088,70, incluindo rendimento do trabalho,
transferências de renda e outras fontes de renda, ou algo em torno
de quase R$ 1.700 por pessoa. Mas a diferença vai dos R$ 411 já
citados a R$ 11.423 na última faixa.
Além disso,
quase um quarto das despesas das famílias mais pobres (23,8%) se destina ao
básico: alimentação. No caso da faixa de renda mais abonada, esse gasto cai
para 11%. De acordo com o instituto, famílias que ganham o equivalente a dois
mínimos gastam 61% com alimentação e transporte.
O ministro
entusiasta do modelo chileno de capitalização também não pode usar o mercado de
trabalho como argumentação: a informalidade está em nível recorde. O número de
empregados sem carteira assinada cresceu em 384 mil em 12 meses e chegou a 11,8
milhões em setembro, recorde na série histórica da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, também do IBGE. E os trabalhadores por
conta própria somam 24,4 milhões, outro recorde – são 1 milhão a mais em 12
meses.
Mais um dado
do instituto vai contra a crença de Guedes na capacidade de poupança do
brasileiro. Em 2018, o rendimento médio mensal do trabalho da população 1% mais
rica correspondeu a quase 34 vezes o recebido pela metade mais pobre. Enquanto
no primeiro caso a renda foi de R$ 27.744, no segundo o valor era de R$ 820.
Novamente, menos de um salário mínimo.
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Com
informações da RBA.
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