As indústrias
calçadistas chegaram ao Cariri na década de 70 e até hoje tem seu espaço na
região, mas apesar de ainda ser o maior polo do Nordeste, hoje as fábricas
locais enfrentam sérias dificuldades. Há alguns anos, os empresários vem
demitindo e fechando as portas. As fábricas que permanecem tentam se reinventar
e sobreviver diante da crise que afeta não só o Cariri, mas todo o cenário
comercial do Brasil.
Segundo dados do Centro
Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(FIEC), o município de Juazeiro do Norte, por exemplo, aumentou em 7,4% a
exportação (vendas para fora) de calçados este ano em relação ao mesmo período
do ano anterior, movimentando US$ 98,9 mil. Apesar do número parecer vantajoso,
as importações (compras de fora) somaram um total de US$ 631,7 mil, ou seja, um
déficit de US$ 532,8 mil.
Segundo Abelito Sampaio.
presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuário no Cariri
(Sindindústria), em número de pares, o Ceará é o primeiro no ranking nacional,
sendo também o que mais produz chinelos. Apesar disso, em faturamento, o
primeiro da lista é o Rio Grande do Sul, que faz calçados mais caros. No
ranking geral, o polo Cariri é o terceiro maior polo do Brasil.
Apesar da grandiosidade, um terço
das fábricas da ragião fecharam nos últimos anos. Segundo Abelito, eram
aproximadamente 300 fábricas há cinco anos, e hoje são apensas 200. Um mercado
que antes gerava 15 mil empregos, hoje sustenta, com dificuldade, 8 mil.
“A indústria dos calçados
continua estagnada, há picos de melhora, mas são momentos isolados”, diz
Abelito, e completa, “quando o mercado reage um pouco a gente se anima,
acredita”, conta, afirmando que apesar de a crise estar demorando muito a
passar, “o empresário é sempre otimista”.
O presidente do Sindindústria
ainda afirma que os empresários de calçados do Cariri estão evitando ao máximo
novas contratações, e que continuam “com o pé atrás”. A queda nos lucros está
entre 40 e 50 %.
Anderson Ferreira, gerente de
produção de uma fábrica de calçados no Cariri, afirma que há cinco anos a
indústria vem em declive. A produção caiu pela metade e os trabalhadores
contratados pela fábrica também. Antes eram em torno de 140, hoje são apenas
64. Já a produção era de 6 mil pares por dia, número que hoje não passa de 3,5
mil.
Numa queda em torno de 30% ao
ano, Anderson conta que a primeira reação da empresa foi cortar o quadro de
funcionários e mudar a forma de trabalhar, passando de representantes para
vendedores nos estados onde distribuem os calçados. O faturamento mensal, que
antes girava em torno de 600 mil, hoje caiu pela metade.
Anderson acredita que a queda não
se deu somente devido aos outros estados, que expandiram a produção no ramo,
como Nova Serrana, em Minas Gerais, mas também à crise que o Brasil enfrenta.
“Queremos nos mudar para um espaço maior, já estamos com o projeto pronto, mas
para isso tem de haver demanda” conta, confessando que a expectativa é de que,
a partir de junho, o comércio reaja novamente, “com o comércio melhorando,
podemos investir”, completa.
Após ter registrado crescimento
de 1,1%, em 2017, o setor calçadista brasileiro ficou relativamente estável em
2018, com expansão de apenas 0,1%. As exportações diminuíram 10,8% . Segundo o
relatório Setorial da Indústria de Calçados de 2019, produzido Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a parada “deu-se em
resposta ao mercado interno”. Em 2014 a produção que alcançava 1 bilhão de
pares passou para 944 milhões em 2018.
Em resposta à diminuição, a
produção em reais caiu ainda mais, 2,3% de 2017 para 2018, indicando que o
preço final do produto baixou, por enfrentar dificuldade no repasse dos custos
ao consumidor.
Quanto às perspectivas para 2019,
a Abicalçados espera um crescimento entre 1,1% e 3,4% em relação ao ano
anterior. Em reais, a projeção é de aumento entre 2,9% e 5,3%.
Fonte Badalo
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