A
futura ministra da Agricultura, deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS),
recebeu doação de campanha de um fazendeiro acusado de ser o mandante do
assassinato do líder indígena Marcos Veron.
O
cheque de R$ 30 mil, assinado por Jacintho Honório da Silva Filho, foi
registrado no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em 30 de setembro de 2014,
quando Tereza Cristina concorria a uma vaga na Câmara pelo PSB.
À
época, ele já era réu pelo crime, cometido em 2003. Veron, morto aos 73 anos,
era reconhecido como uma das principais lideranças da numerosa etnia
guarani-caiová, que luta há décadas por demarcação de terras em Mato Grosso do
Sul.
Para
o MPF, o fazendeiro é o mentor intelectual e financeiro dos crimes. Ele
responde por homicídio duplamente qualificado, tentativa de homicídio
qualificado, tortura, sequestro, formação de quadrilha armada e dano
qualificado.
O
caso aconteceu em 13 janeiro de 2003, no município de Juti (310 km ao sul de
Campo Grande). Homens supostamente pagos por Silva Filho atacaram um
acampamento montado dias antes por guarani-caiovás dentro da sua fazenda,
Brasília do Sul, área reivindicada pelos indígenas.
Veron
e outros seis guarani-caiovás foram sequestrados e levados na carroceria de uma
caminhonete, onde sofreram tortura, incluindo sua filha Geisebel, grávida de
sete meses.
O
líder indígena morreu por traumatismo craniano após ser espancado com socos e
coronhadas de espingarda.
Em
2010, três homens identificados como contratados pelo fazendeiro, Estevão
Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde, foram
condenados a 12 anos e 3 meses de prisão pelos crimes de sequestro, tortura e
formação de quadrilha, mas absolvidos do crime de homicídio. À época, o MPF
classificou a decisão de “vitória parcial”.
Outros
21 réus não foram julgados até hoje, incluindo o fazendeiro, um PM e Nivaldo
Alves de Oliveira, apontado como o capanga que teria espancado Veron e que se
entregou em 2015, após 12 anos foragido. Todos negam os crimes.
Em
um caso raro na Justiça, o julgamento foi transferido de Dourados (MS) para São
Paulo a pedido do MPF, sob a argumentação de que Silva Filho, já acusado de ser
o mandante, estava coagindo testemunhas. O fazendeiro até hoje não foi a
julgamento pelo crime cometido há 15 anos.
Em
resposta por escrito, Tereza Cristina afirmou que “a família de Jacintho
Honório da Silva Filho é amiga de longa data” e que a doação "é garantida
pela legislação vigente”.
"Cabe
esclarecer ainda que não há condenação. O fato de ser réu não quer dizer que
tenha cometido qualquer crime”, completou Tereza Cristina, que preside a Frente
Parlamentar Agropecuária (FPA), com 245 deputados e senadores.
Ataque
de fazendeiros
Em
2015, Tereza Cristina teve o seu nome envolvido com o ataque de
fazendeiros que culminou na morte do cacique Simião Vilhalva, 24, no
município de Antonio João, também no sul de Mato Grosso do Sul.
No
dia 29 de agosto daquele ano, ela e outros dois parlamentares participaram de
uma reunião no Sindicato Rural de Antônio João. Dali, saiu um comboio de
camionetes rumo ao acampamento dentro de uma área em disputa no município.
Os
integrantes do comboio atacaram os guarani-caiovás, que fugiram a pé. Durante a
confusão, Vilhalva foi morto com um tiro na cabeça.
A
reunião e o ataque estão sob investigação do Ministério Público Federal. O
procedimento corre em sigilo do Justiça.
Questionada
sobre a sua participação no encontro, a parlamentar disse que a sua posição foi
a de esperar a chegada da Força Nacional, da PM e do MPF "para que
fizessem a intermediação com os índios”.
"Nem
o produtor rural merece perder suas terras nem o índio merece viver uma vida
sem dignidade”, afirmou.
Fonte: Folha.com
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