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Jardim,CE: Tradição da Festa dos Karetas é mantida

Uma tradição cultural, que vem do século XIX, leva mais de cinco mil pessoas às ruas deste Município no Domingo de Páscoa, no encerramento da Festa dos Karetas, que acontece durante a Semana Santa, no Cariri. O fluxo de visitantes aumenta consideravelmente no dia de hoje, em que os homens, mulheres e crianças participam do evento e é comum encontrar máscaras, das mais diferentes formas, cores e gostos.

Os moradores não deixam cair o ritmo do que se tornou bastante forte na cultura local. A brincadeira começa ainda pela manhã. Nas feiras, abordando as pessoas nas ruas, eles levam a arte do brincar em pleno Domingo de Páscoa.

Malhação do Judas
Aberta com passeata do Pau do Judas pela cidade, na última quinta-feira, os caretas a partir das 15 horas de hoje, retornam para o cortejo final, a premiação da melhor máscara, a leitura do testamento e a malhação de Judas, no Estádio Municipal.

A escolha do personagem a ser malhado é um segredo desvendado praticamente na hora da explosão do boneco, mas o tema da festa traz a relevante mensagem: "Todos contra o Zika". Na Sexta-Feira da Paixão, foi realizado o hasteamento do mastro do Judas.

A preservação da festa fortemente acentuada da cultura dos caretas faz com que essa manifestação seja alvo de estudo pela academia. Ao longo dos anos, segundo o presidente da Associação Cultural dos Caretas de Jardim, Luiz Lemos, houve mudanças no contexto da festa eminentemente rural, para a cidade de mais de 200 anos de emancipação, uma das mais antigas do Cariri. Ele é artista plástico e acompanha todo o processo há vários anos. É um estudioso e mantenedor dessa tradição.

Lemos afirma que a urbanização e a popularização dos festejos contam como principais elementos dessa mudança. A festa era do início da colheita e o boneco, que mais parecia um espantalho, era crivado de balas. Hoje, o uso das armas foi substituído por explosivos.

As máscaras também contam com materiais bem diferentes das de antigamente, pois eram mais rústicas. Hoje há muito plástico e borracha. Tem aquelas de papelão, e, para chamar a atenção dos moradores, o uso do chocalho é indispensável.

A associação criada para dar força à manifestação tem sido importante no sentido de fortalecer a festa. Cursos de confecção de máscaras são oferecidos à população antes do início dos festejos. São cerca de 600 sócios. Mas pelo menos 200 a 300 desses "encaretados" estão na brincadeira durante o dia de hoje.

Segurança
A segurança tem sido um dos principais fatores de preocupação dos organizadores, tanto que os sócios e mascarados que estiverem nas ruas, devem portar uma carteira da associação. "Não que isso queira dizer que as pessoas que usam máscaras sejam perigosas, mas é uma maneira de garantirmos que as pessoas fiquem tranquilas durante o cortejo. É uma forma de mantermos o controle sabendo quem são as pessoas que estão nas ruas", afirma o presidente da entidade, Luiz Lemos.

Ele afirma que, mesmo com as brincadeiras, e alguns dos integrantes até exagerando um pouco na bebida, sempre foi uma festa sem registros de problemas relacionados à violência.

Um reforço policial foi solicitado na cidade para dar segurança à festa, incluído a equipe do Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio), Polícia Militar do Ceará (PM-CE), Guarda Municipal de Jardim e apoio do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran). Segundo Lemos, é dada uma prioridade a esse planejamento da segurança como forma de trazer a brincadeira e a alegria para o objetivo principal dessa manifestação popular.

Em outras cidades da região, como Barbalha e Crato, há malhação de Judas durante o dia de hoje, principalmente no fim da tarde, e tem caretas. Quem já foi criança nas ruas do Cariri, principalmente em áreas da zona rural, se assustou com um deles, carregando os seus chicotes e correndo atrás das pessoas.

A brincadeira de careta faz parte da tradição cristã, durante a Semana Santa, que simboliza a morte do apóstolo Judas, representado por um boneco feito de roupas velhas e com enchimentos, seja de serragem ou molambos. Quando ele passa ocorre o grande apogeu da festa, até o momento final, com o enforcamento e explosão do boneco.

Irreverência e criatividade se tornam elementos importantes para vivenciar a festa da malhação. Isolados, correndo atrás do povo, ou em turmas, as brincadeiras podem ser das mais exóticas aos pedidos mais simples, para quem puder atender com as esmolas. Jardim é uma cidade pacata e hospitaleira, cercada pelo verde da Chapada do Araripe. Nessa época do ano, se torna um atrativo por conta da festa.

Ritual
Os brincantes começam a se preparar para o ritual da malhação desde as primeiras horas da manhã deste domingo. A sexta-feira da Paixão é o único dia em que a programação é suspensa em virtude da data considerada sagrada para os católicos. A oficina de máscaras é uma forma de fortalecer e preservar a tradição, envolvendo as crianças e adolescentes, além de aprimorar a prática para a confecção de máscaras bem trabalhadas

O trabalho é acompanhado também por uma comissão organizadora, desde a retirada do pau do Judas, que acontece duas semanas antes. Os brincantes percorrem, além da cidade, áreas da zona rural. Os adereços das máscaras fazem a diferença. Lemos disse, também, que existem brincantes, nos sítios, que preferem os costumes mais antigo da festa quando se paramentam com 'melão e cabaça' e saem a pedir gêneros alimentícios nas casas, num ritual que relembra a colheita. Segundo ele, as manifestações folclóricas necessitam de um trabalho mais amplo de divulgação, diante da sua importância e das tradições. A festa vem sobrevivendo, mesmo com as ameaças da modernidade. O sentido da colheita e do espantalho mais tarde é que passou a ser substituído por Judas Iscariotes.

Os primeiros registros históricos da brincadeira em Jardim são do fim do século XIX. Os agricultores se reuniam e confeccionavam uma espécie de espantalho, a quem chamavam de "pai véi" ou "vosso pai" e, mascarados, com chocalhos e chicotes, percorriam vários sítios em busca de donativos para o Sítio do "Pai Véi", onde faziam uma grande festa e malhavam o espantalho. A festa se urbanizou e passou a utilizar o personagem da história bíblica.

Os caretas reuniam-se em suas localidades, preparavam seus trajes confeccionados de materiais exóticos, utilizando máscaras de cabaças, peles de animais, palha de milho, chicotes para se defenderem dos ataques dos cães e chocalhos para chamar a atenção. A urbanização da festa, conforme Lemos, foi responsável por mudanças e inovações, unindo o sagrado e o profano. "Era o início de uma ascensão cultural, cuja relevância se revelava pela beleza prodigiosa de uma manifestação puramente popular", afirma.

Ritual de organização leva vários dias
Um dos mais importantes rituais da tradição dos caretas é a retirada da árvore, o chamado Pau-do-Judas. De acordo com Luiz Lemos, nesta ocasião é possível perceber o amor e a satisfação pela tradição, explicitamente expressados por dezenas de homens que derramam o seu suor levando nos ombros um mastro de aproximadamente 20 metros de altura com mais de duas toneladas.

Quando a Semana Santa se aproxima, os organizadores da festa abrigam-se no seu novo lar. A conhecida "Casa do Judas", hoje também serve de espaço cultural, com exposições de máscaras e fotografias. Numa sala reservada e com absoluto sigilo, o artista plástico jardinense Luiz Lemos prepara um dos mais importantes personagens da festa. É o tão esperado Judas Iscariotes, que só vai ao público na Sexta-Feira da Paixão, em passeata pelas principais ruas da cidade, ao som dos badalados chocalhos dos caretas.

No sábado de Aleluia, no pátio da festa, os caretas esperam ansiosos pelo tradicional "Forró dos Caretas" com aquele animado forrozinho pé-de-serra, seguindo com shows musicais e artistas da terra e de várias regiões. No domingo, milhares de pessoas se dirigem para o pátio do evento para o grande cortejo pelas principais ruas da cidade. Em seguida acontece a premiação do festival de máscaras, o esperado testamento em que o Judas destina seus bens para os privilegiados herdeiros, seguindo da tradicional malhação do Judas. No fim, o boneco explode.

Mais informações
Associação Cultural dos Karetas De Jardim
Rua Padre Miguel Coelho, 43
Centro - Jardim
Telefone (88) 3555-1352

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

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