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Em dia decisivo, PMDB anuncia saída do governo

Foto: Agência Brasil 
Partido tradicionalmente agarrado ao poder, o PMDB deve oficializar hoje algo a que não está habituado, a saída de um governo - no caso, o de Dilma Rousseff. Por aclamação, o diretório nacional do partido aprovará a entrega de cerca de 600 cargos federais. Figura próxima do vice-presidente Michel Temer, Henrique Eduardo Alves puxou, na noite de ontem, a debandada, pedindo demissão do cargo de ministro do Turismo. A reunião que selará o fim da aliança entre a sigla e a gestão de Dilma será aberta à imprensa, com possibilidade de transmissão ao vivo por canais de televisão e contará até com link no site da TV Câmara, a partir das 15h.

Alves foi o primeiro dos sete integrantes do partido a deixar o primeiro escalão do governo da petista. Em carta à Dilma, ele citou o vice e disse que "o momento nacional coloca agora o PMDB, meu partido há 46 anos, diante do desafio de escolher o seu caminho, sob a presidência de meu companheiro de tantas lutas, Michel Temer".
A debandada do PMDB é vista como determinante para o desfecho da crise que abalou o governo e ocorre mesmo após Dilma e o ex-presidente Lula terem se empenhado para contê-la. Foi Temer quem comunicou a Lula, no domingo, que o desembarque é irreversível.
Apesar do aviso, o governo passou o dia fazendo uma última para minimizar a ruptura. Dilma reuniu os ministros peemedebistas no Planalto e acenou com a distribuição de cargos. No encontro, ficou definido que o governo trabalharia a estratégia de tentar esvaziar a reunião do diretório nacional. O objetivo seria deslegitimar a reunião com a ausência de caciques de peso, como o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (AL).
Além disso, o propósito é tentar passar a mensagem que o governo ainda conta com respaldo de uma ala importante do partido. Na reunião, os ministros peemedebistas se comprometeram a não comparecer ao evento e a conversar com as bancadas federais na tentativa de evitar presenças de deputados, senadores e dirigentes estaduais e municipais da legenda.
Entrega de cargos
Os peemedebistas, porém, também sinalizaram à Dilma que será muito difícil permanecer no governo caso o partido aprove a saída da base aliada. Seis dos sete representantes da legenda na Esplanada estiveram no encontro - segundo a assessoria da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, ela não compareceu por causa da morte de uma amiga.
Dois ministros ouvidos pela reportagem afirmaram que vão anunciar uma decisão conjunta depois que a definição do partido for formalizada. Mesmo aqueles que resistem à ideia de abandonar o cargo reconheceram que ficar no governo será difícil se o PMDB optar por deixar a base aliada.
Um deles classificou como "banho de água fria" a decisão da bancada do partido no Rio de abandonar Dilma, anunciada na semana passada. Por se tratar de um dos grupos mais fortes da legenda e até então o mais próximo da presidente, a ala carioca da sigla era considerada a última esperança do Planalto.
Antes da reunião com a presidente, o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) teve um encontro com Temer. Ele tentou, num último apelo, convencer o vice a adiar a reunião do diretório nacional do PMDB. Segundo um aliado do peemedebista, a legenda vai dar um prazo maior, provavelmente até o dia 12 de abril, para que os ministros consigam se organizar e entregar seus cargos.
Além de Braga, compareceram ao encontro com Dilma Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Helder Barbalho (Portos), Mauro Lopes (Aviação Civil) e Henrique Eduardo Alves (Turismo).
Estratégia do Planalto
Diante da certeza de um desembarque, o governo federal vai oferecer a partidos como PP, PR e PSD cargos hoje em poder dos peemedebistas e a promessa de terem papel de "protagonistas" caso a petista sobreviva ao impeachment. Nas contas de assessores de Dilma, até 500 cargos podem entrar nas negociações.
Hoje, o cálculo do Planalto é de que o governo não tem os 171 nomes necessários para barrar o processo de impeachment na Câmara e que seria muito difícil paralisá-lo no Senado. Para auxiliares palacianos, a permanência de Dilma na Presidência vai depender dos acordos que serão fechados nos próximos 15 dias.
Unanimidade
Michel Temer anunciou que não presidirá a reunião do diretório nacional da legenda hoje. Segundo interlocutores, ele decidiu não ficar à frente do encontro para se preservar e não passar a imagem de que comandou o rompimento. Ontem, o vice-presidente rebateu ataques de aliados e militantes do PT que criticam o fim da aliança entre o seu partido e o Planalto e o acusam de participar de "golpe". Ele afirmou, em nota, que "não patrocina nenhuma ação ilegítima e age estritamente dentro da lei".
No Senado, o líder do governo na Casa, Humberto Costa (PT-PE), fez ameaça explícita a Temer, ao dizer que ele será "o próximo a cair" caso o afastamento de Dilma seja aprovado. Hoje, a reunião do PMDB será presidida pelo senador Romero Jucá (RO).
O ex-ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, por sua vez, afirmou que o PMDB está "muito próximo" de conseguir a unanimidade em favor do rompimento. Ontem, a agenda das lideranças peemedebistas em Brasília girou em torno da meta de conseguir unanimidade para selar o fim da aliança com o governo.
À noite, Temer recebeu, em jantar, o líder do partido no Senado, Eunicio Oliveira (CE), o vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), e o presidente da fundação, Ulysses Guimarães, Moreira Franco, para tentar o apoio dos senadores à decisão majoritária de rompimento.
PSDB X PFL
Esta não será a primeira vez, desde a redemocratização, que um importante aliado do governo vai abandonar o barco. Em 2002, o PFL (atual DEM) desembarcou do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A crise entre o PSDB e o PFL, aliado de FHC desde as eleições de 1994, se deu por impasse em relação a quem seria o candidato do governo à Presidência. O partido de FHC defendia o nome de José Serra; já o PFL queria como postulante a então governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

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