OInstituto Adolfo Lutz confirmou nesta terça-feira (13) que febre maculosa foi a causa da morte do piloto de automobilismo e empresário Douglas Pereira Costa, 42, morador de Jundiaí (58 km de SP), e de uma mulher de 28 anos, moradora em Hortolândia (109 km de SP).
A doença infecciosa é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida por meio da picada de uma das espécies de carrapato.
O casal Douglas e Mariana morreu no mesmo dia. | Reprodução/Instagram
A informação
foi divulgada pela Vigilância Epidemiológica de Jundiaí, que disse ter recebido
a confirmação do diagnóstico do instituto ligado ao Governo de São Paulo, no
caso do piloto, e da Secretaria Estadual da Saúde.
Na
noite desta segunda (12), o órgão estadual já havia confirmado a mesma causa
para a morte da namorada de
Costa, a dentista Mariana Gioardano, 36.
Os três
morreram no mesmo dia, na quinta-feira passada (8), e estiveram um evento na
Fazenda Santa Margarida, em Joaquim Egídio, bairro de Campinas e local provável
da infecção.
As suspeitas
iniciais eram de febre maculosa, dengue ou leptospirose.
O restaurante
Seo Rosa, responsável pelo evento na fazenda em Campinas, afirmou que soube da
"fatalidade", mas que "não está confirmado que pegaram o
carrapato no local".
A febre
maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria do gênero Rickettsia,
transmitida por meio da picada de uma das espécies de carrapato -ou seja, não é
transmitida diretamente de pessoa para pessoa e seus sintomas podem ser
facilmente confundidos com outras doenças que causam febre alta, diz a
Secretaria de Estado da Saúde, em nota.
A doença tem
como principais sintomas febre, dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos,
diarreia, dor abdominal e muscular, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e
nas solas dos pés, gangrena nos dedos e orelhas e paralisia dos membros. Pode
ser leve ou grave, com alta taxa de letalidade.
No Brasil, o principal
vetor é o carrapato-estrela, mas qualquer espécie pode abrigar a bactéria
causadora da febre maculosa, como o carrapato do cachorro, segundo o Ministério
da Saúde.
A febre
maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos
adequados.
Ainda segundo
a Secretaria da Saúde, com a confirmação da nova vítima, São Paulo conta com
cinco mortes provocadas por febre maculosa -de um total de nove casos
registrados, todos no interior.
De acordo com
a pasta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), na capital paulista e na
região metropolitana de São Paulo há pouquíssimos registros da doença, dada a
urbanização da área.
No interior
do estado, diz o órgão, a doença passou a ser detectada a partir da década de
1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba e Assis, e nas áreas mais periféricas
da região metropolitana de São Paulo e no litoral, mas em uma versão mais
branda.
"Os
municípios de Campinas e Piracicaba são, hoje, os dois que apresentam o maior
número de casos registrados da doença", afirma.
Em nota, a
Prefeitura de Campinas diz que, imediatamente após ser notificado dos casos,
nesta segunda, o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) desencadeou uma
série de ações de prevenção, informação e mobilização contra a febre maculosa
na Fazenda Santa Margarida. O distrito de Joaquim Egídio é mapeado como área de
risco para a doença.
Os
responsáveis pela fazenda foram notificados sobre a importância da sinalização
quanto aos riscos. Essa informação é imprescindível para que as pessoas adotem
comportamentos seguros ao frequentar esses espaços e também para que, após a
visita, caso apresentem sinais e sintomas, informe o médico e facilite o
diagnóstico. Nos próximos dias, técnicos do Devisa farão uma pesquisa para
verificar como está a infestação de carrapatos (pesquisa acarológica) no
espaço.
A prefeitura
diz ainda que reforçou as ações de comunicação, informação e mobilização contra
a febre maculosa nos parques da cidade.
O
QUE É FEBRE MACULOSA?
Doença
infecciosa febril aguda transmitida por carrapatos infectados pela bactéria
Rickettsia rickettsii, presente principalmente no carrapato-estrela. Os
carrapatos que transmitem a Rickettsia são chamados de Amblyomma cajennense e
são encontrados em todo o território nacional. Para que haja a transmissão, o
carrapato precisa ficar fixado à pele por pelo menos quatro horas. Não há
transmissão de pessoa para pessoa.
Segundo o
Ministério da Saúde, no Brasil, duas espécies da Rickettsia estão associadas a
quadros de febre maculosa: rickettsii, considerada a doença grave, registrada
no norte do estado do Paraná e nos estados da Região Sudeste; e a parkeri, que
tem sido registrada em ambientes de Mata Atlântica (Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Bahia e Ceará), ligada a quadros clínicos menos graves.
QUAIS
OS SINTOMAS?
Os sintomas
são, de início, súbitos: febre alta, dor no corpo, na cabeça, prostração, perda
do apetite, náuseas, vômitos e aparecimento de manchas avermelhadas
principalmente nas mãos e nos pés, do segundo ao quinto dia, que podem evoluir
para petéquias (pequenos pontos avermelhados na pele que lembram picada de
mosquito) e equimose (manchas roxas). A doença tem formas leves e graves,
incluindo a hemorrágica, com evolução para morte. A taxa de letalidade pode ser
superior a 50%.
TRATAMENTO
São
administrados antibióticos -Tetraciclina e cloranfenicol- que evitam a
proliferação de bactérias, contendo o agravamento da doença. A uso da medicação
já deve ser feito mesmo antes da confirmação do resultado.
EM
QUANTO TEMPO O QUADRO DO PACIENTE EVOLUI PARA A MORTE?
O indivíduo
pode evoluir para morte entre o 5º e o 15º dia após o início dos sintomas.
Dependerá da agilidade no diagnóstico e início do tratamento. A febre maculosa
é de difícil diagnóstico por apresentar sintomas inespecíficos e que se
confundem com outras doenças, como leptospirose, zika, dengue e meningite,
entre outras.
QUALQUER
CARRAPATO PODE TRANSMITIR A FEBRE MACULOSA?
Os principais
carrapatos que transmitem a febre maculosa no Brasil são três: Amblyomma
cajennense, Amblyomma cooperi (dubitatum) e Amblyomma aureolatum (carrapato
amarelo do cão).
No interior
de São Paulo, a febre maculosa está associada ao carrapato-estrela que, em
geral, ocorre em áreas de mata silvestre e beira de rios. Em geral, homens
adultos são mais acometidos, por trabalharem nessas regiões. As ninfas (formas
imaturas do carrapato) são os principais estágios evolutivos envolvidos na
transmissão e predominam nos meses mais frios.
COMO
EVITAR A PICADA DO CARRAPATO?
Quem circula
por áreas endêmicas deve usar botas, calças e blusas com manga comprida,
cobrindo todo o corpo. É importante evitar locais com mato alto.
HÁ
RISCO DE INFECÇÃO EM ÁREAS URBANAS?
Sim. O
Amblyomma aureolatum encontrado nos cães estão envolvidos na transmissão da
doença nas regiões metropolitanas, principalmente nas cidades do Sudeste e Sul
do país, onde ocorre o maior número de casos.
QUAIS
AS ÁREAS ENDÊMICAS EM SÃO PAULO?
Jundiaí, Campinas
e Piracicaba, em especial.
Fontes: Tania
Chaves, infectologista, professora da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Pará, e Marcelo Simão, infectologista, professor da Universidade
Federal de Uberlândia (MG). Os dois são consultores da Sociedade Brasileira de
Infectologia.
Autor:Patrícia Pasquini/Folhapress
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